domingo, 30 de junho de 2013

A plebe e a nobreza

Era uma vez um reino governado por um monarca autoritário. Oprimia e mandava prender, torturar e matar quem lhe fizesse oposição. O reinado de terror durou anos. O povo reagiu, denunciou as atrocidades, e o tirano teve que abdicar da coroa. Vários de seus ministros ocuparam o trono, mas as condições econômicas da população não melhoraram nem quando foi criada a nova moeda, o real. Insatisfeita, a população conduziu ao poder um dos seus. O novo rei combateu a fome, porém favoreceu também os negócios dos nobres e deixou de dar ouvido ao povo, que se locomovia em carroças apertadas e pagava caro pelo transporte precário. As escolas pouco ensinavam, e os cuidados com a saúde eram inacessíveis.
O castelo isolou-se das ruas, sobretudo depois que o rei abdicou em favor da rainha. Foi então que a Corte promoveu os Jogos Reais. Arenas magníficas foram construídas, e o tesouro real fez a alegria e a fortuna de muitos súditos fiéis.
A população, inconformada com o alto preço dos ingressos e dos bilhetes de transporte em carroças, ocupou caminhos e praças. Pesou ainda a indignação frente à corrupção. O povo queria mais: educação de qualidade; saúde assegurada a todos; controle da inflação.
A rainha, assustada, buscou conselhos ao rei que abdicara. Os preços dos bilhetes de carroças foram reduzidos. O reino, em meio à turbulência, lembrou que o povo existe e prometeu dialogar com representantes da população. Nobres de oposição ameaçam tomar-lhe o trono.
A esperança é que o grito popular seja ouvido no castelo, e as demandas sejam atendidas. Que a voz dos jovens, que ainda não sabem como transformar sua indignação e revolta em propostas e projetos de uma verdadeira democracia seja ouvida!

 

sábado, 29 de junho de 2013

Até quando?

Qual o papel que se espera das forças do Estado? Como entender quando as forças policiais praticam a vingança usando seu poder armado? Como sentir-se um cidadão pleno de direitos morando na favela, diante de uma ação de massacre por parte daqueles que deveriam garantir a segurança?
A ação do Bope, Força Nacional e Batalhão de Choque na Maré parece não ter fim — e não terá, mesmo quando terminar.
Para que essa ação de extermínio de direitos e pessoas acabe. Exigimos dos governantes que isso tenha fim e que os policiais parem com sua prática de vingança contra a população local; mas não fomos ouvidos por eles, até agora. Mas fomos ouvidos nas redes sociais, pela mídia; e estamos sendo ouvidos por todos que não suportam mais a ação desse estado partido, que trata moradores das favelas como seres menores.
Queremos afirmar que os responsáveis por isso não são simplesmente os policiais; são, acima de tudo, o secretário de Segurança e o governador, que não atenderam aos nossos pedidos para que essas ações fossem paralisadas antes do massacre acontecer. E eles devem responder por isso, assim como aqueles que fizeram esse ato. Pois a morte de um policial por bandidos é lamentável; mas a morte de outras tanta pelas forças do Estado é arbítrio e um horror.

Observatório de Favelas




domingo, 23 de junho de 2013

Não abra a porta ainda.

Ela está sempre se escondendo – pensou ele – atrás de livros, no meio dos cabelos, embaixo do cobertor, dentro de si. Deve ser por isso que ela despreza o verão. Até o sorriso, tão bonito e raro, ela esconde com as mãos. Cobre os lábios, mas felizmente se esquece dos olhos. Os olhos contêm o pedaço mais bonito do sorriso.


Quanto mais ela se esconde, tanto mais ele deseja encontrá-la, mas sua especialidade sempre foi perder. Perdeu-se em pensamentos pensando nela e o que ia dizer agora se escondeu também.


Alegra-se toda vez que revela um centímetro dela, assim por acaso, quando ela se esquece do mundo. Seu corpo é um filme fotográfico trancado em uma sala escura. Essas coisas levam tempo. E do tempo dependem. Não abra a porta ainda

O cobrador

Manifestações contra o aumento das passagens de ônibus liberaram uma energia que não se sabia tão grande, tão forte. A violência da repressão policial serviu para aumentar o sentimento de revolta e dar a certeza da exclusão, da necessidade de partir para o ataque.


