quarta-feira, 18 de abril de 2012

Feliz Idade!


Apõs os procedimentos, os remendos em meu coração, o m’edico me disse que estou novo, e posso viver tranquilamente mais 50 anos!
Se fosse um déspota com poderes absolutos mandaria logopara a guilhotina o cara que bolou a expressão feliz idade. E também os que dizem que a idade traz sabedoria e que os velhos devem ser ouvidos e respeitados. Sem essa do verso do samba “respeitem ao menos meus cabelos brancos”.
Muito pelo contrário: um cara que é idiota aos 20 anos, aos 60 será três vezes mais idiota.
E se for brilhante aos 20 anos, aos poucos irá ficando, com os neurônios caindo como folhas secas por onde anda, uma caricatura do que foi, meio cego dos ouvidos e surdo dos olhos. E a memória? Conversa de velho: você lembra do... (estala os dedos ), que costumava freqüentar aquele bar ... (estala os dedos), onde a gente comia e bebia uma... (estala os dedos).
Uma bailarina de flamengo estala menos suas castanholas que dois velhos conversando num banco de praça!
E, dentro da carcaça, dói tudo, um órgão de cada vez ou tudo junto.
Quando às vezes alguém me pergunta: Andou bebendo de novo?
Respondo: “Não. Vivendo ainda”.

domingo, 1 de abril de 2012

ESSA MENINA!

Há muito céu nesse chão que eu piso. Leveza demais nesse caminhar. Sei que a qualquer momento um buraco abrirá sobre os meus pés.
Uma voz diz, não tenha medo. Mas eu tenho medo, Dona Voz. Tudo o que tenho é um paraquedas de sacola plástica. E a voz insiste: Prove que ainda sabe voar! Mesmo que artificialmente. Mesmo que isso te quebre os dentes. Tudo tem um preço.
Todos os dias, escuto a voz
Seus dias são o seu empreendimento,
Creme do céu dura só por um momento,
Bolinho de chuva ela não erra, não.
Céu menina está sempre na contramão...
Confunde tempestade com as chuvas de verão!
Só pode estar sob algum encantamento,
Sua cabeça anda igual pastel de vento.
Céu, quando você crescer, descobrirão seu talento.
Nasceu para ser a garota do tempo!
Tento fazer com a que a voz desapareça. Já quebrei os dentes e a cara. E entre o caramelo e o sal, eu estou sentado, comendo pipocas de uma em uma. É que gosto dos prazeres lentos, aos poucos, torcendo para que nunca acabe.