domingo, 27 de janeiro de 2013

Hoje! Mais um Carnaval!


      Hoje! 
Quase amanhã.
 Por necessidade quase ontem!
É a paga da eternidade a este vale de desespero
De crianças sem esperanças e não é por rima pura,
É sim, por vontade expressa do poder divino.
Chora mãe, teu filho caído por bala ou vício
No precipício dos desvalidos, na vala dos incautos.
Chora tua lágrima para alimentar o eco dos vencedores
Enquanto desfila na avenida da dor o bloco dos encapuzados
Senhores da lei, na Sapucaí dos horrores, enredo dos excluídos.
Grita teu samba de agonias puxador das rajadas, levanta teu
público!
Para na apoteose receber os aplausos dos senhores das verdades
Que desceram ao asfalto para que subissem as escadarias dos 
edifícios!
Os nobres dos barracos do Morro da Babilônia.
E na apuração vão ganhar nota dez em Harmonia, beleza de agonia!
Adereços, abraços, apreços.
Hoje!
Mais uma chacina.
Já é amanhã, o que foi ontem e será sempre. 
Mais um Carnaval!

domingo, 20 de janeiro de 2013

C A R T A

Estou te escrevendo pra contar que tenho algo que você deseja. É sério, não duvide – nem pule para o final desta carta.


Sabe, já tem um tempo que voltei a chamar o quadro vivo, aberto na minha parede, de janela. É que tem um tempo que a vida se foi... Mas, o fato é que a janela estava escondida atrás da cortina há tanto, que eu já tinha me esquecido do vaso que estava nela. Das flores, só restou a lembrança olfativa.

Acordei um dia com o sol entrando pelas frestas. Há muito tempo não havia frestas. Há muito tempo não havia sol. Então, notei uma saliência na cortina e, quando ela começou a se movimentar, tive certeza de que era um bicho. Não era. Tem um tempo que as minhas certezas são incertas.

Pare de bocejar! Eu sei que você está crente de que eu não mudei nada e que ainda sou a mesma pessoa que levava uma eternidade só pra dizer que – é, eu ainda sou, só que. Tenha paciência, vou direto ao ponto do jeito mais pontual que eu puder.

Eu, que até hoje encontrei poucos com o mesmo nome meu, não sei mais como me chamo.

Sou nostálgico, não há como negar. A poeira do passado agrava minha rinite, mas eu não ligo. Preciso voltar no tempo para me reafirmar. A lembrança é o que tenho de mais valioso. É por isso que meu desequilíbrio me assusta tanto, tenho medo de bater a cabeça e perder a memória.

Venha e não se esqueça de trazer o meu nome. Eu sei que ele está contigo, sempre esteve.