segunda-feira, 31 de agosto de 2020

E aí, vida? Qual é a tua?

 



Viver a história que vai ser contada lá na frente está sendo cansativo e doloroso.


Enfim. chegaremos ao tal sonhado setembro. Quando em março falaram pra gente de quarentena, todo mundo deu um pulo: 

“Quarenta dias?!” E aí, uns diziam pra amenizar: “É só modo de falar, na verdade são quinze”. Alívio temporário e logo o choque de realidade que se arrasta até agora... Seis meses de pandemia.


Realmente, viver a história que vai ser contada lá na frente tá sendo cansativo e doloroso. Perdi amigo, que não conheceu a filha, como tantos outros cento e dez mil brasileiros com suas histórias cortadas. O que dói não é só o tchau, é o que todos não vão ver como isso termina. E como será que termina?


Os mesmos que nos avisaram lá atrás que isso só acabaria em setembro, e ele já tá aí, por mais corajoso e realista, não previa que a gente poderia piorar o que já era ruím! Aqui o ser que nos governa,e outros "humano" mostrou o seu pior, não ligam para o outro e continuam na sua defesa ignorante negando a doença, mostrando a sua essência cruel e egoísta. E autoridades que usaram da pandemia para mostrar os dentes fortes da corrupção. 

Gente de bem? Fracassamos como gente! A vacina vai demorar, mas vai chegar, porém a vacina, antídoto da ganância, da falta de caráter e da falta de empatia que já é endêmica e só vejo ganhar força... Esse sim tá longe de ser criado, sabe por que? Não interessa a eles um povo vacinado.

domingo, 30 de agosto de 2020

10 PERGUNTAS AOS BOLSOMINIONS:

 


10  PERGUNTAS AOS BOLSOMINIONS:


1- O que diria Jair Bolsonaro, se o MST disparasse uma saraivada de fogos contra o Palácio do Planalto?


2- O que diria o vice-presidente Mourão, se sindicalistas da CUT, portando tochas e trajando máscaras, se postassem em frente ao STF e pedissem a cabeça dos ministros?


3- O que diria o general Heleno, se militantes petistas, em frente à sua residência, gritassem palavras de ordem ofensivas à sua família?


4- O que diria o ministro da Defesa, general Azevedo e Silva, se deputados da bancada petista financiassem milícias digitais pregando revolução?


5- O que diriam os oficiais da reserva, que apoiam manifestações golpistas, se tais atos fossem patrocinados não por empresários, mas por sindicatos?


6- O que diria Carla Zambelli, se Gleisi Hoffmann desse apoio a uma criminosa que houvesse ameaçado fisicamente um ministro do Supremo?


7- O que diria Bia Kicis, se vândalos do MTST tentassem invadir as dependências do Congresso Nacional?


8- O que diriam os bolsonaristas, se Lula incentivasse os militantes petistas a invadir hospitais públicos?


9- O que diriam os bolsokids Carlucho, Bananinha e Rachadinha, se José Dirceu pregasse desobediência civil armada contra os prefeitos?


10- O que diz a consciência dessa gente que não tem qualquer vergonha de defender o indefensável e justificar o injustificável?




 Enquanto Bolsonaro estiver na presidência, de nada vai adiantar a troca de ministros. Sempre será nomeado um pior.

O TEMPO PASSANDO.

 


Tenho 7 anos. Olho para minha professora e procuro desculpas para que ela me veja. Faço perguntas desnecessárias e comentários que tentam roubar algum riso seu. Em casa, penso no que dela fica em mim. Seu jeito de andar, sua braveza leve, seu penteado, seu perfume.

Tenho 14 anos e não gosto do que vejo. Uma vergonha de ainda não ser homem. Uma preocupação de não ser mais criança. Natália tem 18, não me olha como eu a olho. Sou um amigo responsável e é ela a mulher que desejo para a eternidade. Acabou, há pouco, um namoro. Aprendi a palavra entressafra. Senti ser o momento ideal para dizer meus sentimentos. Deu em nada. Jogou um olhar piedoso e decidiu não querer estragar a amizade. O consolo que era ela 'namoradeira demais', concluií .

