quinta-feira, 31 de outubro de 2019

EU VIVO



Rudah, eu vivo as angústias do meu tempo, as incertezas quanto ao futuro, os riscos do presente.
Eu vivo cada sofrimento humano como se fosse o meu também.
Assim, eu vivo a miséria, o abandono, a solidão, a falta de oportunidades, um vazio de expectativas,a desesperança que corrói a alma humana.
Curumim, vivo a fome, a violência, a falta de um lugar seguro e limpo para dormir, a falta de solidariedade, de amor ao próximo,  a falta de empatia.
Eu vivo a compaixão e a dúvida, o ambiente político cínico deste tempo, as mentiras como forma de discurso pra dominação.
Eu vivo a crueldade, a maldade gratuita, as enganacões que nos submetem.
Eu vivo a dor, a falta de cuidado e carinho,o  desrespeito, a saudade, a indignação solitária, a insônia na hora de dormir.
Eu vivo as injustiças, a falta de recursos, as dificuldades de acesso aos serviços públicos.
Eu vivo as falácias das privatizações, o ataque às artes, à ciência, à educação, aos artistas, intelectuais, cientistas e professores.
Eu vivo o processo de desqualificação dos trabalhadores e servidores públicos deste país, o insulto aos aposentados, a indiferença com os idosos, a intolerância com os diferentes.
Eu vivo o desmonte da razão e a falta de consciência.
Eu vivo a brutalidade,o autoritarismo, o fascismo e a manipulação.
Eu vivo a "intransparência", o discurso de ódio, os ataques aos direitos sociais, o assassinato da nossa Constituição.
Eu vivo a hipocrisia dos que estão próximos e longe de mim.
Eu vivo o desemprego, o aumento das desigualdades, as fobias sócio-culturais.
Eu vivo a morte da Democracia, o avanço da autocracia, o flagelo da soberania, o controle e a vigilância de todos os dias.
Eu vivo a censura, a ignorância, a estupidez,a psicopatia.
Eu vivo a vulnerabilidade dos excluídos sociais, de uma gente invisível aos olhos frios do capital.
Eu vivo a inércia de um povo que vai sendo aos poucos abatido.
Então, eu choro...
E continuo a viver...
Curumim.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019




 

Ela gastava parte do dia com as agulhas e o fio de novelo preparando calor. Com seu tricô, viajava nas imaginações e nos fazia blusas, cachecóis, mantas, gorros e o que julgasse necessário para espantar o frio. E fazia com o prazer consciente de quem já sabia que a vida não dá tréguas e que é a coragem que nos faz compreender que aquecer os outros é nosso melhor propósito.
Sofreu  partidas dolorosas. Deixou suas infâncias e teve que ser adulta. Deixou sua terra e descobriu a saudade. E foi vivendo. Falou muda, não poucas vezes. Chorou para dentro, para não se manifestar. Mas resistiu. Essas histórias, eu soube em seu colo. Eu insistia em ouvir novamente. Queria detalhes da longa viagem no navio. Queria saber quem acenou no porto da partida. Até o tempo do choro me interessava. E ela contava. Depois eu ia para a escola, e ela voltava ao seu tricô.
Houve um dia em que ela olhou, uma blusa que estava quase pronta. Olhou e não aprovou. E foi desfazendo com um fio que ia formando um novelo disposto a receber tudo o que já havia sido investido no que traria calor. Para, depois, começar novamente. Sem receios dos erros de antes.
Ainda ontem,  se foi e meu coração engasgou. Vivemos juntos o tempo das cobertas. Parecíamos prontos para permanecer. Tentei arrumar uns pequenos buracos que sentia no que nos cobria e ela disse nada. Apenas se foi. O sentimento de pouca importância tomou conta de mim. A pressa era tanta que a mensagem me significava ausência de amor.
Não é a primeira vez que sinto o que sinto, mas, enquanto sinto, sei que será o frio o meu companheiro. É hora de recolher o fio. É hora de aguardar o tempo do reinício. O que aprendi, entretanto, é prosseguir sempre. Com as mãos doídas ou não. Com as desilusões de mais um amor que não resistiu. Apenas, prosseguir.
Minha avó fechou os olhos, há algum tempo. E eu, de olhos abertos, vejo o passado e o futuro. E os fios que se embaralham nos meus sentimentos. Percebo os meus erros, eles vivem em mim. Percebo a pressa dos que não compreendem que eu posso me arrumar. Percebo, também, os erros dos outros e as minhas implicâncias. Longe de mim, a ideia de perfeição. Não há terreno amigável nas terras em que piso. Meus pés já sangraram muito. Mas meus olhos jamais perderam o poder de ver. O horizonte da vida é convidativo. Há paisagens por todos os lados. Algumas se repetem; outras, não. Todas, entretanto, nos surpreendem. Isso quando saímos a caminhar. Ou a dançar, mais uma vez, com as mãos que preparam um outro agasalhar.
Sei que a educação na infância nos confere amarras para a vida toda e nos prepara os pés para os tais terrenos difíceis de caminhar. Hoje, me abraço a uma velha blusa e me lembro da minha avó e me lembro de que o amanhã existe.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

