terça-feira, 29 de setembro de 2020

É primavera.



Por mais que tudo pareça  

                                        escuro e sem cor,

Por mais que o incêndio

                                       não te permita ser flor,

Por mais que a vida às

                                      vezes insista na dor,

E por mais que tudo  

                                     pareça insosso e sem sabor,


Há vida.

E nada a detém.

É primavera.  

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

L E M B R A N Ç A S




E numa manhã

o sorriso se vai

o instante e o impacto.


Perde-se a vida

perde-se no ato.


Sobram lembranças

Basta uma caminhada

longa e silenciosa

bate as asas, esperança.


O adeus resume um sinal

não importa o tamanho do passo

cortaram o  laço.                                                                           

a vida...

é uma rua fatal.      

                                                                             

 "Quanto mais me elevo, menor fico aos olhos de quem não sabe voar." Friedrich Nietzsche

COM O CORAÇÃO



Precisamos recuperar a nossa esperança, reconstruir a resistência e preparar a insurgência que está por vir. Precisamos buscar conhecimento em filmes e livros, e nos afastarmos da alienação construída nas redes sociais pela disseminação de fakenews. 

 Não nos permitir a omissão. 

Abandonar o silêncio da cumplicidade e revelar a nossa forte disposição. 

Precisamos assumir nossas responsabilidades e defender a nossa condição de cidadão. 

Defender o Estado, acima de qualquer governo, defender a nossa Constituição. 

Precisamos agir com sentimento, sair da zona de conforto da negação. 

Reconhecer que estamos sendo jogados para o retrocesso, impedir a fratura da nossa civilização. 

Precisamos fazer barulho com cuidado, Eetender como sair dessa situação. 

Ouvir canções de amor e de protesto, sonhar com uma vida pós-revoluçâo.

Precisamos acender nossas ideias, aprender de novo a nos abraçar. 

Respeitar o mundo em sociedade, afirmando a coletividade como opção. 

Precisamos viver em liberdade, não aceitar as formas de opressão. 

Reforçar em nós a solidariedade, não naturalizar a repressão. 

Precisamos cumprir o nosso destino neste momento de enorme aberração, nos afastar de toda essa irracionalidade, trazer para o nosso lado a razão. 

Precisamos ler sobre o fascismo, nos proteger da psicologia de massa da manipulação. 

Rechaçar o pensamento totalitário, condenar a tortura e a desinformação. 

Militar no governo beira a ditadura.

Este tipo de coisa não pode, não. 

Precisamos saber assumir os riscos e botar pra correr  aqueles que nos querem na exclusão. 

Acordar do pesadelo que estão nos causando, avançar na nossa luta 


Com o coração...

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

AS PERDAS DESSE ANO

O marido se foi. Ela teve os filhos. Seu filho mais novo brincava comigo como eu fosse seu pai. Desde sempre, ele gostava de livros e eu lia os livros com ele. Eram outros tempos. Brincávamos na areia da praia. Cantávamos músicas de acordar. E prosseguíamos acreditando nos afetos.

Os dias vão descartando as folhas e outras vão surgindo, aguardando novas coragens. Ela era corajosa. Não é mais. Coleciona medos, involuntariamente. Às vezes, pergunto se ela morreu. Ele responde com amor. Fala que, um dia, estaremos todos juntos. Explica que a morte não é o fim. Mas eu me disperso e não ouço tudo. Viajo pela nossa infância. Pelos textos que eu escrevia. Sempre quis ser poeta, mas só publiquei em mim os sentimentos de todos os tempos que vivi.

O sorriso dela era muito bonito. Eu dizia e ela não desmentia. Nas despedidas e nas doenças, nos olhávamos com a destreza de quem vai vencer. E permanecer. Mas ela foi embora. Sem mim. É o que reclamo com quem tenta me dizer outra coisa. É o que digo na minha oração. Não que eu queira ir. Gosto daqui. Gosto das lembranças das nossas conversas. Dos dias em que acordávamos sabendo que estavamos juntos, mesmo morando em cidades e estados distantes. Que cozinharíamos juntos. Que reclamaríamos juntos de alguma nuvem teimosa e decidida em esconder nossa alegria. Destes dias cinzentos, dessas chuvas finas.

