domingo, 31 de março de 2013

MEADOS DOS ANOS SETENTA.

Hoje, aqueles tempos cinzentos,  de chumbo são como cenas de filme antigo, histórias desbotadas, sinto me anos-luz do adolecente, militante do movimento estudantil via Pastoral (JEC) com seus 16 anos, sua revolta e pulsão de ser herói, vivendo a aventura da geração que depois, cortou-se com cacos do sonho. Não me desconforta e nem me enaltece esse passado.

Tive a tríplice felicidade de sobreviver, não ter sido capturado, seviciado e não terem me matado. A ventura de ter participado, a sorte  que me permitiu escapar.
As cicatrizes são relativamente brandas.

terça-feira, 19 de março de 2013

L U C I D E Z



Queria agora uma desculpa, deveria ter bebido. É, deveria.


Minha lucidez custa caro. Traumatiza. Depois, quem se lembra de tudo sou eu. Eu que lembro de tudo incondicionalmente e não quero mais lembrar.


Quero ter lembranças voláteis como o álcool.



LEMBRANÇAS (C.T.I)

Eu fui quebrando as portas como se quebrasse medos. Mas no fim das contas, só estava quebrando os ossos. E me diziam para ficar calmo, e me diziam para estender o braço, e me pediam para ficar tranquilo. Daria tudo certo. Quando eu desse por mim estaria feito.


Todos diziam que eu não sentiria (meu medo e não sentir). Quando vi aqueles olhos. Olhos negros, quem diria usando agulhas para espantar meus medos. Mas não importava o tão fundo que entrassem em minha carne, novas portas cresciam mais fortes, mais altas,mais intransponíveis. E eu ia percebendo que estava atravessando sozinho por dentro dos meus medos, guiado por uma loira sem sal.

Enquanto eu pensava, ressentido, na ilusão da beleza interior, aqueles olhos iam ficando distantes...Mas ainda vigiavam minha consciência.Tiravam minha roupa, monitoravam meus batimentos, diziam que os pesadelos não poderiam me perturbar. Então, quando as luzes pararam sobre o meu corpo, já não me importava.

Eu estava entregue à última lata de leite condensado. Sentindo a glicose correndo pelas veias.

Até não sentir mais.

segunda-feira, 18 de março de 2013

S O L I D A R I E D A D E

    Cartão inválido. “Cartão inválido, senhora”, falou a caixa da farmácia para uma idosa que estava na minha frente na fila. Ela fez uma expressão de dúvida, olhou para trás e para o lado. “Cartão inválido!”, repetiu a acompanhante dela, quase berrando. E ficou um silêncio, sem nenhuma atitude. Não aguentei: “Passa de novo, nem sempre quando dá cartão inválido está inválido. Pode ser problema na rede”. A caixa não suportou a intromissão: “Calma, senhora”. “É sua obrigação tentar de novo”, eu disse. A velhinha me olhou, olhou para a acompanhante: “Tem fundo, não está inválido” e digitou de novo a senha.A caixa, toda feliz: “Continua inválido”. A senhora tirou as mãos do andador para catar todo o dinheiro que tinha na carteira, diante da acompanhante muda. Eu respirei fundo.


    Muitas vezes, sou tomado por um senso de justiça. Sinto um desejo enorme de levar ternura para quem precisa, presenteando delicadeza, ajudando a solucionar problemas, vencendo as injustiças. Mas não é só bondade que me move, é um sentimento de raiva também, diante da forma como as coisas acontecem e como as pessoas agem. Parece-me que quase todos fomos levados, pelas dificuldades que a vida impõe, a desenvolver um sentimento de autodefesa. Como se, aos poucos, tivéssemos nos acostumado a cuidar do que é nosso, a criar uma casca, para que nada nos atingisse, já que nem sempre as coisas dão certo e andam fora de si por aí. Com isso, acabamos agredindo pessoas inocentes. A paciência já era. Nem deu tempo de parar para pensar e disparamos a bomba de autodefesa, repelindo quem, muitas vezes, não tinha nada com isso.

    Não acredito que seja o que moveu a caixa da farmácia. Ela estava falando no automático o que lia no visor da máquina.

