quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A fertilidade das cinzas

A capacidade de superar obstáculos e de renascer está tão enraizada em nos Brasileiros, como a beleza de nossa arte. Assim como os poetas do samba transformam tristeza em canções do mais puro encantamento, os trabalhadores e artistas que desfilam sua arte na Marquês de Sapucaí, sempre e apesar das s catástrofes da vida, fazem emergir uma energia de transformação que recria conceitos e fortalece ainda mais a nossa maior festa. Nossos olhos espantados se voltaram para a Cidade do Samba na última segunda-feira, certamente inundados de lágrimas, com o inacreditável incêndio que destruiu fantasias e alegorias de três escolas de samba — Grande Rio, Portela e União da Ilha — e do Barracão Cultural, onde funcionam os projetos sociais que formam artesãos para os bastidores desta grande festa popular. As labaredas espalharam pelo céu da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro mais do que fumaça. Espalharam a mensagem de destruição, não apenas de alegorias, fantasias e adereços, mas também de sonhos contidos nos projetos carnavalescos, mas também nos projetos de vida de milhares de artistas anônimos.
Nos bastidores da folia, milhares de pessoas, encontram trabalho que os resgatam das margens da sociedade e lançam sobre eles os holofotes da oportunidade e da autoestima(sem o seu trabalho, o homem não tem honra). O Carnaval vai muito além da Passarela do Samba, ou melhor, Curral do Samba. Ao longo de todo o ano, carnavalescos e compositores constroem a parte mais visível do espetáculo.
Ao mesmo tempo, um batalhão de anônimos trabalhadores costura tecido por tecido, cola pedrinha por pedrinha, esculpe e pinta cada detalhe de fantasia que brilhará na Sapucaí, dando vida à criação desses artistas, muitas vidas reencontram novos rumos a partir do samba e do Carnaval. Impossível não lembrar do mito grego da Fênix, que ao morrer é consumida pelo fogo, para renascer das cinzas. “Desde que o samba é samba é assim”, desde Tia Ciata é assim.
Superar a dor e transformá-la em alegria. Isso é uma das maiores lições do Carnaval. Tudo depende, é claro, da forma como vemos as coisas.
Quem não se lembra de histórias de Carnaval, no fim do desfile, componentes saindo com os pés todos machucados? Do incêndio do carro da Viradouro, com os foliões cantando para que a escola não perdesse pontos? Do tocador de surdo das baterias saírem com as mãos enfaixadas, das baianas superando o peso da idade e carregando as fantasias com leveza?!.
No ano da inauguração do Sambódromo(1984) a Mangueira no Desfile das Campeãs, foi até a Praça da Apoteose e dali voltou com todos os seus foliões cantando e dançando e aquela cena me marcou.
Quero poder me lembrar desses dias e ver que vi tanta coisa bonita e tirei lições para a minha vida. Através dessa festa pude perceber o quanto somos capazes de superar obstáculos, somos um povo nariz de Batata sim, temos misérias, corrupção também, mas somos um povo sem medo de ser feliz!
Com nosso jeito único de viver com arte, tenho certeza que será criado novos enredos de superação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário