sexta-feira, 25 de junho de 2021

E o amor, em vez de dar, exige.

 


Pensei que o doce realmente fosse doce, mas foi um sabor meio amargo, meio nada, quase sem gosto, outrora com gosto demais, firme. Eram tardes, poucas noites. Muitos risos, muitas falas. Mas ao telefone lágrimas e pessoalmente, lágrimas. Mais choro do que tudo. Esperava mais, um pouco menos. Talvez foram mais demais. Muitas linhas grudadas, enroladas, embaraçadas. Embaraçoso. Aí cansei de escrever sobre Marias e Anas. 

Vou escrever sobre mim, sem pseudônimos, sem facetas, sem. Palavras, palavras, letradas. Tudo no papel pra não se perder e não cansar muito os ouvidos. Pra não embebedar também, em excesso, a voz - um pouco rouca, um pouco com dor de cabeça e cansado demais pra falar. Ela que quase não falava, quase sempre nunca falou. Achava pesado demais falar, aquele ar saindo das cordas vocais, vocal, estranho ao corpo. Mas comigo ela era diferente, gostava bastante. E sempre achava as coisas complicadas. E quando descomplicava, complicava de novo. Talvez era só pra me ver falar, e aí eu arranjava forças e gritava. Alto, grave. Profundo. Mas me enfastiei e aceitei. Mulher sem nada, só mulher. Mulher só.

Foi então que ela escreveu, e me perguntou se estava bom, se poderia entregar para quem teve um relacionamento de anos: Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece...


terça-feira, 22 de junho de 2021

Deus não dá asas à cobras

 



 A eleição de bolsonaro trouxe ao país uma nova era, um momento obscurantista, movimento típico da idade média onde todo o lixo e esgoto do submundo começou a aparecer sem medo de mostrarem suas caras. Quando eu era adolescente eu acreditava que em 2021 estaríamos vendo carros voadores, mas o que eu vejo hoje é que um jornal de TV precisa chamar especialistas em horário nobre para explicar às pessoas que:

VACINA SALVA VIDAS

NINGUÉM FICA MAGNÉTICO AO SE VACINAR

ANTENAS 5 G são objetos macro e não caberiam dentro de uma agulha de injeção.

Moedas não grudam em pessoas que foram vacinadas. 

É um tipo de coisa que nem nas ficções mais infantis poderiam ser consideradas. A tal direita conservadora, que de conservadora não tem nada, fez emergir dos esgotos figuras como Carla Zambeli, Daniel da Silveira, a velha gagá que subiu num helicóptero com um FUZIL NA MÃO falando que vai caçar e matar um esquizofrênico psicopata que tá aterrorizando um vilarejo de Goiânia, o velho da Havan, um dos maiores sonegadores de impostos no Brasil que anda vestido de palhaço e zombando da cara dos brasileiros, o tal do sargento Fahur, que foi afastado da polícia por problemas cardíacos e usou jargões prontos para ser eleito e agora usa de imagem política pra falar um monte de merda sem sem incomodado e...

Mais um monte de figura bizarra que anda por aí falando e fazendo o que quer: tipo essa galera que acha que agora ta de boa colocar uma SUÁSTICA no braço e se der ruim eles dizem que aquilo ali é LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Quando eu falei pra uma amiga que caso eu fosse presidente um dia eu tiraria o direito dessas pessoas do acesso à internet e redes sociais, fui muito criticado e ela ainda disse que eu seria um ditador. 

Se esse tipo de gente fosse excluída das redes sociais e tivessem esse direito cortado, talvez não estaríamos passando por isso e a opinião pública não estaria contaminada com esse tipo de bizarrice e desinformação. Direito começa onde termina o do outro e liberdade de expressão tem limite, cometer crime não é liberdade. 

Seria ditadura? 

