Sim! Você foi brutalmente assassinado, em frente às câmaras, e diante de dezenas de pessoas que nada fizeram para evitar que isso acontecesse.
Sim! Elas ficaram ali assistindo tudo, omissas diante de tamanha covardia, filmando com seus celulares a injusta agressão.
São todos igualmente culpados.
A raiva com que aqueles dois seguranças expressaram ao te espancar até a morte revela um ódio que a história já nos fez conhecer: não é só racismo; é também nazismo, fascismo, bolsonarismo. É o produto da construção de uma educação para matar.
É uma cena dura e doída de se ver. Uma cena que envergonha muitos de nós. Uma cena que causa, em muitos de nós, Indignação e revolta.
Morto na frente de sua esposa, pedindo socorro à ela, que foi impedida de ajudar, a cena é absurdamente cruel.
O retrato nu e frio da barbárie. A imagem de uma sociedade moralmente doente em que estamos nos transformando.
Uma sociedade afastada das virtudes humanas e mergulhada em um mundo negacionista dos fatos como eles realmente são.
Um país governado por dois indivíduos que ignoram o racismo estrutural e que criam outras teorias conspiratórias de que existem pessoas aqui - provavelmente, comunistas - querendo importar culturas racistas de outras nações para cá, com fins de tomar o poder. Quanto delírio!
O que dizer de de tão patética declaração?
Quanta boçalidade manifesta para o mundo todo nos ridicularizar ainda mais!
A sua morte dói bastante no peito daqueles que têm empatia, mas passa anestesiada no peito daqueles que são feitos de indiferença e desamor.
Você morreu sob tortura; sob uma tortura praticada por dois torturadores - esse tipo de gente homenageada por aquele que nega as evidências do racismo, e que se mantém protegido pelas instituições democráticas, que, para o mal do Brasil, não o põe pra correr da cadeira em que está sentado.
As imagens da violência praticada covardemente contra você até a sua morte jamais sairão das mentes daqueles que têm bons sentimentos e que defendem os direitos humanos e a justiça social.
A sua morte é mais um triste capítulo da nossa história.
Imagino o sofrimento da sua família. E rezo pra que, de algum modo, a espiritualidade possa confortá-los e dar-lhes força para continuar a jornada, agora muito mais difícil.
O seu nome não será esquecido: João Alberto Silveira Freitas.
E a sua morte há de não ter sido em vão.
Havemos de criar uma consciência coletiva pela paz e por um comportamento antirracista.
Às vezes, a dor faz nascer a esperança.
E, às vezes, a esperança é o que nos faz renascer...