    Às vezes, é só uma questão de ser cortês, de querer fazer bem o seu trabalho e não dar aquilo por encerrado, entender todas as etapas do processo para o qual foi destinado. Isso não equivale a ser bonzinho e, sim, a ser uma peça funcionando na engrenagem.

domingo, 10 de março de 2013

C O N C R E T I S M O S

            
              Abstrai-se do concreto.


Descasca as paredes, fura o teto.

             No teto, um céu de goteiras goteja aquarela.

                                                O balde transforma em suco de frutas.

            Bebe sem filtro.

Sem filtração, sem frustrações.





Alguém vem e

                    cobre tudo com cimento.

domingo, 3 de março de 2013

Yoani Sánchez-JN.Rede Globo!


(A blogueira cubana Yoani Sánchez, foi embora dia 26.02. Sua última parada foi o Rio de Janeiro, que ela elegeu como sua cidade brasileira preferida porque aqui teve “calma”— não enfrentou protestos de defensores do regime de Fidel Castro, que ela critica).JN.Rede Globo.

Ela Conseguiu espaço que muitos pop stars não têm. As manifestações contra a sua presença contribuíram, mesmo que não tivessem ocorrido,a blogueira teria espaço garantido pelo conservadorismo.
Na prática, ela veio cumprir a missão de afastar Cuba do Brasil, tem grande protagonismo por lá com a construção, por ideia de Lula—com a participação de empresas brasileiras e financiamento do BNDES—,do Porto de Mariel, que será o maior do Caribe.
Aqui no Brasil, o Instituto Millenium, que reúne a elite de direita no país, a banca desde sempre, com a reprodução de seus artigos antissocialistas.
Perguntas poderiam ter sido feitas à digníssima. Como faz para conectar-se à internet se afirma que os cubanos não têm acesso? Como é possível seu blog usar o sistema de pagamento, que nenhum cubano residente na ilha utiliza por causa das sanções? Quem se esconde por detrás do endereço eletrônico cuba.net, cujo servidor está na Alemanha pela empresa Cronos AG Regensburg registrado sob o nome de Josef Biechele, que aloja também sítios da Internet de extrema direita?
Como utiliza os 250 mil euros conseguidos em prêmios internacionais, correspondentes a mais de 20 anos de salário mínimo na França, quinta potência mundial, e a 1.488anos de salário mínimo em Cuba.
A exaltação a referida cubana me lembra Armando Valladares, festejado na metade dos anos 80 do século 20 e tratado como intelectual, cuja obra não nos era permitida conhecer pela censura Cubana. Valladares pediu asilo aos EUA, o que foi concedido.cidadão norte-americana, foi nomeado embaixador na Comissão de Direitos Humanos da ONU nos governos Reagan e Bush-pai. Depois nunca mais se ouviu falar dele. Seu livro não mereceu reedição um caso de ‘intelectual’ asfixiado pela liberdade.
Yoani reclama que a censura não lhe permite acesso à imprensa cubana, que na maior parte do tempo sua página na internet fica fora do ar e que por isso não é conhecida no seu país. Se Yoani morasse na periferia, ou usasse a internet pelo meu provedor de acesso, teria maiores motivos para reclamar.
Dizemos que temos liberdade apesar do Governador chamar de vagabundo, de bandido quem espera tren as 5hs da manhã,de sucatear os serviços do estado,do chicoteamento pelos seguranças da Super Via, das truculencias da P.M. do controle das empresas de comunicação por algumas famílias, do assassinato de uma juíza pela polícia do Estado, cobrança judicial de ‘taxa de segurança’ por milícias, a pretexto de ‘condomínio de rua’. Ainda assim consideramos que falta liberdade é em Cuba, onde vacina contra alguns tipos de câncer foi descoberta, mas poucos sabem por causa da 'liberdade' das nossas empresas de comunicação em não nos informar.

Brizola dizia que alguns empresários da mídia brasileira tratam aqueles que não lhes defendem os interesses como pessoas a serem isoladas ou mandadas para a Sibéria, a elas se referem negativamente.
Uma empresa aproveitou e em sua propaganda inverteu a lógica , isolados na Sibéria estão os que não adquirem seus produtos, e não aqueles proibidos de aparecer positivamente em seus noticiários!