IGNORÂNCIA, PRECONCEITO, PREGUIÇA



A recusa do presidente Jair Bolsonaro ao banquete oferecido pela família imperial japonesa em decorrência da ascensão ao trono do imperador Naruhito, ele ostenta ignorância e preconceito.
“Peixe, só se for frito”. Este foi o comentário do presidente Jair Bolsonaro ao entrar em uma hamburgueria em Tóquio –em vez de mergulhar nas delícias típicas espalhadas pela capital do Japão.
A declaração não surpreende nem um pouco. Mas é muito didática.
Em poucas palavras, Bolsonaro expôs três de seus maiores atributos: ignorância, preconceito e preguiça intelectual.
IGNORÂNCIA
Bolsonaro parece convicto de que a alimentação japonesa se resume a peixe cru.
Senhor Presidente, os japoneses também comem peixe frito. Inclusive, se o senhor demonstrasse algum interesse, poderia ter pedido dicas de algum restaurante especializado em aji furai. Há muitos deles em Tóquio –nunca fui ao Japão, mas sei usar o Google.
Aliás, no Japão também se comem peixe grelhado, peixe cozido e peixe em conservas de vários tipos. Não tem lambari do rio Ribeira do Iguape, é uma pena.
Por incrível que possa parecer, a alimentação nipônica não se restringe ao peixe e ao arroz. Tem carne, frango frito, curry, um monte de legumes, tudo o que se possa imaginar. Os japoneses adoram carne de porco, frita (tonkatsu), ensopada (buta no kakuni), no recheio de guioza, no lámen.
Por falar em lámen, é uma sopinha de macarrão que virou moda mundial. Tem até na Barra da Tijuca, acredita?
PRECONCEITO
O presidente estufa o peito para declarar a jornalistas que vai comer hambúrguer porque não gosta de peixe cru.
Ele parece tomar a própria restrição alimentar como um traço positivo de sua conduta. Sem essa selvageria de comer peixe cru, pelo amor de Deus.
Não é a primeira vez que Bolsonaro trata os orientais de forma ultrajante.
Ao “confraternizar” com um asiático que não falava português, o presidente aproximou o indicador do polegar e gracejou: “pequenininho”. Ele disse a quem quisesse ouvir que japonês tem pau pequeno.
Quando foi anunciar sua turnê ao Oriente, Bolsonaro, aos risos, esticou os olhos com os dedos e disse que assim se misturaria à multidão. A mensagem: “japonês é tudo igual”.
É esse o homem que diz querer estreitar relações com o Japão em uma viagem oficial.
PREGUIÇA
Jair Messias Bolsonaro é aparentemente imune a estímulos externos que o levem a explorar e buscar conhecimento.
O sujeito está em Tóquio, com seus letreiros indecifráveis, uma miríade de imagens, cheiros e sons desconhecidos e um mar de pessoas que se vestem e se comportam de modo muito diferente do brasileiro. O paraíso de um curioso. Cada portinha esconde uma surpresa. Cada restaurante, uma delícia.
O que ele faz?
Vai comer hambúrguer, pois não dá conta de armazenar informação nova. Na sua preguiça, se refugia no que lhe é familiar. Além de bajular o bufão-mor Donald Trump, é claro.
Sem falar que alguém da idade do Messias já deveria ter aprendido a comer sushi socialmente. Principalmente quando se é um chefe de estado que viaja ao Japão. Mas ele não gosta e não arreda mão disso. Com tal postura, dá para entender os filhos que o homem tem, Talquei!