Tenho 17 anos. Estava tudo bem. Janaína 20 anos desceu de algum planeta para iluminar minha vida. Me ofereceu, sem pestanejar, o paraíso. Foi o que senti na primeira vez em que nos deitamos juntos. Meu corpo se transformou, meus pensamentos, também. Os risos constantes atestavam minha sanidade. Era bom ser dela. O futuro já estava certo, quando, sem muita cerimônia, ela partiu. E eu, partido.

Tenho 23 anos. Desmarcamos o compromisso. Subitamente. Talvez tenha sido eu o portador do erro. Respondi aos seus desejos de futuro com posturas evasivas. Fiz, repetidamente, o discurso da liberdade. Sabendo que o enlace mais aprisiona que pereniza sentimentos. Juliana, então, arrumou sua parte na nossa história e se foi. Era inverno e, em pouco tempo, compreendi o meu erro.

Tenho 30 anos. Marina é linda. É de todas as mulheres que conheci a que mais se alimenta de poesias e de flores nascidas de encontros suaves dos cotidianos. Tão minha e eu não dela. Foi então que, cioso da eternidade de nossa história, fui brincar com outras histórias. Na imaturidade dos meus anos, quis mostrar aos meus amigos o meu poder. E, então, ela disse "não". Tentei explicar. Ela cobriu minha voz com seu choro calmo e partiu. E eu sofri como sofrem os imbecis. Tentei colar. Os cacos despedaçados já não se encontraram.

Tenho 40 anos. E brinco de desencontros. Prefiro a solidão ao medo da perda. Me enrosco em palavras, quando me interessa o encontro. E, logo depois, justifico a decisão irrenunciável de permanecer sem ninguém.

Tenho 49 anos e estou completamente apaixonado. Penso o dia inteiro em quem dia nenhum pensa em mim. Já ofereci o mundo e já recebi nada. Falamos algumas vezes depois e ela se mostrou decidida a permanecer sozinha. É o que me diz. Já investiguei se outro a tem em meu lugar. Descobri nada.

Tenho 60 anos e conheci virtualmente, quem comigo vai descortinar as estações. Foi sem procurar e surgiu ela em um desses dias pandemônicos de isolammentos, silenciosos de nenhuma espera. Ou melhor, para ser lírico, foi em uma praça, foi em um pedido de informação. E nos informamos que o melhor era nos guiarmos para não nos perdermos mais.

Ela vive comigo o amor que espanta as teorias de que só nos inícios se experimenta as quenturas. Nos surpreendemos com delicadezas e nos ousamos mais. O que fazemos é forte e aquece os dias bem vividos.

Tenho 70 anos e continuamos como no início.

Tenho 77 anos e ando com a sensação adolescente de uma paixão correspondida. 

Tenho 84 anos e estou sentado na mesma praça em que a conheci. O dia está frio. E, ao, longe a vejo chegar sorrindo.

Tenho 91 anos e vivo bem de saúde e de amor. É Ela que conheci há alguns anos, eu tinha 60, em uma praça, que esquenta o seu corpo no meu. Nos amamos com respeito e respeitamos nosso jeito de decidir viver acompanhado. O amor nos promete o milagre da longevidade

Tenho quase 100 anos, mas sobre esse dia falo em outro momento, sem pressa.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

O Pensamento Voa.



na expectativa de te rever

o corpo rosna como leão bravo

o pensamento voa

feito beija-flor

os sentidos nadam

o coração acelera 

eu troco as letras das palavras

não me concentro.

paro tudo. paro o mundo.

atravesso qualquer parede,

obstáculo, oceano

para ter teus olhos nos meus

pra ouvir seu primeiro bom dia.

dizer o último boa noite. 

- sensível e ao mesmo tempo forte -

toque teu em mim

em minha pele que formiga

igual menina na porta da escola.

sinto teu corpo deslizar pelo meu

sinto meu escorregar

-para dentro de você

 te beijo e meu desejo relaxa.

relaxo todo/ relaxa inteira.  

fica mole. maria-mole em meus braços.

-tal qual minha entrega-

ser teu brinquedo, teu sossego ...

o voo desengonçado de um morcego.

estou em teus braços, boca e olhos

nas tuas mãos estou e relaxo.

adormeço devagar sentindo cheiro de vida no ar

adormeço em teu abraço

-me desconheço-

dormimos juntos mais uma de tantas

e tantas outras noites.

respiramos e sonhamos

juntos até latir dos cachorros,

o cheiro de café que chega.

amanhece. recomeço.

