domingo, 20 de janeiro de 2013

C A R T A

Estou te escrevendo pra contar que tenho algo que você deseja. É sério, não duvide – nem pule para o final desta carta.


Sabe, já tem um tempo que voltei a chamar o quadro vivo, aberto na minha parede, de janela. É que tem um tempo que a vida se foi... Mas, o fato é que a janela estava escondida atrás da cortina há tanto, que eu já tinha me esquecido do vaso que estava nela. Das flores, só restou a lembrança olfativa.

Acordei um dia com o sol entrando pelas frestas. Há muito tempo não havia frestas. Há muito tempo não havia sol. Então, notei uma saliência na cortina e, quando ela começou a se movimentar, tive certeza de que era um bicho. Não era. Tem um tempo que as minhas certezas são incertas.

Pare de bocejar! Eu sei que você está crente de que eu não mudei nada e que ainda sou a mesma pessoa que levava uma eternidade só pra dizer que – é, eu ainda sou, só que. Tenha paciência, vou direto ao ponto do jeito mais pontual que eu puder.

Eu, que até hoje encontrei poucos com o mesmo nome meu, não sei mais como me chamo.

Sou nostálgico, não há como negar. A poeira do passado agrava minha rinite, mas eu não ligo. Preciso voltar no tempo para me reafirmar. A lembrança é o que tenho de mais valioso. É por isso que meu desequilíbrio me assusta tanto, tenho medo de bater a cabeça e perder a memória.

Venha e não se esqueça de trazer o meu nome. Eu sei que ele está contigo, sempre esteve.







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