terça-feira, 22 de outubro de 2019

MUDEI MINHA NATURALIDADE




Hoje estou abrindo mão da minha naturalidade pois o estado em que nasci, como todo o Sudeste votou maciçamente em um fascista para presidente, e em outro para governador resolvi de livre e espontânea vontade, conscientemente, assumir a naturalidade nordestina, cujo povo maravilhoso provou para o meu país que é formado por uma gente simples e inteligente que sabe votar.
Assim, em nome da Democracia, do Estado de Direito e da Justiça Social, a partir de hoje me declaro Nordestino, filho de uma terra que transborda força e dignidade, e que tem na solidariedade o seu modo de existir.
Um povo de palavra, trabalhador e honesto, que mantém as portas de sua casa sempre abertas para quem de boa vontade quiser chegar.
Sou nordestino  mesmo sem sotaque.
Sou nordestino, e é a partir do Nordeste que a resistência ao fascismo vai vingar...

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Traição o tempo todo.




    O incêndio não foi só na amazônia e centro oeste mas também entre os golpistas que estão no poder.
    Não há unidade nos assaltos!!!
    Bandidos costumam praticar a traição o tempo todo.
    Como ratos quando estão acuados ficam violentos. Abrem sua enorme boca e mostram os dentes uns para os outros. Foi o único ensinamento que receberam e nada há mais em suas ideias. Praticam o egoísmo diariamente. Envergonham qualquer formiga. Ou os cupins e as abelhas. São uma matilha que ainda não conseguimos definir com todos os detalhes sórdidos e truculentos.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