Que fosse então. Eu seria um ditador muito tranquilo. Ontem 21/06  um RETARDADO na Globo News, comentou sobre a seguinte matéria e fez o seguinte questionamento:

" DANIEL ORTEGA, presidente da Nicarágua, prendeu seu quinto opositor essa semana e provavelmente não haverá eleição no país esse ano. Será que Lula e o PT vão cobrar a ditadura da esquerda na Nicarágua ? " 

Não sei nem o que pensar e dizer sobre uma merda dessas. Só posso sentir e imaginar que esse povo tem muita sorte da gente ter um dos exércitos mais despreparados e mais lambe botas de imperialismo do MUNDO, e que, nossa esquerda é de longe a mais pacifica e democrática já vista por aí.

Se houvesse um mínimo de stalinismo e comunismo de verdade aqui no país, nem sei dizer o que seria dessa gente.



CHILIQUES

 


No chilique de de segunda feira(21/6) Bolsonaro mandou Laurene Santos, repórter da Rede Globo, calar a boca. Também chamou ela e sua equipe de "canalhas", e xingou a própria emissora, além de criticar a CNN. Sua misogenia é coerente: repetidas vezes ele elege mulheres como alvo de suas estúpidas agressões verbais a imprensa.

O que no momento perturba Bolsonaro são: O aumento da percepção da população sobre sua responsabilidade dobre os mais de 500mil mortos e os mais de 14 milhões  de desempregados,  e também as pessoas que  foram as manifestações de sabado(19/6) pela primeira vez, o que dá pra ser notado pelo comportamento delas.

Além do mais, a CPI da Covid começou a fase de rastrear o dinheiro das negociações para a compra de remédios  ineficazes para a doença como cloroquina . Há suspeita de que aliados dele tenham se enriquecidos!

COMPORTAMENTO

 


Há um padrão de comportamento do usurpador da Presidência. 

Os casos mais gritantes envolvem mulheres como alvo.

As reportagens e investigações mais incisiva, contundentes, são feitas há tempos por mulheres jornalistas, colocando em risco a realidade paralela que Bolsonaro tenta passar a seus 14% de seguidores mais fiéis.

O ódio de Jair, além de ser expressão clara de sua misoginia, é também sintoma de medo.

Quando acuado, Jair ladra!

Espero que os caninos não se ofendam!!!!!🐕‍🦺🦮

sábado, 19 de junho de 2021

500 MIL MORTOS


 Quinhentas mil mortes, um número que assusta e deveria causar revolta em todos. É como se toda a população de Volta Redonda, Barra Mansa, e Angra dos Reis desaparecessem, ou milhares de cidades sumissem do mapa. As comparações servem somente para despertar para a tragédia que vivemos. Porque a dor é imensamente maior.

Meio milhão de pessoas que tinham famílias, amigos, planos. Meio milhão de pessoas que podiam estar vivas não fosse a irresponsabilidade desse governo que deixou um vírus mortal se espalhar pelo país em mais uma atitude de passar a boiada para defender seus interesses. Lembram quando o Guedes disse sobre as contas do INSS seriam beneficiadas,como SUS seria beneficiado?

Não tenho convicção, já está comprovado que o presidente genocida  Bolsonaro negou inúmeras vezes as ofertas de vacina, inclusive com preços mais baixos do que os oferecidos a outros países. Mas foi muito rápido para aceitar a Copa América. Tudo isso são fatos, mas qual será a nossa resposta?


A reação precisa ser forte e firme nas ruas exigindo o impeachment de Bolsonaro. Precisamos mostrar para senadores, deputados, ministros do STF, e ainda àqueles que não conseguem enxergar por conveniência ou ingenuidade as atrocidades que esse governo vem fazendo com o país,  com a sua população. Essa luta é de todo o povo brasileiro. O momento exige responsabilidade, caráter e moral. Não podemos mais esperar que alguma coisa será feita para barrar esse genocida. As rus precisam ecoar alto.


A sede de poder, no sentido mais amplo do autoritarismo desse governo, não se contenta em retirar direitos e atacar trabalhadorxs e minorias, acabando com políticas públicas, jogando milhares de famílias na miséria. Isso é pouco. Ele tem planos genocidas, com o presidente zombando da população classificando essa dor como “Cancelamento de CPF”, imitando pessoas com falta de ar, recomendando o não uso de máscara e promovendo aglomerações.


