domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Coluna da Pilastra

Sempre que a porta do elevador se abre eu me assusto
porque vejo um andar inteiro,um grande vão, sem nenhuma pilastra.
Fundamental elemento de sustentação tão martirizado por ser
feio, estar sempre no meio do caminho,atrapalhando a
vista.Sem ela, só com poderoso concreto da arquitetura de Neimeyer
para sustentar o vazio.
Temos que minimizar sua interferência, aprender a conviver com elas: eu vejo o vão sem elas, eu imagino o todo subtraindo aquele trambolho.
Sempre percebi que tenho que ter pilastras na alma, para continuar de pé. E me fiz prédio, conhecedor de minhas pilastras-morais,meu código de ética,minhas crenças,meu respeito pelo que me edifica.E cinqüentão agradeço a cada pilastra que não arranquei, que brecou o meu caminho em linha reta,me fazendo ponderar questões que me desestruturariam ou me colocariam em risco.
Recusei as drogas nas festas pelo fato de já conhecer de perto a minha pilastra da loucura.
Mas conheço o torpor do álcool, pois minha pilastra pinguça é fortíssima.Jogo de estica e puxa,de conceder e negar, tudo diante da extraordinária existência da moralidade, no meu caso muito individual, pois recuso as artificiais pilastras que o senso-comum ou a religião querem fincar em mim, mas sei que só sobrevivo se tiver minhas pilastras pessoais. Elas atrapalham porque freiam,mas nos tornam civilizados.Desejo boa sorte aos que sobrevivem e são felizes sem pilastras,mas preciso escutar minha voz da consciência para sair vivendo.Carrego minha história e minhas crenças na engenharia do coração,convivo com minha “empena-cega”que é aquele lado de mim onde estão fantasmas que de vez em quando vêm me visitar. Estão lá,e não posso arrombar janelas e paredes para destruí-los, isto comprometeria a estrutura.
Claro que tem a negociação possível de arrancar uma coluna desnecessária construindo uma poderosa cinta de concreto entre duas outras: é quando concluímos que temos que abandonar um preconceito.

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