Contra o que são os protestos? São contra o que você quiser, escolha um motivo: passagens caras, transporte desumano, obras bilionárias para a Copa do Mundo que atropelaram leis, direitos adquiridos e bom-senso, conchavos, subordinação de setores do Judiciário ao Executivo,auxílio-alimentação retroativo para o Tribunal de Contas da União, licitações fraudadas, políticos de um modo geral.

O país melhorou muito, mas continua pobre, desigual, incapaz de oferecer uma educação de qualidade, que permita alternativas de ascensão social. Entra governo e sai governo e os serviços públicos continuam a impedir que jornais fiquem sem notícias; boa parte da polícia dedica-se a provar que existe apenas para garantir o poder de quem manda.

A busca do consenso acabou com as necessárias divergências políticas. Na maioria dos casos, eleições não revelam uma disputa entre concepções ou propostas, mas apenas conflitos de interesses: em busca devotos, Fernando Henrique Cardoso se aliou a Antônio Carlos Magalhães; Lula se tornou companheiro de Maluf. Manifestantes querem uma política sem políticos ou partidos,isso era o que pregavam os fascistas, foi assim que Collor se elegeu.

Mas não dá para culpar os novos donos das ruas pela visão equivocada. Foi a atuação de políticos que desqualificou a política, eles plantaram a revolta que hoje se vê.

‘O cobrador’, conto de Rubem Fonseca, ajuda a entender um Pouco esta revolta. O personagem principal comete crimes em série para cobrar tudo o que a vida havia lhe negado: “Tão me devendo colégio, namorada, aparelho de som, respeito, sanduíche de mortadela no botequim da rua Vieira Fazenda, sorvete, bola de futebol.” As ruas estão cheias de cobradores, cabe aos governos negociar o pagamento de tantas dívidas acumuladas e evitar que a cobrança se torne perigosa.

 

domingo, 9 de junho de 2013

MALA(sa)FA(dos)IA

Desde criança ouviu o Deus deles dizer, através da boca de Seus autorizados, que iriam para o inferno, por serem veados,se se escondessem, tinham chances de penar num purgatório, até que se purificassem. Como para ele pureza sempre foi ser fraterno, caridoso e respeitar o outro humano em todas as suas possibilidades, vive até hoje de maneira humanista, e nunca quis ir para o céu deles. É que lá iria encontrar um monte de gente de que não gostava, e que tinha passe livre no paraíso deles, porque fingiam muito bem. Depois descobriu outros deuses, que o deixava dançar, beber, celebrar seu amor do jeito que ele é, e percebeu que nem tudo estava perdido. Mas agora, além das nuvens com querubins e harpas,querem lhe negar o céu da cidadania.


O que assusta é que religiosos, queiram legislar sobre o Brasil e vidas. Não se trata de dizer publicamente que eles condenam a união homoafetiva, o que seria tolerável já que eles representam o dogma cristão e eu acho razoável entender alguns brasileiros que escolhem viver suas vidas por preceeitos religios. Boa sorte a eles e aí, estaríamos no campo da moral e das idéias. Só que agora eles descem do céu para o campo jurídico: eles montam bancadas de advogados, para lutar judicialmente contra os direitos de cidadão . O recado que eles mandam é o seguinte: mesmo quem não viva o dogma Cristão deve se curvar a este, que é deles.

Viva Oludumaré senhor dos pretos sem alma, que andavam livres sob o sol e a lua de África antes da escravidão branca. Viva a deusa das mulheres bruxas queimadas na fogueira medieval por viverem sem as ordens dos machos. Viva o Deus das matas indígenas que do caroço de tucumã fez o mundo da cabocla Jurema. Abaixo Hitler que os marcava com triângulos rosa para os punir publicamente. Liberdade consciente ao mundo: jamais o mal ao semelhante. Eles querem amar e ter direitos, já que como nos todos, pagam impostos!



VAMOS SER CRISTOVERSIVOS!