Não é possível ser omisso diante desse quadro impressionante e insustentável que estamos vivendo. como o aumento acelerado das desigualdades em todas as suas faces.

Fiquemos nas ruas, vocês que estiveram hoje pela primeira, traga mais um. É possível tomar todos os cuidados necessários que a situação sanitária. Até o fim desse governo catastrófico. Por isso, as nossas vozes são tão importantes. O grito “Fora Bolsonaro” cessará quando o fim desse pesadelo que estamos vivendo acabar!. As vozes vêm da rua, as vozes vêm do povo.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Urgentemente.

Nossas dores estão expostas. Sofrem todos os que perderam alguém querido ou que convivem com as sequelas deste vírus, e  há uma dor que é filha da barbárie, que destrói a alma e a consciência, que é a de acompanhar o desmantelamento de todos os avanços sociais dos últimos anos. 

Voltamos décadas e a terra ficou plana. Fomos para um buraco de onde não se vê saída. Mas, além desses males, as relações entre as pessoas criaram rachaduras. E essas parecem refletir como e frágil o caráter de muita gente nesse momento de grave crise sanitária e de perigosa ascensão do fascismo. A pandemia, o isolamento e o olhar para a dor do outro significam um descobrimento e uma revelação. 

Não é preciso esforço para notar aqueles que têm o que chamo de “sentimento do mundo”. Não é a declaração de ser de esquerda, de direita ou de centro. É o olhar para dentro, para interior e entender a vida sem nenhuma explicação. A vida no que ela tem de mais natural: só viver, talvez, só sobreviver. Para mim,  isso estabelece com quem eu quero fazer a travessia e o enfrentamento. não é preciso grandes gestos. Resistir é o bastante. A resistência pode ser a solidariedade, o olhar amigo, o afago. Se a pessoa não tem a força para o embate, a voz amiga, o silêncio cúmplice podem ser a companhia que ampara a lucidez. É a hora do gesto, ou da intenção do gesto, como acho que já escreveu em um de seus livros Chico Buarque "se trago as mãos distante do peito, e por que há distância entre intenção e gesto" . Mas temos que demonstrar, de alguma maneira, a repugnância pelo culto à morte e o nosso compromisso com a vida. Depois do início de esperança em um intervalo menos sombrio, o Brasil volta a ter  quase três mil óbitos diários e o número de 500 mil mortos já está bem perto. São meio milhão de brasileiros que ocuparão as ruas silenciosamente e povoarão meu imaginário. Somos um país que precisa se reencontrar, pois a divisão se estabeleceu entre a grande maioria. Tenho dificuldade de convivência com quem vive em um mundo paralelo, onde a mentira e a ilusão são as regras. Nesse mundo, o real, quando surge, me ajuda a reforçar a que não aceito essa a fantasia. A realidade é tão triste, ruím que o acordar é, uma espécie de transe que me hipnotiza e me amedronta. Algumas situações me levam a uma reflexão. Escutei de um amigo uma história que dificilmente seria filme, de tão triate. O pai, morreu de covid no hospital. Já impossibilitado de vê-lo há vários dias, internado numa UTI fria e austera, recebeu a notícia que não poderia nem o pai para o sepultamento, pois seria perigoso o contágio, aceita mortalha do hospital e desce para encontrar o caixão, quando descobre que esse será entregue fechado, por segurança. Pergunta para o homem a sua frente, vestido de roupa de astronauta, como saber se é mesmo o seu pai que vai ali dentro. Maquinalmente é mostrada uma foto tirada minutos antes de fechar o caixão. Esse é o reconhecimento e a despedida. 

Por isso, o choro incontido deve ser também de alerta, de indignação e de revolta. E é bom que o grito substitua a apatia e ecoe forte e alto. É preciso voltar às ruas, respeitando quem optar por continuar o isolamento. Mas será um sinal de esperança e um gesto de resistência. Um andar, ainda que silencioso, pelas ruas que têm que voltar a ser nossas. Resgatando as cores, verde e amarelo, deixando claro para os fascistas que roubaram a alegria de um povo, mas não conseguiram roubar a esperança. Há maneira melhor de homenagear os que se foram e continuar a viver a vida. Devagar, mas urgentemente. 

