terça-feira, 19 de abril de 2016

Deus no comando

Eu nunca os tinha visto reunidos, com cada um tendo  30 segundos para formar frase. Como a oportunidade era imperdível, me sentei diante da TV para ver como eram, como se comportariam, como se vestiam os deputados que representam a diversidade de um Brasil enorme. Queria ver o pescador das jangadas do Ceará, o seringueiro do Acre, o bugre pantaneiro de Mato Grosso, o tropeiro das Minas Gerais, as bombachas dos pampas.  Só sobraram sotaques que dão alguma pista da região. Sobram paletó e cabelo penteado em goma brilhosa, muita loura oxigenada, nenhum turbante afro, nenhum cocar,muita esquisitice do padronizado mundo deles. Previsíveis e repetitivos, com pouquíssimos surpreendendo nem que fosse comum chapéu,mesmo comportado. Na hora de formar as frases, emocionados, nervosos, eles partiam para reminiscências pessoais. Votavam pelos que amavam em casa e nos currais eleitorais. Falavam das cidades, porque nas próximas eleições os eleitores disso lembrarão: “Nossa cidade foi lembrada na enorme audiência daquela data”.Depois (ou antes)invocavam o Deus deles. Muito Deus que protegesse, ou se apiedasse, ou misericórdia tivesse. É o Deus dos vendilhões do templo, aquele que é invocado até pelos que vivem em crime. Desde criança sempre ouvi gente clamando por este Deus, quietinho e fazendo cara de santo em público, e cometendo atrocidades por baixo dos panos. Mas basta comungar, ou arrepender-se, ou se comportar e não passar recibo, que tá tudo certo. Deus da hipocrisia, dizei-me vós, Senhor Deus, se é mentira, se é verdade tanto horror perante os céus? A nação publica no facebook: “Deus no comando”. Então tá, quando até Eduardo Cunha invoca o comandante e manda que ele tenha piedade de nossa nação, resta saber que comando?  Que Deus,caras pálidas?Pastores, fervorosos pais de famí- lia cristã, bancada da bala, dos ruralistas, a Tia Eron que ama muito aquilo tudo,enfim, foi muita gente invocando Deus. E,só para mostrar aos incrédulos,como eu,que Ele está no comando,  que bastaram sete horas para que Ele nos desse exemplo de que se EMPUTECEU: o marido da Raquel Muniz(penteado em laquê topete “sou rica” e gola abotoada afogando o pescoço “sou casta”)a que mel a oferecia em bandeja como exemplo para o futuro do Brasil que vai dar certo (também citou a mãe Elza, nome que na gíriria  “dar a Elza”, significa surrupiar) foi preso. Mico dos micos. Foi a noite em que quem dedicou seu voto a torturador, recebeu uma cusparada.VALEU JEAN WILLIS!

quarta-feira, 6 de abril de 2016

PARA AS AINDA CRIANÇAS

( Para João Pedro, Bruno, Laura, Bernardo, Miguel, Isabeli, Henrico, Céu, Mateus....,e outros que não lembrei o nome)



Eu não gosto de hinos, bandeiras e heróis, aquilo que classicamente representaria a pátria, digo a Eles e Elas que sim, há um Brasil bonito.
Mas este país, meninos e meninas, não tremula em mastros ou se manifesta em discursos dos que falam várias línguas. Ele apenas é o que me arrepia, e vive no chão em que piso, na língua que falo.
A verdade, meninos e meninas,é que tenho um caso de amor pelo meu chão modesto e pela gente miúda como eu. A minha razão é internacionalista; mas meu coração balança ao som de tamborins, folhas sagradas me banham e me acalmam.
Eu sei apenas do encanto, do assombro com os tran-ses dos caboclos e das mãos calejadas que seguram a corda do Círio de Nazaré, as mesmas mãos calejadas pelo couro do tambor que chama o povo pra roda (Ca-poeira,Samba e outras,,,,) produzem em mim a sensa-ção de pertencimento que nenhum bandido engravata-do,de cabelo grotescamente tingido, vai de tirar.
Meu Brasil são agogôs,berimbaus, e o baque dos tam-bores. As Vezes desconfio que este Brasil já era.
A minha pátria, a sua, a nossa, bem distante do patrio-tismo, que é o esconderijo dos canalhas, é o delírio que me conforta.
É ela que ilumina meus olhos, e acaricia as minhas palavras, para que eu conte as histórias que ouvi do meu avô ao meu filho.
A nossa Pátria, meninos, meninas,  minha e tua, e por ela vale lutar.
Esse Brasil já nos aconchegou nas noites mais frias.

Nossa memória não será LAVA(da) JATO!