Despencamos.

 

Isso da gente querer ser o que se é,  é o que nos levará além.


Ela 

é triste

é o contrário

é pintura


O rosto 

ela dança 

ela acredita 

ela decora 


E se eu pudesse


é de louça

é de éter

é loucura

é cenário


A casa 


ela mora no céu   

as paredes de giz            

ela chora 

me leva


Me ensina 

andar com os pés no chão

diz os desastres da minha mão

Diz se é perigoso a gente ser feliz


é uma estrela

é mentira

é comédia

é divina


despencamos do céu.


terça-feira, 25 de agosto de 2020

"Valei-me Deus é o fim do nosso amor..."

 


"Valei-me Deus é o fim do nosso amor..."


O marido de Flordelis era filho adotivo dela. Ta bom pra você? E esse marido, antes, enquanto ainda era filho, namorava uma irmã adotiva que também era filha de Flordelis.


"Perdoa por favor, eu sei que um erro aconteceu."


Mas aí, Flordelito cansou da cara do atual-marido-exfilho e pediu pra outros filhos - que poderiam ser seus futuros maridos , eventuais amantes  e que eram irmãos, enteados e filhos adotivos do falecido - para darem um fim no mesmo.


"Mas não sei o que fez tudo mudar de vez..."


Flordelira não queria se separar. Separar é feio, Jesus não  gosta. O que pensou? Hum... que tal  matar? Lógico!! Matar é  super de boas. Amém? Todos disseram amém.  Gente de bem, sabe? Tá  chorando? Louve. Tá sofrendo? Louve. 


Aí o que nossa gênia raciocionou? A gente chama a neta que é  irmã,  que é  sobrinha, que é  enteada, que é pau, que é pedra, que é  o fim do caminho  e chama as irmãs que são  tias, cunhadas, concunhadas e irmãs, pra que? Pra tacar uns venenos em Anderson, a vítima.  Toma-lhe arsênico, formicida,baygon, live do Gustavo Lima e o homem vai morrendo aos poucos...


"Será talvez que minha ilusão foi dar meu coração com tanta força  a ponto dessa moça me querer vendo capim nascer pela raiz? Quiçá  até raiz de uma flor de liz?"


Mas o homem foi morrendo  devagar demais...  Flormicida queria tour nova, novas front-laces. Queria ir no Encontro falar sobre como superou sua dor doando quentinhas e dublando Kleber Lukas. Luto vende. Ela queria um novo nicho.Rolou um pânico.  Fazer o que?

Colocar joelho no chão?

Jejuar?

Se aconselhar com Malafaia?

Curso de bolo de pote com a primeira dama?

Não. 

O negócio é tiro.

Lógico.


Pá pá pá pá pá pá 


"Morto na beleza fria de Maria."


O que começa errado,  errado termina.


FlordeLace chora sem derramar uma lágrima.  Peruca torta. Peruca torta cor de mel. Carinha de pincher e terninho de microfibra. Louvores equivocados.


"Onde foi que eu errei, eu só  sei que amei e amei e amei  e...


... Morri."


Depois satânico é o macumbeiro que fica de boas tomando banho de pipoca pra se proteger do covid.  A mulher conseguiu ser viuva, mãe de luto, homicida, filicida, incestuosa... tudo ao mesmo tempo. FLORATRIZ

ANTES DE CHEGAR A PRIMAVERA.

 


Gosto de estar aqui. Foi assim que começamos a conversar nesse final de mês que antecede a primavera, com o céu azul que acho lindo, e um sol amarelo que chega a "esquentá" a pupila, ela riu e começou a falar. Nossos encontros,  mesmo não sendo tão frequentes é como se estivéssemos sempre juntos. Concordei e ela continuou.

O balanço me preenche de ontem e de amanhã. E isso é bom. Hoje, nem a brisa que acompanha o meu movimento acalma o mundo.

