segunda-feira, 12 de setembro de 2011

É cedo demais para os sonhadores.

Tenho mania de inverter a ordem das coisas e sei que o teu sorriso em branco e preto jamais voltará a ter as cores que eu enxerguei. Você é meu ciclo. Minha inércia. Minha agonia. Você é parte de mim. E está em tudo.
Você está nas rugas que surgem a cada dia e na profundidade das olheiras que emolduram meus olhos. Está no desenho abstrato que eu faço na janela embaçada do carro e também na luz que vem na contramão. Está na primeira estrela que imaginei nascendo no céu da minha boca e no pedido que ela recebe. Principalmente no pedido.
Você está nestas palavras que sussurro, no meio da madrugada. É que quero que você acorde, mas você está hibernando há quilômetros de distância e não há nada que eu possa fazer. Mesmo assim, deixo um bilhete para quando você acordar. Se você acordar algum dia.
Só não quero mais passar as noites procurando pelas tuas mãos embaixo do meu travesseiro. Não enquanto elas não estiverem lá. Não enquanto você não quiser que elas estejam. Não enquanto você ignorar o quanto eu quero.
Mas não importa. Foge do meu controle.


Queria que você pudesse ver os lugares por aonde tenho andado. Tão cheios de cores. Tão cheios de sol. Tão diferentes de mim. Ainda.
Não vai demorar muito. Aprendi com as reticências a me deixar levar. Se tropeço em pés sem corpos é por pura distração. É que ainda estou tateando no escuro pela parte de você que me cabe. Mesmo depois da vírgula que dorme com a gente embaixo das cobertas.
Nesta vida, em que toda fantasia é metade, meus sonhos despertam comigo todas as manhãs. Desculpe-me se é cedo demais para os sonhadores.

domingo, 4 de setembro de 2011

REVISTAS E TV.

Não sou moralista, porque todo mundo gosta de sexo e, quando ele é bom,a pele fica uma beleza. Mas os canais de TV e as revistas em geral,estão exagerando.
A performance sexual virou uma obsessão? ‘Segredos para dominar na cama’, ‘Guia
da disfunção erétil’, ‘Transforme seu quarto em alcova’,‘Dicas para não dormir sozinho’ são alguns dos títulos que vejo na banca, em letras garrafais. A julgar pela sofisticação desses ‘segredos’ e ‘dicas’, o velho Kama Sutra parece conto de fadas, de tão inocente.
Uma leitora perguntou num desses consultórios de revistas, preocupadíssima, por que não onsegue mais atrair o marido, já que a frequência com que faziam sexo tinha diminuído de sete vezes por semana para cinco.
O médico escreveu que não havia o menor problema nisso, que o casal até era bem sadio e ativo para os padrões mundiais, mas diante do tom da pergunta, não acredito que ela tenha ficada satisfeita.
Outra reportagem aconselhava as leitoras a viverem em eterna festa.Nada de‘roupas de casa’;dentro de casa,os cabelos devem estar permanentemente penteados e brilhosos,
os vestidos, deslumbrantes, a maquiagem, sempre em dia e, de preferência, que tal ele nunca desconfiar de que ela vai ao banheiro?Talvez a autora desconheça a como é bom de vez em quando ficar com um moletonzinho sem sal, namorar nas almofadas vendo TV, tomando sorvete.

Foi-se o tempo em que as revistas femininas ensinavam a fazer receitas, a remendar uma calça
e a se atualizar sobre as últimas novidades dos produtos de limpeza—se a mulher sabe hoje realizar essas verdadeiras proezas, é para uso próprio e olhe lá. Mas outro dia um amigo me contou, todo orgulhoso, que sua mulher pregou um botão de uma camisa sua que foi uma beleza, que ele quase desmaiou de emoção porque desconhecia essa habilidade dela e, completou exagerado, que sentiu
tanto prazer quanto numa noite de sexo selvagem “Mas é a primeira e última vez, hein”, avisou ela.

Ex-escravas do lar,as mulheres tomaram ojerizaàs prendas domésticas.
O maior instrumento de libertação feminina não foi a pílula anticoncepcional, mas o micro-ondas e o delivery de comida por telefone. Folheando as páginas de estética e sexualidade das revistas, agente vê que a escravidão só trocou de senhor, e saiu da cozinha para o quarto. “Seja uma esposa diferente a cada dia da semana”,ensina uma revista—imagine a trabalheira.
A mulher que se recusa a passar uma aguinha num prato de vez em quando, a preparar o prato preferido dele e a dar uma revisada no armário do marido para ver se está tudo nos conformes age, inconscientemente, em honra da memória daquelas que não podiam votar, casar-se com o homem de sua escolha, divorciar-se quando o amor acabasse e usar uma sainha mais curtinha se lhe desse na telha.Enfim, dão um basta à exploração masculina.Mas, um dia, a natureza lhe dá de presente filhos homens. Daí ela vai jogar pelos ares a memória das guerreiras passadas e fazer exatamente o contrário do que dizia em seu discurso. E até chorar quando se oferecer para fazer uma bainha e eles desdenharem:
‘Ah, mãe dá um tempo, não enche o saco’. A vida é dura
para as mulheres e para quem tenta entendê-las

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

TREM BALA & BONDINHO>

Como pensar em trem-bala,na expansão do metrô e
e na modernização da Super Via se o poder público, apesar dos vários alertas e reclamações,não conseguiu dar um jeito no bondinho de Santa Teresa?Por que esperar a morte de sete pessoas para se decretar uma intervenção na empresa que cuida dos bondes?
Não dá para entender como o mesmo governo que construiu uma obra como o teleférico do Alemão não tenha tido capacidade de, manter o bonde nos trilhos.Melhor: claro que dá para entender. O serviço de SantaTeresa se tornou ruim e assassino porque foi vítima do descaso criminoso de quem deveria cuidar dele.
Não houve falta de recursos,mas de empenho e de interesse.
O bonde de Santa Teresa, esquecido por administrações, faz parte da cidade esquecida.É um meio de transporte deficitário, que não interessa aos empresários. O
bondinho, patrimônio da cidade, visto como arcaico, que não combina com uma equivocada e colonizada idéia de mudernidade.
A tragédia alerta para o risco de se tentar construir uma cidade baseada numa aparência de prosperidade; uma cidade-cenário, quase um parque temático,agradável apenas durante os eventos. Seria como dar uma nova versão para o absurdo cometido décadas atrás.
Para que nossa miséria nãoo chocasse, outdoors foram colocados para esconder as favelas—não se tratava de resolver o problema da pobreza,bastava impedir que ela fosse vista pelos visitantes.Não adianta fazer belas e imponentes instalações em torno da Avenida Francisco Bicalho se o Canal do Mangue continua a ressaltar a tragédia ambiental,social e sanitária que nos cerca. Não há maquiagem capaz de esconder
tantas e antigas mazelas.