domingo, 29 de agosto de 2021

É o que desejo.

 

 É o que desejo.


Como se debaixo dessa imensidão de pele não existisse mais carne, mais sangue. Existiam é mais sentimentos à flor da pele, a última gota d'água; existiam enjôos, náuseas e vômitos embolorados. Debaixo dessa pele, agora é só osso podre, é menos água, é cada engolida de água e sal. Um revestimento claro, doloroso, mas bonito. Um sorriso esboçado por um lápis sem ponta, falso, magro e sem cor. Na ponta dos dedos um objeto quase desconhecido, pintado de vermelho, roído. Entre esses dedos um cigarro, murcho, estranho e aguado por uma saliva ainda cheia de tempestades. Na superfície branca desse corpo, há olhos, bocas e choro escondido. Na pele, que guarda certos segredos se debatendo pra sair, não há delicadeza que consiga sequer riscá-la e não provocar dor, desmaios. Desejo que dentro dessa pele que exista salto alto, batom vermelho e disposição pra mais um amor, desses que mal cabe dento de algum pulmão, e que um grande pedaço dele fica escondido debaixo da goela querendo escapar.

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