Apoiando em que diziaminha Mãe: “Nunca se desiluda. Quem se desilude morre por dentro.  É urgente viver encantado. O encanto e a poesia são única cura possível para a inevitável tristeza.”

domingo, 13 de junho de 2021

Ato revolucionário

 

Ato revolucionário
Dando amor e sendo amado
Aceitando o que é oferecido
E a si mesmo ofertando
Sagrado
Infinito 
Querido
Iluminado

Ato revolucionário
Temido
Pertencido
Confessado
Andando, criando a estrada,
Voando, criando o céu

Ato revolucionário
O corpo e alma todo e tudo
Mesmo mudo
Pulso e pulsação na dança
A paz que alcança
A lança e o escudo
O amor é um ato revolucionário!

A dança da alegria

 


Se a vida fosse um grande ‘arraiá’, pediria emprestado o lado lúdico das festas juninas para enfeitar os meus dias. Também colocaria na minha rotina a alegria de dançar sem a vergonha de cantar bem alto ou dançar agarradinho com a felicidade. E sinto que seria bem-sucedido porque, só de imaginar tudo isso, já entro no ritmo do forró do mestre Luiz Gonzaga, em sua composição com José Fernandes. Afinal, não precisamos ser contemporâneos do Rei do Baião para acender a fogueira do coração e entender a letra: “Foi numa noite igual a esta/ Que tu me deste o coração/ O céu estava assim em festa/ Porque era noite de São João”. Do ‘arraiá’, pegaria também o cajuzinho, doce que sempre terá o primeiro lugar na minha preferência — superando, inclusive, o brigadeiro. Mas daria espaço a outras iguarias para que todos se servissem do que mais gostassem: canjica, pé de moleque, paçoca, espiga de milho... Ainda traria para os meus dias a magia da fantasia de caipira guardada no álbum de infância. Lá estão as marias-chiquinhas no cabelo e as pintinhas nas bochechas cuidadosamente produzidas pela minha mãe para a festa do colégio. Também colocaria laços de fita nos abraços virtuais dos amigos e enfeitaria os encontros online com bandeirinhas multicoloridas. E deixaria liberada a pescaria de bons sentimentos. Gonzagão, numa parceria com Hervé Cordovil, me levaria a andar por este país “guardando as recordações/ das terras onde passei...”. Ao mesmo tempo, nesse resgaste de tradição e folclore, haveria a constatação de que nem tudo é um baile junino, com a famosa ‘Asa Branca’, sua composição com Humberto Teixeira: “Quando olhei a terra ardendo/ Qual fogueira de São João/ Eu perguntei a Deus do céu, ai/ Por que tamanha judiação”. E, quando o locutor gritasse “Olha a tristeza!”, eu só queria ter a magia de responder bem alto: “É mentira!”. E, assim, seguiríamos todos juntos na dança da alegria!

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Até a Luz Sumir

 



Fomos felizes e somos

E quando não formos

Não se preocupe não 

Segure minha mão

Até a luz sumir      

Até acabar essa escuridão

Você confia em mim?


Algum pedaço de mim

Ficou ao seu lado na cama,     

Talvez um cheiro

Lembro do gosto da ponta do seu queixo

Vejo na tatuo de sua pele 

Tatuo com o dedo seu gosto

Sem mapas, desejo

Segredo e contato


O brilho cortante

Cacos de vidro

Palavras no corpo

Respostas no vento

Se for pra falar de amor

É melhor fechar os olhos

Esquecer ?

Poucos versos precisos!

A VIDA APENAS

 


Nós passamos a ser ficção ao tentar racionalizar. Nós somos os que querem discutir literatura, os que se preocupam em usar máscara e fazer isolamento enquanto as festas clandestinas são regras. Somos aqueles que insistem em ler e escrever. 

Nós estamos sendo engolidos por um universo medíocre onde o que se prioriza, no máximo, são os livros com resumos e “soluções” para concurso. 

