terça-feira, 19 de março de 2013

LEMBRANÇAS (C.T.I)

Eu fui quebrando as portas como se quebrasse medos. Mas no fim das contas, só estava quebrando os ossos. E me diziam para ficar calmo, e me diziam para estender o braço, e me pediam para ficar tranquilo. Daria tudo certo. Quando eu desse por mim estaria feito.


Todos diziam que eu não sentiria (meu medo e não sentir). Quando vi aqueles olhos. Olhos negros, quem diria usando agulhas para espantar meus medos. Mas não importava o tão fundo que entrassem em minha carne, novas portas cresciam mais fortes, mais altas,mais intransponíveis. E eu ia percebendo que estava atravessando sozinho por dentro dos meus medos, guiado por uma loira sem sal.

Enquanto eu pensava, ressentido, na ilusão da beleza interior, aqueles olhos iam ficando distantes...Mas ainda vigiavam minha consciência.Tiravam minha roupa, monitoravam meus batimentos, diziam que os pesadelos não poderiam me perturbar. Então, quando as luzes pararam sobre o meu corpo, já não me importava.

Eu estava entregue à última lata de leite condensado. Sentindo a glicose correndo pelas veias.

Até não sentir mais.

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