quinta-feira, 5 de abril de 2018

ÓH SENHORA LIBERDADE!

Na tormentosa noite em que o meu sangue  avermelhou, o país se tornava refém de uma ditadura que duraria vinte e um anos.
Foi quando  os sonhos de liberdade brotaram a partir desse enorme pesadelo.
Amigos desaparecendo, crianças como eu, virando órfãs de pais assassinados pela  polícia política e motivos tambem, cujas ordens eram buscar, torturar e matar.
A voz calada por medo,
O pensamento sob constante patrulha,
Os textos censurados sem dó nem piedade.
Os dias escureceram, a luz sofreu proibição.
Pessoas fuziladas, exiladas sem razão.
Imprensa controlada, transparência havia não.
Revistas, violência, o pavor no coração.
Angústia, sofrimento, vigilância e perseguição.
Parlamento controlado, inteligência na prisão.
Judiciário calado, permissivo, sem perdão.
Nos porões da ditadura muitos gritos de horror.
Nas covardia da vida o verde oliva era o vapor.
Muita gente adormecida, surda e cega sob pressão.
Outros tantos na batalha contra toda repressão.
Hoje a chama da liberdade sob ameaça de apagar. Uma gente disfarçada se infiltrando em todo lar.    
Mais que nunca é necessário à memória recorrer,
pois se eu posso resgatar a história,
a ditadura aqui de novo não vai mais acontecer                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     INSTRUÇÕES PARA ENFRENTAR O MAU TEMPO
Em primeiro lugar, não se desespere e em caso de agitação não siga as regras que o furacão quererá lhe impor.
Refugie-se em casa e feche as portas e janelas quando todos estiverem a salvo.
Compartilhe o café e a conversa com os companheiros, os beijos  e as noites clandestinas com quem lhe assegure ternura.
Não deixe que a estupidez se imponha.
Defenda-se.
Contra a estética, ética.
Esteja sempre atento.
Não lhes bastarão nos empobrecer, eles quererão nos subjugá com sua própria tristeza.
Ria ostensivamente.
Tire sarro: a direita é mal comida.
Será imprescindível está juntos a cada dia até que a tormenta passe.
São coisas simples, mas nem por isso menos eficazes.
Diga para o lado bom dia, por favor e obrigado.
E tomar no cu quando o solicitem de cima.
Dê tudo o que tiver, mas nunca sozinho.
Eles sabem como nos emboscá na solidão desprevenida de uma tarde.
Lembre que os artistas serão sempre nossos.
E o esquecimento será feroz com o bando de impostores que os acompanha.
Tudo vai ficar bem se a gente se ouvir.
Sobreviveremos novamente, estamos maduros.
Cuidemos dos garotos, que eles quererão podar.
Só é preciso se munir bem e não amesquinhar amabilidades.
Devemos ter à mão os poemas indispensáveis, a Cerveja e o violão.
Sorrir aos nossos pares como vacina contra a angústia diária.
Ser piedosos com os amigos.
Não confundir os ingênuos com os traidores.
E, mesmo com estes, ter o perdão fácil quando voltarem com as ilusões acabadas.
Aqui ninguém sobra.
E, isto sim, ser perseverantes e tenazes, escrever religiosamente todos os dias, todas as tardes, todas as noites.
Ainda sustentados em teimosias se a fé desmoronar.
Nisso, não haverá trégua para ninguém.
A poesia dói nesses filhos da puta.

Há de se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor, fruto!
Mais que nunca é preciso cantar, é preciso cantar pra alegrar a cidade.                                                                                                                                                                                                                                  

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