Sou de uma família de mulheres. Três irmãs criadas por uma mãe viúva. Balançamos muito na vida. Ora víamos de cima as plantações de tudo, ora era por baixo de tristes cobertas que nos púnhamos a espantar a frieza dos dias. Sorrisos e pausas. Esperanças e medo. E os dias foram irrigando nossos pés. E, assim, crescemos.

Eu disse:

-Esses gritos enlouquecidos contra uma criança que infância não teve. Roubaram a inocência de seu corpo sem tempo. Um tio, outro tio, um avô. Sei pouco do tanto que a atormentou covardemente. Homens bichos. Podres de alma.

- Não sou julgadora. Não sou nem serei igual a eles. Não sou promulgadora de vinganças ou ódios. Sou uma mulher em um balanço.

- Lembrei que ela tinha cabelos longos, quando éramos criancas, e gostava de ficar sentada aqui ventando vida no mundo. Não faz tanto tempo. 

-Ela disee:Cresci crescida. Verguei os que se puseram contra meu movimento. Valentia sempre tive. Violência, nunca.

Minha mãe sofreu duas vezes. Por um marido que fez morrer as suas crenças em um amor verdadeiro e pelo mesmo marido que morreu de doença sem cura. Foi feliz só depois, quando nos viu desabrochando sem medo. Foi curando a dor com as colheitas de seu plantio.

Sou um pouco minha mãe. Hoje mesmo, ela me disse isso, enquanto eu falei sobre minhas discordâncias dessa gente que domina a verdade. E sempre gritando.

- Eu disse. Gosto do seu  balançar. Do movimento do seu corpo, sentada nesse antigo banco. Das mãos atadas a cordas devidamente pensadas para segurar sem espantar a liberdade. 

-Ela disse: Sinto a liberdade em cada movimento que decido. Ai dos que imaginam decidir por mim! Faço o contrário! Por precaução, inclusive. Obediência só à bondade. Que me venham com delicadeza e me convençam. Ou então que se contentem com o meu desobedecer consciente.

Você é um homem que bebe da mesma água do respeito em que, desde cedo, aprendi a gostar. Quando minhas irmãs e eu nos púnhamos a duvidar dos dizeres do meu pai, minha mãe nos silenciava com sua decisão de não sujar a semente que nos fez viver. Era ela quem comandava a sua vida. Era ela quem nos inspirava a comandar a nossa. Nos deu limites. Somos livres para o balanço do que nos faz bem ou mal, do que nos acalma ou nos causa horror.

Eu disse: Tenho horror ao indecente discurso da mentira. 

-Ela disse: Sonho em ser mãe, em educar meus filhos na alegria. Virei aqui com eles, certamente. Empurrarei no começo e, depois, assistirei satisfeita ao balançar de cada um. 

Eu disse: Que decidam eles os próprios movimentos. Ensine a bondade,a gentileza, a ternura, o restante se ajeita. Continuei, o mundo está estranho. Sei disso. Mas não quero o desânimo. É um ciclo. Vivemos tempos de aridez de sentimentos. 

-Ela disse: As alternâncias existem. Não sei quem decidiu, mas é assim.

Gosto disso. Tenho em casa o que desejo ao mundo. Liberdade com responsabilidade. Verdade com respeito. Amor com amor.

Eu disse: Gosto de estar aqui. Nesse parque. Nesse balanço velho e eterno. Nesse mundo com suas alturas e funduras. Gosto de vê-la, de conversar com ela.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

APESAR DE TERMOS FEITO TUDO O QUE FIZEMOS!

 




O nosso lado é melhor, mais leve e mais feliz. Somos inteligentes e cientes da dinâmica social, mas também nos divertirmos. A gente bebe, fuma, (ou não), escuta música e transa por prazer. Nosso lado tem a cor da paixão, é vermelho, é  vermelhante, é nosso e vamos vermelhar, vamos defendê-lo.

É possível que um dia a gente descubra que nossa maior frustação ao entrarmos na vida adulta talvez tenha sido não derrotar o a ditadura. Nossos sonhos nunca se realizaram e tivemos de nos contentar com uma democracia de paisagem onde as urnas eram verdadeiras miragens de uma ideal não alcançado. Bebemos a água que fingia ser fresca mas que escondia em sua nascente venenos de uma sociedade que se mantinha conservadora. Bebemos em outras fontes e só assim conseguimos impor alguma forma de mudança no contexto, mas muita gente ainda permanece bebendo daquela água. Passou-se a engarrafar e a distribuir o veneno para abençoar o passado de suas vidas, e batizar o presente e futuro daqueles escolhidos pra continuidade aos tempos de escuridão, que pensávamos enterrados.

