domingo, 29 de setembro de 2013

SAL E PIMENTA NAS BALAS

Eles estudaram Medicina na Síria.
Imagino hoje, tubos de ensaio em pleno genocídio religioso. Ainda no consultório das hipóteses, fugiriam pro Brasil, mas não exerceriam sua profissão por cooperativismos de alguns.
Esses santos encheram de vida e açúcar a minha infância.
Apesar das casas iguais, algumas se destacavam na comemoração aos gêmeos, pelos doces oferecidos. Promessas transformadas em línguas de sogra,suspiros e pirulitos, sem  pompas de marcas, cobertos com fé.
As rádios repetiam atenção aos motoristas para a cegueira glicosada das crianças, um vai e vem desesperado pelos saquinhos de papel.
Aos poucos, marias-moles e doces de abóbora perderam lugar pros bombons sofisticados, brinquedos de mola ou, mesmo, roupinhas de bebê.
A modernidade descobriu a cárie, e a inocência perdeu-se nos molares. Evangélicos botaram sal e pimenta nas balas Juquinha.
As crianças, temendo o amargo, recusaram o sabor de toda história.
Eu, crescendo entre igrejas e meus santos de devoção, continuo credo aos unguentos, proteção contra doenças da terra. E, claro,um caruru, receita à base de quiabo, ideal no combate à minha diabetes.
A pé, na mesma calçada, sem largar de mão os botequins, e  todo bar que se preza tem São Jorge ou Cosme e Damião zelando pelo estabelecimento.O Guerreiro tem a espada,os irmãos, as balas sobre os pés,sempre iluminados.


SALVE JORGE, SALVE COSME E DAMIÃO!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A Constituição completa 25 anos


Em 1980, uma bomba em show de música no Riocentro explodiu no colo dos terroristas oficiais, e o Brasil encontrou o caminho para a redemocratização. Outras haviam explodido: na Câmara de Vereadores, na ABI, na OAB, em bancas de jornais e contra o bispo de Volta Redonda RJ, Dom Adriano Hipólito.

Todas eram atribuídas a terroristas de esquerda, os vândalos da época. A bomba do Riocentro como o desaparecimento de Amarildo mostra a truculência do Estado e a política de segurança nas áreas militarmente ocupadas. Aquela bomba acendeu o desejo de liberdade e redemocratização.
Um comício pelas ‘Diretas Já’ reuniu um milhão de pessoas,e em outros comícios tinham destruição, que eram praticados por agentes do regime, disfarçados de manifestantes. A música ‘Coração de estudante’, de Milton Nascimento, se converteu em hino. Caetano Veloso compoz a música ‘Podres poderes’, onde mostrava os ridículos tiranos, a estúpida retórica e os capatazes com suas burrices que fazem jorrar sangue. Concluiu dizendo que “tudo é muito mau...”, mas lembrou Oswald de Andrade, para quem nunca fomos catequizados, pois fizemos o Carnaval. Liricamente questionou se “apenas os hermetismos pascoais e os tons, os mil tons; seus sons e seus dons geniais nos salvarão dessas trevas”, numa referência a Hermeto Pascoal, Tom Jobim e Milton Nascimento.
Neste ano a Constituição completa 25 anos, e jovens dessa idade, estavam ou estão, nas ruas para efetivar a democracia escrita e não efetivada. Mas os podres e mascarados poderes insistem em proibir as manifestações, criminalizar e impedir a liberdade.  

Eu continuo com aqueles que velam pela alegria do mundo.