segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Mais vinagre, mais amor, juntinho, moça.



Olha, moça. Estou desesperado com essa arruaça que virou o país, a vida, a cidade, o nosso bairro, a rua de nossa casa. 

Não me acostumei ainda com tanta revolta não sendo só minha, com esse cheiro agudo de vômito coletivo.

Olha, moça, a gente quer que o mundo seja mais bonito, mais florido, todo mundo mais educado, a gente quer conseguir ir ali sem passar raiva, a gente quer poder ficar calmo. Não quer?

Moça, me desculpe, mas eu nem posso dizer que meu cansaço do entorno é maior do que o seu, então vamos juntos dar mais uma vomitada pra ver se o cheiro cresce, a raiva desce, a cura, o resto todo.

Ai, moça. Todo dia alguém me violenta quando cai meu telefone, quando de noite dá medo de atravessar a rua, quando vejo que trabalham por pouco dinheiro. Ai, moça, tá bom não, moça. 

Sei lá porque você também acha tudo. Sei lá de onde veio esse grande dedo na goela da galera toda. Mocinha querida, nem te conheço, mas tenho medo de amanhã a gente não lembrar que hoje a gente faz tanta questão de mudança geral. 

Moça, por favor não desapareça, e sem fazer esforço, não me esqueça. 

E assim iremos, e assim vamos.

Não nos esqueçamos.






Vazio 

         agudo 

                   quando 

                               ando 

                                       cheio 




de tudo

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