segunda-feira, 28 de outubro de 2013

SINCERAMENTE

SEI DAS BESTEIRAS QUE FAÇO,
SEI DAS BOBAGENS QUE FALO,
DE ONDE VEM OS HEMATOMAS,
DOS MEDOS E DOS FRACASSOS.
SEI O QUE PENSO NA INSONIA,
QUANDO DOU UMA ESMOLA,
SEI DAS NOITES BEBIDAS,
NOS COPOS SUJOS.
CONHEÇO CADA PEDAÇO DA RUA,
CONHEÇO UM POUCO DE TUDO,
SEI QUE DIGO MENTIRA,
QUANDO DIGO QUE ''SEI DE TUDO''
FALO DEMAIS SOBRE MIN,
E QUANDO VEJO,
JA DISSE,
ALGUMAS VERDADES!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

RECICLANDO

A caixa de lembranças ficou pequena para todas elas e transbordou. Arremessou a tampa para o lado oposto do quarto. Fez pessoas ressuscitarem do passado, e agora, elas querem ficar. Não podem. Não devem. Priscila  não as quer mais. Estão fora do tempo, ultrapassadas e mofadas. Mofo não lhe faz bem, ela é alérgica.
Travou uma batalha contra as próprias lembranças até que todas estivessem devidamente rasgadas – o som de lembranças rasgando lhe soa ainda pior que o de dedos estalando – e separadas na lata de lixo reciclável. Assim, existe o risco de retornarem – de novo – ela gosta de arriscar.
Batalha vencida, hora de recomeçar. Repetição é praxe em sua vida desde a infância – nunca trocava as figurinhas repetidas. – Ao acordar, o pé direito toca o chão primeiro. É assim desde seus cinco anos de idade. Será assim para sempre. Sempre é muito tempo.

Ela resolve guardar um retrato, que desbotado pelo tempo, não lhe permite reconhecer o rosto, mas fica feliz com o que esta escrito no verso...

''Me traz o seu sossego,

atrasa o meu relogio,

me da sua palavra.

Sussura em meu ouvido

so o que me interessa.''