domingo, 23 de janeiro de 2011

M E I O


O que eu grito, é a metade do silêncio,


como a partida, é a metade da saudade.


O que ouço, é a metade do que falam.


O que eu penso. é a metade do que me aliena..


O que sei é a metade que do que fui.


Sou metade abrigo, metade cansaço,


Metade encontro,metade partida.


Metade chegada, metade despedida.




Ultrapassei os limites da sanidade,

mas não tenha receio,a outra metade é normal.

As minhas metades me completam, me fazem inteiro.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

VAI QUEM QUER, AZAR OU SORTE DE QUE FOR!

Dentre tantos olhares, que vi em imagens pela T.V;.do alto do carro de som na Lavagem da Sapucaí, o mundo parou: a imagem que vale mais que mil palavras, uma senhora passava a mão no rosto para escorrer as lágrimas que escorria de seus olhos, olhava o céu negro e o cimento cinza do chão. Parecia muito emocionada, a mágica daquele momento, que nunca mais se reproduzirá, tocou-lhe o coração. Muito feliz? Demasiadamente triste? Problema na família? Paixão? Desejo? Desespero? Não saberei, ela sabia que vivia no único país do mundo onde tudo aquilo que ela experimentava podia acontecer junto, na loucura paradoxal que a Escola de Samba é! Vestida de baiana, a senhora estava com as vestes brancas embabadadas das filhas ou mães de santo. Tinha flores nas mãos. Estava na procissão negra dos Orixás, tocavam os tambores que vieram com os navios negreiros, fogos explodiam, muita fumaça de defumação; e o que cantavam aos gritos, pulmões abertos? "Entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura, sara todas as feridas, me ensina a ter santidade, faz um milagre em mim", sucesso gospel brasileiro. Antes tínham rezado o "pai nosso que está no céu" do Cristianismo. Portanto tantas possibilidades de fé encheram de emoção aquela sambista e ela chorou, agradecida. Claro que é uma hipótese, mas acho que tudo tem tudo a vê, numa só cerimônia. Talvez este conceito de Deus, de vários credos, quando invocados em conjunto se transformem numa só energia, calcinante e apaziguadora ao mesmo tempo.
Minutos antes, ela amarrava as ervas nas vassouras que as baianas do Abarajé iriam usar para varrer os maus presságios, a drag-queen gritou: "mas se não tiver banheiro gay eu vou ajeitar minha peruca onde?" Ela tocou na especificidade do carnaval que são as bichas do samba, que não podem usar o banheiro hetero por decisão própria, pois querem conforto e limpeza. Claro que podem ir onde quiserem, mas ssão elas(eles) que não querem ir, ninguém pode obrigar a nada. É muito brilho, muito vestido longo, salto agulha, plumas, que não podem arrastar na lama do banheiro hétero, que quase sempre são sujos

Tem coisas mesmo, que só acontece no país do carnaval! Tipo vai quem quer, azar ou sorte de quem for....


Nós gostamos tanto de religião que uma só é pouco. Ou seja, na hora de rezar, todo santo ajuda. Para desespero de xiitas de todas as religiões, nós soubemos adaptar diferentes formas de falar com Deus. Nos nossos altares, sempre cabe mais um.
Esta relação foi, nos últimos tempos, abalada pelo radicalismo de algumas denominações evangélicas. Manifestações tão familiares como a veneração de imagens em igrejas católicas ou as incorporações de entidades em cultos afro-brasileiros passaram a ser classificadas como expressões do demônio.

Todo mundo tem o direito de achar o que bem entender. O problema é que alguns mais exaltados, para propagar suas verdades, passaram a ofender e até a agredir os que com eles não compartilhavam da mesma crença, gestos incompatíveis com a nossa tradição de respeitar os deuses alheios e até mesmo de tirar uma casquinha deles. Nenhuma fé é melhor que a outra; nem a ausência de fé pode ser julgada. Todos somos livres para acreditar e também para não crer.

De uns tempos pra cá, notícias sobre ataques a terreiros se tornaram mais ou menos comuns, passeatas em defesa da liberdade religiosa precisaram ser organizadas. Sobrou até para o samba: alguns Sambistas andaram se queixando que, por influência de pastores, muita gente decidiu se afastar das quadras, o gênero musical passou a ser visto como uma extensão das religiões de matriz africana.
Isso tudo justifica minha alegria. Num Sambódromo lotado, mulheres com roupas usadas em cultos de umbanda ou candomblé engrossaram, emocionadas, o coro de ‘Faz um milagre em mim’, sucesso do evangélico Regis Danese, membro da Assembleia de Deus. Foi de arrepiar ver a canção Gospel sendo levada em ritmo de samba, acompanhada por vários percussionistas e pelo público. Aquele cortejo resgatou uma das nossas melhores características, como o respeito, a compreensão, a capacidade de absorver influências, a rejeição ao preconceito. A tolerância, assim como o samba, é nosso dom.

