sexta-feira, 19 de outubro de 2018

RAP DA PELE TATUADA.



Chega, quase sempre chega, quando a gente acha que não vai chegar.
Chega quando a gente pensa que está tudo bem, que o pior não vem, perigo não tem, motivo não há.
Feito aranha nas tramas da rede. Feito infiltração nos nervos da parede. Chega que nem comichão, que pode ser apenas leve inflamação. Mas quando se vai ver a chaga, a praga, pode até ser tarde.
O pus já está na carne. A peste está no pão.
Chega pra espalhar o medo, pra mudar o enredo, pra nos assombrar.
Mas não há bem que sempre dure ou mal que não vá se acabar. Do jeito que chega pode dispersar. Depende da gente não se descuidar.
Mas se já houve o descuido, o desmazelo, a distração. Não adianta mais novo ruído, a dor de cotovelo a autopunição. É hora de esperança e de união. De olhar dentro do olho e dar as mãos.
E perguntar: "Cê vai fazer essa besteira, meu irmão?!"
E implorar: "Não faça uma tolice dessas, não!"
E mostrar que no cordeiro pode reencarnar o cão. Que a culpa, nossa culpa, máxima culpa agora já não faz sentido, não. Não perca tempo com a repetição. Não nos salva o castigo nem o perdão.
Só o que nos salva agora é a atenção!
Atenção para o perigo: o ódio é inimigo da reconstrução. Pois só enxerga lama, espinho e lixo no chão. Pedra sobre pedra não é construção.
Do dente por dente sobram só bocas banguelas. E então não adianta mais a tranca na janela. Se a peste, a praga, a chaga já entraram por ela.
A marca da suástica já está latente no corpo em sangue da inocente (e não foi feita a lápis, mas a canivete...)!
Cuidado, ancião! Cuidado, bonitão!! Cuidado, Pivete!!!
Se a morte, os espancamentos e a tortura já tomaram as ruas. Se o gay já foi surrado e "a culpa não é sua". Se a vergonha alheia em nossa testa brilha, nua e crua.
Por isso a gente chora. Por isso a gente sua. E pede e clama e implora, consternados:
"Cuidado, irmão, cuidado! A próxima pele tatuada pode ser a sua!"

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