segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Não quero

 


Não quero 

o beijo

Quero 

o instante antes do beijo.

Quero 

o corpo em frente ao abismo.


Quero 

o lábio ardendo

Quero

o tremor e o temor

Quero

o escurecer da luz

Quero 

o desaguar dos corpos

Quero

o amor com o depois

Quero 

o vulcão.

Quero 

o beijo antes de está na boca.

domingo, 29 de agosto de 2021

É o que desejo.

 

 É o que desejo.


Como se debaixo dessa imensidão de pele não existisse mais carne, mais sangue. Existiam é mais sentimentos à flor da pele, a última gota d'água; existiam enjôos, náuseas e vômitos embolorados. Debaixo dessa pele, agora é só osso podre, é menos água, é cada engolida de água e sal. Um revestimento claro, doloroso, mas bonito. Um sorriso esboçado por um lápis sem ponta, falso, magro e sem cor. Na ponta dos dedos um objeto quase desconhecido, pintado de vermelho, roído. Entre esses dedos um cigarro, murcho, estranho e aguado por uma saliva ainda cheia de tempestades. Na superfície branca desse corpo, há olhos, bocas e choro escondido. Na pele, que guarda certos segredos se debatendo pra sair, não há delicadeza que consiga sequer riscá-la e não provocar dor, desmaios. Desejo que dentro dessa pele que exista salto alto, batom vermelho e disposição pra mais um amor, desses que mal cabe dento de algum pulmão, e que um grande pedaço dele fica escondido debaixo da goela querendo escapar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Buarqueana 3

 


Ele me beija a boca

Fico louca   

Fico arrepiada

Como se no corpo todo fosse beijada

Rouba meus sentidos

Diz em meus ouvidos

Segredos lindos, indecentes

Brinca comigo

Me beija a nuca,                                                                                                      

Me deixa maluca

Me machuca 

Entre as coxas

Faz rodeios

Me beija o ventre, os seios, 

Fico em brasa

Meu corpo, é sua casa.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Mais vinagre, mais amor, juntinho, moça.



Olha, moça. Estou desesperado com essa arruaça que virou o país, a vida, a cidade, o nosso bairro, a rua de nossa casa. 

Não me acostumei ainda com tanta revolta não sendo só minha, com esse cheiro agudo de vômito coletivo.

Olha, moça, a gente quer que o mundo seja mais bonito, mais florido, todo mundo mais educado, a gente quer conseguir ir ali sem passar raiva, a gente quer poder ficar calmo. Não quer?

Moça, me desculpe, mas eu nem posso dizer que meu cansaço do entorno é maior do que o seu, então vamos juntos dar mais uma vomitada pra ver se o cheiro cresce, a raiva desce, a cura, o resto todo.

Ai, moça. Todo dia alguém me violenta quando cai meu telefone, quando de noite dá medo de atravessar a rua, quando vejo que trabalham por pouco dinheiro. Ai, moça, tá bom não, moça. 

Sei lá porque você também acha tudo. Sei lá de onde veio esse grande dedo na goela da galera toda. Mocinha querida, nem te conheço, mas tenho medo de amanhã a gente não lembrar que hoje a gente faz tanta questão de mudança geral. 

Moça, por favor não desapareça, e sem fazer esforço, não me esqueça. 

E assim iremos, e assim vamos.

Não nos esqueçamos.






Vazio 

         agudo 

                   quando 

                               ando 

                                       cheio 




de tudo

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

O FIM DO TUNEL

 


A derrota de Bolsonaro na votação sobre o voto impresso na Câmara precisa de reflexão cautelosa sobre o momento brasileiro. O projeto é arcaico e reacionário. É a cara das “Bias Kicis” do governo e, claro, do ainda Presidente: o homem morte.

A responsabilidade pelos  crimes por ações e omissões se repetem todos os dias. Ele é  um serial killer, e precisa ser contido. O que temos que pensar é como contê-lo. Não no mundo dos nossos sonhos e desejos, mas com olhos no mundo real.


O projeto (a negaçãoda segurança da urna eletrônica), deveria ser rejeitada por unanimidade, mas teve 229 votos favoráveis. A oposição teve menos votos, apenas 218. Só não passou porque, precisava de 308 votos. Mas o projeto teve maioria dos votos a favor. Essa é a reflexão que precisamos fazer.

Tivessem o presidente da Câmara, o ministro da Casa Civil e mais alguns ministros se empenhado ao máximo para aprovar o projeto, ele seria acatado. 

Os 229 votos favoráveis ao projeto, me dá medo 

do fanatismo, e do messianismo e um governo sem escrúpulos e sem compromisso com o país.

O presidente, sua família e seus cúmplices devem ser negados na próxima eleição. A parada militar, que envergonhou todo o povo brasileiro, ( aqueles que não mugem) fez com que os posts nas redes sociais fossem de piadas. A chacota tem uma força corrosiva, até os bolsominions mais raiz sentiram o golpe.

