sexta-feira, 29 de julho de 2011

I N T O L E R Â N C I A

Duas orelhas arrancadas: a do líder na floresta (levada pelo pistoleiro como prova do assassinato há meses atrás), e agora a orelha do pai parecido com gay. Já estou esperando olhos e línguas retiradas na marra. Meu Brasil brasileiro, capaz de produzir três pérolas da loucura humana muderna: "tocamos fogo no índio Galdino porque pensamos que ele fosse um mendigo; foi brincadeira..."; "jogamos ovo nela porque ela é só uma puta de beira de avenida da Barra da Tijuca"; "batemos neles porque pensamos que eram gays". Não é só ódio aos gays, é a desaprovação do que pode parecer diferente. Uma sociedade que não admite direitos civis para os homossexuais, permitirá o espancamento do abraço "aveadado". Tudo começa quando criança ouvíamos que não é normal ser assim. Semente que vai crescendo no coração dos desajuizados (que palavrabonita, Juízo) até ser a árvore de vontade de arrancar um pedaço da carne.
O pai atacado faz fretes, vende sapatos na terra caipira, gosta de música sertaneja e tem 4 filhos adolescentes. O cara gosta de abraçar os filhos rapazes. Aperta-os contra o peito e afaga os cabelos, beijando-lhes a fronte. Um pai na grandeza da denominação, que ama, protege, ensina afeto. É quando um pé voa na feira agropecuária rumo as costas dele e o joga desacordado no chão. O homem-fera avança com a mandíbula rumo à orelha do "viado", arrancando um pedaço de carne. "Viado, viado, viado", gritos caninos entre baba, sangue, grama, lama, ódio. Os espancadores representam o pensamento do desamor, da condenação do afeto. Melhor espancar que amar um do mesmo sexo. A barraqueira do churraquinho espera os agressores irem embora, a multidão vai abrindo caminho, incapaz de frear os vampiros. "Arrancaram um pedaço da sua orelha, meu Deus. Mas prá que que vocês foram se abraçar?" Estamos todos perdidos entre perguntas do que pode e do que não pode, pois a violência retirou de nós o poder de ser aquilo que somos: humanos. Desde quando vestido curto justifica estupro? Quem disse que criança agitada tem que ser tratada com perna amarrada no pé da cama?
Neste exercício de "pensar" ,verbo que pode significar o oposto ao desprezo à vida do semelhante que em algo, a nós não se assemelha. Gordo, cadeirante, imigrantes/migrantes, todos merecem a dor humilhante, como mereceram negros, mulheres, judeus. imensa e Interminável lista histórica da intolerância.
Vamos ter que nos unir contra o desprezo ao diferente. O desvio não poderá ser explicação para o atentado à vida. Que mal pode haver num homem abraçando o outro?

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