A pista de tantos desfiles foi lavada pela esperança e pelo desejo de uma convivência pacífica e agregadora.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Má Vontade e Preconceito

Me senti desembarcado de Marte na noite anterior e me perguntei “de que país a Veja está falando?”. Como um brasileiro e não integrar aquela ínfima minoria de 4% que avalia o Governo Lula como ruim ou péssimo, enxergei-me um completo idiota, pois pensava que o Governo Lula fora ótimo, bom ou regular. Se isso não se aplica a todas as “matérias” e artigos da dita retrospectiva, quero deter-me especialmente às páginas não-numeradas e não-assinadas, sob o título “Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo”. Ali, dentre outras raivosas adjetivações (e sem apontar quaisquer fatos), o Governo Lula é apontado como “o mais corrupto da República”.

Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia, um deles, aliás, objeto de matéria nesta mesma edição de Veja, à página 81? Ou será por ser este o primeiro Governo que fortaleceu a Controladoria-Geral da União e deu-lhe liberdade para investigar as fraudes que ocorriam desde sempre, desbaratando esquemas mafiosos que operavam desde os anos 90, (como as Sanguessugas, os Vampiros, os Gafanhotos, os Gabirus e tantos mais), e, em parceria com a PF e o Ministério Público, propiciar os inquéritos e as ações judiciais que hoje já se contam pelos milhares? Ou por ter indicado para dirigir o Ministério Público Federal o nome escolhido em primeiro lugar pelos membros da categoria, de modo a ter a mais ampla autonomia de atuação, inclusive contra o próprio Governo, quando fosse o caso? Ou já foram esquecidos os tempos do “Engavetador-Geral da República”?

Ou talvez tenha sido por haver criado um Sistema de Corregedorias que já expulsou do serviço público mais de 2.800 agentes públicos de todos os níveis, incluindo altos funcionários como procuradores federais e auditores fiscais, além de diretores e superintendentes de estatais (como os Correios e a Infraero). Ou talvez este seja o governo mais corrupto por haver aberto as contas públicas a toda a população, no Portal da Transparência, que exibe hoje as despesas realizadas até a noite de ontem, em tal nível de abertura que se tornou referência mundial reconhecida pela ONU, OCDE e demais organismos internacionais.

Poderia estender-me indefinidamente, enumerando os avanços concretos verificados no enfrentamento da corrupção, que é tão antiga no Brasil quanto no resto do mundo, sendo que a diferença que marcou este governo foi passar a investigá-la e revelá-la, ao invés de varrê-la para debaixo do tapete, como sempre se fez por aqui.

Desta vez a “grande” revista conseguiu superar-se como confirmação final de que a cegueira, a má vontade, e o preconceito aonde conduzem!

domingo, 2 de janeiro de 2011

Priscila II

Priscila pula do chão para a cadeira. Pula para a mesa. Pula para o colo.
Pula!

Pula porque está feliz.
Escuto seus sussurros e passos quando vêm pra mim.
Faço-me cumplice de seus silêncios.
As felinas não tem projetos nem sonha...

Ela é altiva, independente, caprichosa, vagamente indolente e sonâmbula... E tudo o resto que posso imaginar.
É importante não esquecer duas características importantes: olhar intenso e incorruptível.
Há a idéia da gata domesticada, afável, que salta para o nosso colo e ali fica, a ronronar, como se tivesse um motor de fraca potência...

Tem sete vidas. Morrerão todas ao mesmo tempo.


Quando chego mia, cultivando uma afabilidade inaudita e esfrega-se na minha canela.

Gosto de passar as mãos em seus pelos, e ela gosta de ser alisada.

Fita cada um dos meus gestos, com os olhos muito atento tentando entender, absolutamente parada, a cabeça tensa, as orelhas espetadas como se pudesse ouvir cada palavra que eu escrevo; que coisa veria, que sentido a prenderia?

Os homens mais velhos e as gatas mais novas, com sua feliminidade, não se interessam por coisas fúteis.