O pensamento médio no país hoje tem a profundidade dos bolsona- ristas e, por isso, a terra tem que ser mesmo plana. Precisamos refle- tir e mudar a abordagem no enfrentamento.

É impossível ceder mais. 

Não podemos continuar com a tentativa de desmoralizá-los no confron o entre ciência e barbárie. Eles são soberbos e orgulhosos da ignorância. Temos que ter consciência de que a atuação deles é criado no gabinete do ódio, os ministérios paralelos, a instrumenta- lização das milícias, e das Forças Armadas. 

O Brasil virou pária mundial, não somos aceito em boa parte do mundo, e mais do que excluídos, viramos chacota internacional.

A foto na capa de um jornal  do Cristo Redentor respirando com auxílio de um tubo de oxigênio. Se o Cristo ficasse em Manaus, iria faltar oxigênio. 

Ao apontar o óbvio, a matéria fala da impossibilidade de mudar o Brasil com esse presidente. 

O governo fez a leitura que interessava aos seus seguidores e afirmou que o texto 

jornalístico propõe eliminar, fisicamente, o presidente. 

Vergonha alheia outra vez. 

Ninguém responderá ao ódio desse grupo com ódio. Queremos tirá-lo sim, mas pelo impeachment, por uma responsabilização criminal ou pelo voto. Até lá, vamos fazer o enfrentamento com política institucional, muita poesia, e uma dose extra de solidariedade, empatia e coragem. 

Como ensina Carlos Drummond de Andrade, no poema Os ombros suportam o mundo:


“Chegou um tempo em que não adianta morrer, Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A  v i d a  a p e n a s , s e m mistificação.”

terça-feira, 8 de junho de 2021

Fugindo da pátria armada

 



Meu primeiro desencontro com os mamateiros verde oliva deu-se quando eu tinha 13 anos.

Eu era inquieto e aberto a desafios. Contestar autoridade do outro estava sempre no radar. Sem conteúdo teórico e histórico acelerava minhas decisões e atitudes, e influencias de  pessoas próximas, (minha mãe)e com base em intuições. 

O ano era 1973 ou sera que era 1974? Era sete de setembro e as  escolas expunham seus alunos a uma marcha insana na cidade do Aço. 


Imagina a cena: Av dos trabalgadores, exército e sua sucata deslocando e levando atrás centenas de crianças a bater o pé no asfalto quente. Talvez o plano fosse capturar essas mentes ainda confusas e temente a comilões vermelhos. Aquelas autoridades recebendo continência de todos me causavam náuseas. Um teatro ao ar livre com atores de quinta categoria.

Minha escola estava preparada a alguns quarteirões de distância da comissão de frente. As professoras tratavam de exigir poucos risos e o endurecimento de nossos corpos frágeis. 

Eu observava atentamente a ida e volta dos supervisores para que pudesse dar solução a minha insatisfação através da desobediência. 

Estava claro que eu não iria seguir aquele bando de picaretas. Não estava disposto ao diálogo pois sabia que esse caminho estava enterrado e ali nem capim nasceria.

Então seria preciso fugir da formação ao menor gesto de distração dos fiscais sai da fila e dobrei a esquina com rapidez e corri mais dobrando mais outra esquina, em direçã onde funcionava o EscritórioCentral da CSN. Por ali fiquei até o fim do desfile  quando então me juntei ao grupo para seguir de ônibus até o Recreio onde humildes soldados, pendurados em velhos caminhões distribuíam sanduíches para aqueles rostinhos vermelhos do sol de meio dia.

Começou ali uma história de aversão aos homens das armas, suas canções e tentativas de submissões.

Outros desencontros aconteceram para consolidar toda minha desconfiança e aversão aos donos da bandeira nacional, mas isso vou relatar em outro momento.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Proparoxítonas

 

A fluência das sílabas

Em minha gramática.

Gostaria que saíssem líquidas.

Não tortas, incertas, erráticas.

Sem um barco para a boca náufraga

Acaricio a língua em verbos tímidos

Pra encontrar uma ilha atlântica

Pequena, irreal,  quântica

Na areia, dormir sonho lúcido.