Os cultores do golpismo e os provocadores da ruptura do sistema merecem nosso desprezo. Claro que existe a hipótese real de sequer se sentirem desprezados. É como imaginar que eles se sentiriam ridículos. Eles não têm a noção do ridículo. Temos que entender, com maturidade, que só nos resta a resistência diária e acolhedora. A luta permanente com humor, poesia e muita política.


A liberdade é uma palavra que o sonho nosso alimenta, não há quem a explique, e ninguém que não a entenda.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

NÓS CANTANDO QUALQUER BOBAGEM.

 




Ficar insistindo em dizer ambigüidades baratas e clichês. Um tempo, minhas 25 horas. E para não ser tão atemporal, uma xícara de chá bem quente com açúcar. Mas por favor, não se esqueça de pensar em mim quanto for se deitar. Atemporal, sim. Meloso e atemporal. Nada mais inóspito do que sentimentos sentimentais demais.

Questões psíquicas me atingem de uma forma covarde, tenho vontade de te abraçar e nunca mais soltar. Falemos então só da nova banda de punk-rock-metal-melódico-anarquista. Pronto. E acaba o dia e teremos outra discussão de como será a melhor para ambos.


Tá, eu não consigo. Prefiro tentar abrir a boca e te contar de mim como se você fosse meu papel amassado e em branco. Fingir que você ainda não criou o seu mundo e fingir que eu sempre fiz parte dele. Futuro. Nós dois. Cebola, alho, Raul Seixas tocando, rosas. Sal, água, sal, água. Mas mesmo assim eu nunca vi o que você sempre vê. Entretanto meus óculos vermelhos nunca sairão da estante. Vou sempre pedir o seu isqueiro, vou sempre arrepiar os pêlos quando sua boca quente me tocar. Vou sempre imaginar você me abraçando na hora de dormir pra ver se o meu medo do escuro passa. Adoro carinhos, cartas, remetentes e o tom de sua voz. Ainda sonho, afinal, com o óleo, as panelas queimando com a cebola e o alho e a gente cantando um rock antigo no fundo do nosso quintal.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

O Coração Se Recusa a Bater.

 

Não reconheço mais o meu coração

É como se ele se recusasse a bater

Você me me deixou cansado

Me escondo em palavras de te querer bem


É como o tempo, como está ao relento

Sinto saudades e não sei de que ou porque


Tudo acabou

Quando não vi pedaços de mim em você

Seus risos, a sua afobação

Como quem sabe o que virá 


Não mudei nada, não mudamos nada

Olho no espelho e é você quem me vê

Abre as feridas e fica calada

Ver pelo meus olhos que estou bem


É como o tempo, é como está o relento

Sente saudades, e não sabe de que ou porque


Disfarçamos a tristeza e fingimos sorrisos pra fingir viver.

domingo, 1 de agosto de 2021

DANÇANDO SEM USAR AS PERNAS

 



Foi ela quem me ensinou o que é ter um amigo, também foi ela quem disse, sem dizer, como é perder amigo. Nunca mais quis depois dela perder nada, nem a Flora, mas a Flora foi sem que eu pudesse impedir.

A pior coisa de todas é vê-la reduzida à um número, e tinha sido. Eu nem sei o que pensei na hora, mas chorei mais do que antes já tinha chorado um dia. E nunca mais quis saber de números, nem perder amigo.

As lembranças mais fortes são nossos encontros, nossa alegria, e ela dizendo que se eu quisesse logo o livro de volta ela lia mais rápido e devolvia.

Não ligo pra prazo não, só pra acesso. Ela nunca pediu nada, mas a gente fazia. Falaavam que ela não era lá muito flor que se cheirasse, e eu sabia que não era, e era essa a melhor parte.

Ela tocava o terror na escola inteira, baixava o capeteiro, abraçava o capeta e ensinava-o como dançar sem pés. E também me ensinava que o mais importante é conversar.

Sei lá quantos anos ela tinha, quinze? Sei lá quantos anos eu tinha, ela era mais velha que eu. E também eu era difícil e tocava o capeteiro e continuo sendo pirracento e chato, mas ainda gosto de conversar e de ler, como ela.

O aniversário ainda lembro a data. Ela era, e é tão forte que achava o máximo quando tinha que tomar sangue uma vez por trimestre porque aí ficava ativíssima.

Ainda assim, era amarela, e tinha aquele cheiro que eu aprendi a reconhecer depois como cheiro de prazo curto. Tenho medo de sentir aquele cheiro em mim, e em quem gosto, mas depois dela já senti outras duas vezes e não disse. Será cheiro de saudades dela?

Também não aprendi a escrever como ela, e não vou nunca. Mas preciso volta e meia lembrar dela e sentir falta, porque aí entendo que sirvo pra contar história, e que isso é útil para moças amarelas que gostam de conversar e têm prazo curto. 

Que as narrativas aumentem a vida dela, e os anos já contados!