A PRIMEIRA VEZ QUE VI O MAR



Tenho saudade do mar. Tenho saudade da primeira impressão que tive diante do mar.Vim descalço de sonhos. Ela era o que eu tinha, quando nem vida tinha para contar história. Então, eu inventava.
A dor, eu não inventei. A primeira paixão foi cruel. Temia que acabasse. Acabou.  Chorei um choro tão doído e tão constante que aprendi a mentir tristezas. E, nelas, ia acreditando. Não queria que soubessem. Eu fui trocado e isso era fato.  Rascunhava na minha mente as minhas imperfeições. Ele devia ser melhor, se não, ela estaria comigo.
Foi assim que parti e fui para uma cidade em que ninguém me conhecia. E continuei inventando histórias. E, inventando histórias, fui sendo amado. Falei de uma viuvez precoce. “Minha mulher morreu em um dia de junho. Fazia frio e ela não acordou abraçada a uma foto minha. Uma doença súbita me trouxe o luto. E, por isso, parti.” Quando perguntavam de documentos de casamento, eu explicava que havia me despedido de tudo que lembrava aquele dia. Mudei um pouco a história para nos dizer noivos. Assim, não teria que mostrar documento. Acreditei tanto que não fui trocado que acalmei a saudade.
Encontrei outra mulher.  Repeti alguns erros, talvez. O medo de um novo abandono me fez um criador de vitórias. Apenas isso. E se foi. E se foi dizendo que eu era melhor do que as minhas invencionices.  Pedi que eu coubesse em um abraço seu. Apenas isso.  Me lembrei de minha avó que, um dia, se chateou comigo. Contei  que havia ganho um prêmio de poesia. E ela soube que nem concurso houvera. E não me abraçou.
Depois fui ver o mar. Um dia, me contaram que é tudo como as águas que vêm e que vão. Que as pegadas vão se despedindo uma a uma. As belas e as estranhas. Então, é preciso esperar. Nem sei bem se me contaram isso. Não quero mais fantasiar. No carnaval, certa vez, me fantasiei de feliz. Não. Aqui estou eu mentindo. Nem sei se existe essa fantasia. Se existisse, ia querer que fosse carnaval todo dia. Mas não é.
Era bom ir à praia. Era bom ver o quanto ela brincava com as espumas. E o quanto me beijava sem perguntas. Dos nossos sentimentos, vieram nossos filhos. Vez ou outra, me pegava dizendo que vivi o que não vivi.
Não sou um mentiroso. Sei disso. Gosto de florescer as histórias. Apenas isso. Ela percebia e dizia nada. Apenas me amava. Depois de tantos banhos de mar, ela se foi. De uma dessas doenças que ainda não conseguimos vencer. E eu fiquei. Choramos juntos entre túmulos e vidas. Havia os nossos filhos para dar alicerces. E alguma pouca juventude.
Depois dela, não mais fui ao mar. Era como se aquele lugar fosse para viver junto. Seus pulos cheios de gracejos. Seu mexer de braços. Seu correr sorrindo de volta para a areia, enquanto eu fazia castelos imaginários com as crianças.
As crianças não mais são crianças. Ela não mais virá correndo. E eu já não tenho vocação para construir castelo algum. Sobrou em mim um casebre de tempo. Ruindo a cada dia.
Estou em um hospital, me recuperando de um corte. Abriram. Tiraram alguma coisa. E fecharam. Dizem que estou bem. Que tudo deu certo. Não sei se é verdade ou não. A verdade é que tenho saudade do mar. Algumas pessoas dizem que, na morte, alguém que amamos vem nos buscar e nos conduzir para que tenhamos segurança. Fico imaginando ela saindo das águas do mar e me estendendo as mãos e me chamando para um banho eterno de amor.
Se eu quiser me lembrar das outras que partiram, consigo, mas tenho que me esforçar muito. Talvez me lembre mais da dor que senti quando elas partiram. É assim que é. Um dia, varremos as lembranças que não fazem falta e nos ocupamos de organizar os espaços que, na alma, se chamam gratidão. E senti que o amor só é amor quando não exige perfeições.
Nas lembranças de gratidão, vejo o sorriso dela admirando as minhas histórias e gostando de estar ali, comigo. Não sei se dei a ela tudo o que eu deveria ter dado. Não sei se agradeci o necessário. Éramos, um para o outro, o bastante. E foi assim que pegamos ondas, que ralamos no raso, algumas vezes, que enfrentamos profundidades. Juntos.
Quando sair daqui, quero ver o mar mais uma vez. E, se possível, entrar na água e chorar o quanto eu aguentar. E, depois, estar pronto para o que tiver que acontecer. Não. Não estou triste. Estou apenas nadando em memórias verdadeiras. E sorrindo acompanhado.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O problema é que ele não tá tomando sozinho.



O que os EUA tá fazendo com Bolsonaro é caso de Direitos Humanos, e o Psol, o PT ou Marcelo Freixo não estão fazendo nada!
É sério. Eu o considero um dos seres mais desprezível da Terra. Mas tá dando pena do capitão bunda suja.
O cara tá fazendo de tudo. Já cedeu a base de Alcântara ao Tio Sam, isentou os estadunidenses de visto, ofereceu a Amazônia ao Trump e até tiete da Disney se declarou. Mas, mesmo assim, Nova Iorque se recusou a homenageá-lo, o prefeito nova-iorquino disse que ele não passa de um cuzão e agora o Trump, um de seus maiores ídolos, não cumpriu a promessa de permitir a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
E o mais tragicômico disso é que Bolsonaro abriu mão do status de Tratamento Especial e Diferenciado do Brasil perante à Organização Mundial do Comércio (OMC) em troca do apoio dos EUA à entrada do Brasil na OCDE e o Trump inclusive elogiou a atitude, mas, obviamente, sem cumprir sua parte.
Tadinho do Bolsotário, digo, Bolsonaro. Até agora a única coisa que conseguiu dos EUA foi uma camisa da seleção estadunidense com o número 19 estampado. Ou seja, com o número errado ainda.
Isso é flagelo moral, humilhação, desonra, esculhambação. É pior que agressão física, tapa na cara, chute no saco. Mas, pensando bem, um submisso ao imperialismo que presta continência, lambe bota, baba ovo, se ajoelha e fica de quatro tá pedindo pra tomar.


O problema é que ele não tá tomando sozinho.