domingo, 19 de abril de 2015

H U M A N I Z A R /C I V I L I Z AR .

O vídeo em que um policial chama de
“neném” um fuzil e diz que a arma
“vai cantar”



PARA NINAR‘BANDIDOS’

Juntar ironicamente a beleza do significado de palavras,
com um lancinante novo sentido. No grande jardim deinfância
da violenta desesperança,quando o neném quer cantar, os adul
tos bandidos dormirão o sono da morte. A inversão, o caminho
de volta ao útero materno que são os sete palmos e seus caixões.
A tenra idade é que cantaria para despachar os cansados que já
viveram, para a dormir a mais profundidade dos sonos.
Em sua pureza de sons, adormecer terminantemente.
Linda e macabra construção poética para ser uma metáfora do baru
lho infernal que faz tombar os corpos, seja lá quem dispare. Esta_
mos no mesmo nível da denominação de“anjo da morte”para o silencioso
e delicado nazista que separava suas vítimas na rampa do campo de
concentração,só para depois usá-las nos mais terríveis e mortais
experimentos.
E a carícia sobre o metal frio que corporifica gatilhos, canos,
munições,coronha,ferrolho.Desesperada tentativa de humanizara arma,
torná-la companheira, dar-lhe uma alma.E isto revestido do poder do
“papai”:filhinho,criança,bebê,neném,sempre fará, obediente, o que
ordena o genitor. Magnífico artifício de transferir para o exterior
de si,no diferente objeto/ser,a responsabilidade de adormecer o outro,
dito mal. Ou,como querem os psicanalistas, o prolongamento do corpo,
o segundo pênis, que na identidade dos machos,emparelha com o automóvel;
tudo a ver coma frase dos caras que dizem“não mexe com o júnior”(nome
do próprio Piru).Tenho um órgão genital, um carro, uma arma,logo existo.
Plantar árvore e escrever livro,foi-se o tempo.
E que cantiga de ninar é esta,as rajadas,o cuspe de intermináveis balas,
que despertam a delícia do policial? Seria a mesma perversão do ‘Apocali-
pseNow’,quando o oficial siderado vai nos helicópteros durante os bombar-
deios às aldeias dos vietnamitas fudidos, porque adora o cheiro de napalm
ao amanhecer, na hora do café damanhã? Mas isto não seria justamente o
oposto do perfeito entendimento do que seria a resposta para “para que
serve uma arma?”. Objetivamente falando, algo letal jamais pode ser subje-
tivamente denominado, sob o risco de se perder a noção do perigo real que
matar é. Não aceito esta personificação do extermínio, quero uma polícia
que enfrente os horrores que a ausência do estado nos meteu.
Não admito a banalização e generalização da morte.Cada tiro disparado,
não são produtos de margaridas, cacildas ou nenéns.
São nossa proximidade com a barbárie!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O U T R A S P A L A V R A S!

O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado;imperialismo
se chama globalização; suas vítimas se chamam países em via de desenvol-
vimento; oportunismo se chama pragmatismo; despedir sem indenização nem
explicação se chama flexibilização laboral”,etc.
A lista é longa: negro é chamado de afrodescendente (embora ninguém nunca
tenha dito que sou iberodescendente ou eurodescendente);ladrão é sonegador;
lobista é consultor; fracasso é crise; especulação é derivativo; latifúndio
é agronegócio; desmatamento é investimento rural;lavanderia de dinheiro  es-
cuso é paraíso fiscal;acumulação privada de riqueza é democracia;socializa-
ção de bens é ditadura; governar a favor da maioria é populismo; tortura é
constrangimento ilegal; invasão é intervenção; peste é pandemia; magricela
é anoréxica.
Aumento de conta de luz virou realinhamento dos preços de energia; recessão,
retração; sonegação, evasão fiscal; cortes e aumento de impostos,ajuste fis-
cal ou reversão de ações anticíclicas...
Eufemismo é dizer uma coisa e acreditar que escutam ou lêem outra. É um jei-
tinho de disfarçar significados,de tentar encobrir verdades e realidades.
Posso admitir que pertenço à terceira idade, embora esteja na cara: sou ve-
lho (poderia dizer que sou seminovo)!
Como carros em revendedoras de veículos. Todos velhos!
Mas o adjetivo seminovo os torna mais vendáveis.
Em São Paulo há racionamento de água. O governador não gosta da expressão,
prefere “contenção hídrica”.
Coitadas das palavras, são distorcidas para que a realidade,permaneça como
está. Não conseguem escapar daluta de classes:pobre é ladrão, rico é corru-
pto. Pobre é puta, rica é modelo. Pobre é viciado, rico é dependente químico.
Eufemismo (OUTRAS PALAVRAS) um truque para tentar amenizar os fatos.