Quê isso! É tudo algo insólito!

Sem terra, sem mar, sem sol,

Te encontrar 

Vou gaguejar... até o fim do fôlego.

E VAMOS A LUTA !

 

Viramos um país cansativo. Parece que o único assunto é a necessidade de resistir ao governo que cultua a morte e despreza qualquer racionalidade.

Perdemos a capacidade lúdica, a capacidade de sermos felizes, sem culpa. É como estivéssemos num navio à deriva em um mar revolto. 

A maioria das pessoas que vai prestar depoimento na CPI não tem compromisso algum com a verdade. A mentira um ato gesto de identidade nacional dos fascistas, ou dos seguidores dos Bolsonaris-tas. Os que não são fascistas, fazem parte da ala dos passistas, dos apoiadores, dos que puxam a corda para manter a realidade distante. Como se existisse um mundo paralelo, imaginário, habitado por esses seres estranhos. Mesmo o assunto sendo a vida humana, o que somos obrigados a ouvir é muito constrangedor.

Como dialogar com alguém que acredita que a terra é plana, que tomar vacina é coisa de comunista e que a Ciência não deve ser levada em consideração? Não estamos enfrentando uma visão diferente sobre o papel do Estado. A discussão não é sobre direita, centro ou esquerda. Esses bárbaros fazem uma política mesquinha, e ainda têm apoio popular.

No dia 29 de maio, embora assumindo uma contradição em termos, um enorme número de brasileiros, inclusive eu, foi às ruas para marcar uma posição a favor da vida. Nós, que insistimos, como um mantra, na necessidade de usar máscara, de manter o isolamento, de não aglomerar, de lutar pela vacina, tivemos que soltar um grito para que fôssemos ouvidos. Uma voz que estava travada, engasgada e adormecida. 

Entendo os que optaram por não sair. A coerência deles só faz aumentar o meu respeito. 

Mesmo já tendo sido vacinado, eu me identifico com os que protestaram em um silêncio de recolhimento. 

Na próxima, eu e os meus familiares, iremos de verde e amarelo como um sinal de que esses imbecis não podem usurpar nossas cores, como já fizeram com nossa alegria e com nossos sonhos. É preciso estarmos nas ruas e nos espaços públicos, para que, de certa forma, possamos materializar nossa esperança de ter o país de volta. É como se, num passe de mágica, nós ultrapassássemos, com segurança, o círculo de giz imaginário que nos aprisiona. Um resgate do menino, do poeta que existem em cada um de nós.

Não tenho dúvida de que só saímos às ruas pela consciência plena de que o governo deste verme mata mais do que o vírus. Estamos no meio da tempestade perfeita, sendo tragados por ela. O que mata é a negação, é o desprezo pela ciência, é a politização da pandemia. Teríamos milhares de óbitos, como ocorreu no mundo todo, mas é necessário demonstrar e apontar que, segundo os especialistas, pelo menos um terço dos que faleceram aqui pode e ser computado na responsabilidade deste governo. 

Quando o presidente, em uma demonstrações falta de empatia, de ignorância, disse, ao falar sobre o número de mortos, que não era coveiro. Infelizmente, a história está comprovando que ele é sim o coveiro. Não só o responsável pelo desmonte do país em todas as áreas, principalmente na Cultura, na Educação, na Saúde e na Economia, como também pelo número excessivo de mortes em razão do desastrado enfrentamento da crise sanitária. 

Por isso, estamos todos nas ruas, ainda que muitos só simbolica- mente. É como se estivéssemos resgatando de volta um país que foi saqueado, que se esfacelou. Ao cantar nossos hinos, ao vestir nossas cores, pode parecer piegas, estamos ocupando um país que é nosso e devolvendo a nós mesmos a capacidade de nos indignar. Essa é uma luta que ninguém pode fazer por nós. E que só depende de nós. Sem medo de sermos felizes.

Como disse Clarice Lispector:

“Embora às vezes grite: não quero mais ser eu! Mas eu me grudo a mim e, inextricavelmente, forma-se uma tessitura de vida.”