Ela gostava de festa. Eu menos. A festa era ela. E logo é natal. Sem ela.

Quando sonho com ela, é sempre sorriso. É isso um sinal? De que ela está bem? De que ela me vê, enquanto encontro seu cheiro nas lembranças de tantos anos?

Digito. Caço palavras. Ensaio outras. Durmo. E acordo achando falta. Sei que é assim. Que todos os dias lágrimas despencam de quem fica, enquanto alguém vai. A saudade é um canto de amor. Canto na língua da minha infância canções de fé. E, assim, acalmo o dia. Ela está bem. Linda como sempre. Sem nuvem. Sem nenhuma dor.

E, do nada, me vem um sorriso de alegria. Sim. Ela está bem.     

Quando os mesmo sorriso dos olhos, são correspondentes ao dos lábios, como são todos os sorrisos bonitos.

Que um dia nossos desejos, vontades coincidem, mas se não coincidirem, que a sua prevaleça.

Era o que falávamos em coro quando partiámos, e foi o que o meu silêncio  disse na despedida.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Não sobrará muita coisa!

 




Alguém já viu um boi queimado nos incêndios no Pantanal, na Amazônia ou no Cerrado? Ouviu falar de uma plantação de soja atingida pelo fogo,  com algum deputado da bancada ruralista cobrando providências do governo?

Não, né? Pelo contrário, o Agronegócio está em festa por que é a única área que cresce mesmo na crise mundial. O Agro é Pop? Está preocupado em alimentar a população? Se você  acredita nisso... Procure o arroz do agrobusines!

Os incêndios não são acidentes! O desvio de finalidade do Exército brasileiro, atuando onde é área de atuação do IBAMA e ICMBio, com desperdício de milhoes do orçamento, não é incompetência!

O desmonte das políticas ambientais não é  pirraça do B*ls*n*r*!

Isso é projeto! O Inominavel, o Coiso,  está  destruíndo o país! 

Não sobrará muita coisa!

domingo, 13 de setembro de 2020

A fé que remove a montanha é a mesma que remove a liberdade

 



Aí vem o homem de "fé" e diz: a culpa é dos homens, Deus não tem nada com isso. Inventaram um Deus pau pra qualquer é toda obra. Quando as coisas vão bem graças a Deus quando dá merda a culpa é nossa. O bem e o mal é como Deus, são faces da mesma moeda. Delirar é permitido já pesquisar é pecado. Pra ter certeza que Deus está na direção, e sem habilitação, pais colocam suas crianças em sua carruagem, sem cinto de segurança desde pequenininhos. "Deus" liga seu GPS e os leva pra uma viagem quase sem volta pra maioria das crianças. Durante a viagem podem perder até a liberdade de desejar e de pensar de forma autônoma. Com chicote nas mãos vão  sendo levados ao mundo do medo e cinismo. Mundo da terra plana e do geocentrismo patriarcal onde se cultua as aparêntes misericordias e o falso moralismo. 

Por tudo isso, quero peixes em gaiolas, pássaros em aquários, é esses "Deuses" em outros Rosários, e seus templos destruídos pelo vento!

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

ETERNIZAR O INSTANTE.

 


Chora Yolanda, amiga que redescobriu em mim alguma esperança. Diz ditos que me assustam, tamanha dor. Suas palavras desenham acontecimentos que prefiro não espalhar. O que espalho é afeto, é colo, é um bolo que preparei recheado de intenções de adoçar o amargor de seus ontens. Enquanto come, conversa ela comigo.

O ex marido de Yolanda é o seu maior calvário. Ouço o relato dos que em discordância dos sentidos,  rasuram a palavra amor. As marcas de Yolanda horrorizam a paz que cultuo. Ela se culpa pela fragilidade. É boa demais para decidir. Eu discordo.

