quinta-feira, 24 de julho de 2014

M Ã O S

  



   As mãos de meu avô tinham veias azuis em alto relevo, córregos entre couro e osso, cobras inflamadas nos desvios da rugas. Eu corria lentamente a ponta do dedo sobre
a elevação inchada nas mãos murchas de meu avo, e pedia a Deus para que as mãos de minha pai  não ficassem assim.
As mão de meu pai também se tornaram azuis, como barbantes mergulhados em pele murcha, seca e manchada. Os meus dedos faziam carinho, evitando o contato das unhas, achando que de uma hora para outra poderiam rasgar a película e o jato azul inundar tudo, pensando que as minhas mãos nunca teriam esse desenho.
Agora , percorro com os dedos de minha mão esquerda fio por fio as costas da mão direita, invertendo depois a ordem revendo em minhas mãos murchas e manchadas os corre-
gos de meu avo, sentido novamente o temor de que explodissem no ceu as nuvens em cordas das mãos de meu pai. Olhando as mãos do Rudah, pensando que a vida,- esse manuscrito de mistério-,não passa de um eterno esperar pelos sinais que as mãos nos reservam.

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