segunda-feira, 26 de março de 2012

H I P O G L I C E M IA-H I P E R T E N S ÃO

Nunca estive tão à flor da pele.
Um cisco no olho é uma manada de elefantes.
Se bebo não paro até que o bar feche.
Fui cortar os cabelos e voltei careca.
Ao tentar correr atrás de mim acabo fugindo.
E se paro um pouco para descansar, as cadeiras vazias ganham vida e sobem pelas paredes.
Estranhos vêm e vão tão apressados que eu não vejo seus rostos.
A noite foi difícil, a manhã será pior.
Sou sonâmbulo enganado pelo realismo dos meus sonhos.
Quando acordar, se é que um dia acordarei, essas lembranças não serão mais do que fragmentos perdidos.

No C.T.I, controlo meus instintos. (não há rosto por detrás das máscaras).

quarta-feira, 21 de março de 2012

A PORNOGRAFIA DA CORRUPÇÃO EXPLÍCITA

Os programadores de T.V. de canais de sexo explícito devem estar
decepcionados. O ‘Fantástico’ mostrou, em 20 e poucos minutos, muito mais sacanagem do que qualquer especialista em pornografia poderia imaginar.
Motrou-se ali como os cofres públicos são penetrados e violados. O ritual da corrupção dispensa carinhos, cantadas,convites para jantar. É tudo simples: pagou, pegou.Na visão dos corruptores, sentar na cadeira de administrador de público equivale a bater ponto num bordel ou ficar à noite por algumas calçadas.
A desenvoltura dos corruptores assusta e enoja.
Eles nunca tinham visto o suposto “administrador”— o repórter —, não sabiam de seu passado e de sua eventual disposição para roubar, mas, mesmo assim, ofereceram propinas na maior cara de pau.Pareciam partir do princípio de que o sujeito, pelo fato de estar ali, era ladrão. É terrível! Que tipo de experiência gerou tamanha segurança, tanta certeza de que suas propostas seriam aceitas, bastaria apenas negociar a comissão a ser paga—10%, 15%,20%.
Descarados, chegam a falar em ética,em exemplo para os filhos.O feio é roubar e não levar; condenável é não dividir de maneira razoável o fruto do roubo!.
A segurança na apresentação das propostas de suborno: Será que quase tudo é assim?O toma lá/dá cá se repete nas licitações dos governos municipais, estaduais e federal? A banalização da roubalheira ajuda a explicar boa parte do desespero de políticos em conseguir nomeações.Os custos das campanhas eleitorais acaba contribuindo para a safadeza,um político pode dizer que o dinheiro não é para ele,mas para o partido.Dá no mesmo.
A tranquilidade com que a bandalheira é proposta faz pensar nas consequências da tolerância com os pequenos delitos. Os corruptores da TV parecem gente comum, que vai à feira, que frequenta o estádio e chama o juiz de ladrão.Gente que dá uma cervejinha para o guarda, que dá abatimento para serviço prestado sem nota fiscal. Um maior rigor sobre as atitudes tomadas no dia a dia ajudaria a minar a naturalidade da cultura da corrupção. Até porque orgias—como a da reportagem e a dos filmes pornôs—exigem sempre a participação de mais de uma pessoa.