Aprendi, desde antes, que o bem é mais forte do que o mal. E escrevi, em meus passos, que não cederia nem por medo nem por acomodação. Ainda criança conheci e convivi com uma mulher, que superou e viveu a felicidade dos dias sem nenhum "ele". 

Sim, era sobre a fragilidade do mal que eu dizia a Yolanda. Mas, para que ele se vá, é preciso que o bem ocupe as conversas, e as caminhadas. Yolanda come o bolo de cenoura com calda de chocolate. Come e mastiga com a intenção de eternizar o instante. Diz que é bom ficar comigo. Tem vontade nenhuma de voltar para casa. 

Ela espalha simplicidades dizendo que seria bom se Deus falasse. Ela ouve um piar animado do lado de fora da cozinha. E ri. Gosta do voo dos passarinhos, mas está presa.

É quase hora de o sol se despedir. E, da janela da sala, se vê o longe. E é lindo. E, de perto, ela pouco vê de esperança. Quer viver mas não sabe... Não sabe se tem pena dele ou medo da solidão. Joga palavras desconectadas dos pensamentos. Diz que é a falta de trabalho. Depois se lembra de que antes ele era, também, errado. E chora no intervalo das mordidas do doce.

Eu coloco uma música(🎼 Esto no puede ser no mas que una canción

Quisiera fuera una declaración de amor

Romantica sin reparar en formas tales...)para agradecer o sol que mesmo partindo ainda aquece. Ela engole o café e suspira de prazer. Pede para ficar um pouco mais. Eu digo que tenho pressa nenhuma. Ela diz que é bom ouvir os passarinhos. Que poderia ter sido cantora, que teve aulas de música. Que poderia ter escolhido uma profissão que viajasse sempre. Eu digo que não há nada melhor do que o ninho da gente. Ela diz nada. E ensaia concordar.

Não posso decidir por ela. Não moro dentro dela. Só posso apresentar o que conheço para que ela se interesse por outro canto. No canto em que moro, moram o aconchego e a decisão de abraçar o bem como lei inscrita em mim e algumas feitas por mim mesmo. 

É o que me faz forte para combater qualquer desavisado que se ache no direito de sujar, de enfeiar os meus dias.

Acabo de decidir que vou cozinhar um bolo por dia até que Yolanda se fortaleça. Vou misturar o doce que se come com o doce que se sente, quando se sente amado. Vou caminhar com delicadeza pelas suas interrogações e ajuda-la a exclamar a força da sua liberdade. E vamos juntos com o que ela não desistirá. Enquanto penso, ela sorri como se lesse em mim os dias bons que virão. E dizemos nada depois da decisão.


Amanhã,  se não houver riscos, vou à feira que fica perto de casa e, depois, vou continuar  ouvindo os dias, as pessoas e as coisas que o enfeita.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

SIMPLESMENTE, NÃO HÁ

 


 


Não há felicidade possível 

Diante de uma inadequação da existência,

Quando a ideia de tortura 

É naturalizada

E quando uma gente aplaude o torturador. 

Não há felicidade viva

Quando a morte negligente é comemorada como sucesso

E a censura passa a ter um clamor popular.

Não há felicidade agora

Quando a nossa ancestralidade indígena 

É lançada ao sacrifício 

Do descaso e do extermínio 

E o racismo avança a todo vapor 

Estruturalmente, 

Institucionalmente, 

Nacionalmente

Nas mentes, corações e atos de tanta gente. 

Não há felicidade sentida

Quando a nossa Soberania é subjugada,

Quando a nossa vida é vigiada,

Quando passamos a ter medo de falar, se expor e pensar.

Não há felicidade possível. 

Simplesmente, não há.

Quando um povo passa a seguir um berrante,

Se alegra com o duscurso do ignorante 

E assimila a brutalidade e o xingamento como formas normais e apreciáveis de expressão. 

Não há felicidade hoje nem nunca 

Enquanto continuarmos covardes e egoístas, 

Enquanto persistirmos no erro da agressão, 

Enquanto não olharmos para nós mesmos

E reconhecermos os imbecis que nos transformamos...

domingo, 6 de setembro de 2020

 


Só existem três tipos de pessoas que podem dizer que esse governo tá ótimo:

O rico, 

O burro,

O mentiroso.


Você é rico?



Neste 7 de Setembro, há movimentos de resistência dos Brasis insurgentes se levantando contra a máquina de morte do bolsonarismo. Há gente com coragem de nomear o que está acontecendo no Brasil. Não sei se seremos muitos ou poucos. Provavelmente poucos, mas, como os mortos da covid-19, inumeráveis. Há momentos em que tudo o que podemos fazer é lutar, mesmo sabendo que vamos perder porque a maioria vai estar tocando a vida ― e seguirá tocando a vida enquanto considerar que é só a vida do outro que está em risco. Talvez a pergunta mais importante deste 7 de Setembro seja: como pode barrar seu próprio genocídio um povo que se acostumou a morrer?

Resistindo. Declarando sua independência, porque morte já há demais. No momento, quase 125 mil corpos. Rebelando-se. Não porque agora seja possível ganhar. Mas para não ser obrigado a baixar os olhos quando as crianças perguntarem no futuro próximo de que lado você estava e o que você fez para impedir B*ls*nr* de seguir matando.

sábado, 5 de setembro de 2020

“Pai, afasta de mim esse cálice”

 


“Pai, afasta de mim esse cálice”

Chico Buarque e Gilberto Gil

A música de Chico Buarque é de um tempo em que pouco podia se falar. Se fosse uma crítica ao governo, esse pouco era nada, foi preciso usar o “cálice de vinho tinto de sangue” para se referir ao cale-se ordenado pelos ditadores de plantão. Não faz muito tempo, pensávamos que era coisa de um passado triste e lamentável. Imaginávamos que tínhamos direito de pensar, escrever, falar e cantar livremente. Apenas esta semana, tivemos duas provas de que isso não é verdade.

A censura, não pela ameaça de tortura e morte, mas articulada por governos, empresários e com aval da Justiça. Os Guardiões de Crivella, que pagos com dinheiro público impõe no grito o silêncio às críticas da população à administração da prefeitura e tentam impedir de denunciar as falhas na saúde, é um dos absurdos. 

A decisão do juiz Leonardo Grandmasson Ferreira Chaves, da 32ª Vara Cível do Rio de Janeiro, de impedir o jornalista Luiz Nassif de publicar reportagens que denunciam negócios suspeitos envolvendo o banco BTG Pactual, é um outro atentado contra a liberdade de imprensa. O banco tem entre os seus fundadores o atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Poderia ter o Papa, mas não há nenhuma justificativa para determinar censura,  Constituição Federal Artigo 5º determina que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Não são os únicos casos recentes de censura em tempos de democracia fragilizada no país. Quando se tem "presidente" que ameaça e desrespeita jornalistas com frases como “vontade encher tua boca de porrada”, “cala a boca, não perguntei nada”, “ela queria dar o furo”, “você tem uma cara de homossexual terrível”, sem que haja nenhuma consequência, não se pode dizer que vivemos uma democracia em que a Constituição é respeitada.

O que temos presenciado, é que querem nos obrigar a engolir como normal, aceitavel, os sinais do abismo em que nos jogaram desde o golpe de 2016. A conivência com as manobras para retirar do poder um governo legitimamente eleito, sem que houvesse crime, abriu as portas para que todas as regras democráticas fossem quebradas.

Voltamos ao passado. Um passado marcado por arbitrariedades em que a censura é um elemento de controle. Vivemos, como diz a música, uma espécie de “pileque homérico” em que querem nos fazer manter “a palavra presa na garganta”. Rebelar-se contra a censura é mais do que uma necessidade. É um dever.