Estamos envolvidos num dilema aterrorizante que parece de difícil solução. Fazer secar essa fonte de cinismo e covardia exige da gente mais que sabedoria. Exige aquela disposição que tivemos no passado quando as fontes do conhecimento nos levaram aos sonhos e utopias. Exige entender que a mesma água que dá a vida fisiológica é aquela que pode nos retirar a vida consciente, a liberdade e emancipação. 

Jorrando em caminhos cibernéticos tortuosos e controlados, tal líquido venenoso tornou boa parte das pessoas dependentes e sem perspectiva. 

Daí muitos acham que encontraram no oásis dos infames sua salvação. Ali descerebrados curtem e compartilham a intolerância regada com a água do desconhecimento e assim se acham superiores e felizes. 

É nós cantamos as músicas que fazem chover, na esperança de um dilúvio que venha hipnotizar toda essa gente que só faz se submeter. 

Não me parece que este antídoto vá funcionar, então precisaremos ensaiar as canções de guerra e voltar a sonhar com nossas utopias e os velhos caminhos de liberdade, sem os quais corremos o risco de nós afogarmos nas lágrimas que se derramam em vários territórios pensantes.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

onde os sonhos se encontrarão.

 

Me encantou em contraluz.

Quis perguntar: quem é?

Mas a voz fraquejou, sem jeito lhe pegava as mãos, como se desatasse um nó. 

Soprei seu rosto sem pensar e o rosto se desfez em pó.

Voltou por encanto cantando a meia voz.

Perguntei: quem é?

Mas faltou a luz.

Fugia devagar de mim, e quando te segurei, seu vestido se partiu.

O rosto já não era o seu.

Há de haver algum lugar um casarão, onde os sonhos serão reais, a vida não.

Por ali você reinaria, seus risos, seus ais, sua tez.

E uma cama onde à noite

sonhasse comigo talvez, em algum lugar deve existir um bazar onde os sonhos extraviados param, e todos nossos sonhos se encontrarão.

Escadas? Fugirão  dos pés.

Relógios? Rodarão  pra trás. 

Se eu de novo sonhar?

Não acordarei mais!

terça-feira, 18 de agosto de 2020

V A C I N A

 


Na fila da vacina um sujeito pergunta ao outro:


- Que fila é essa?


- Para tomar vacina da Covid.


- Hmmmm. Qual delas?


- Não sei. Contra a Covid.


- Mas tem que saber.


- Por quê?


- Para não tomar a errada.


- Como assim?


- A vacina chinesa não rola tomar.


- Por quê?


- É do Mao.


- Do mal?


- Não, do Mao. Mao Tsé-Tung. Vacina comunista.


- Ãhhh...


- Colocam um chip dentro do sujeito e dá efeito colateral. Li no zap.


- Qual efeito?


- A pessoa fica com os olhos puxados.


- Não sei se é a chinesa...


- Mas se for a russa também não vale a pena.


- Não?


- Comunista também.


- A Rússia comunista? Não acabou isso por lá?


- Nada. O Putin é a reencarnação do Lenin.


- Do Lenin?


- Sim, e nem disfarçam, sobrenomes terminam com in. Stalin, Lenin, Putin... Uma linhagem vermelha.


- Mas...


- E olha o nome da vacina. Sputnik. Tô fora! Comunismo saudosista é muito pior.


- Acho que a fila é para a vacina da Oxford.


- Oxford. Ahhhhh, essa eu tomo! Inglesa. Vacina nobre. Sangue azul.


- Sim, ela é produzida pela Fiocruz aqui no Brasil.


- Fiocruz?!


- Sim. Os caras são feras, reconhecidos internacionalmente.


- Feras nada. É tudo CO-MU-NIS-TA!!!


- A Fiocruz comunista?


- Sim, eu li na coluna do Constantino! Não tomo a vacina desses vermelhos.


- São só essas três que estão oferecendo no Brasil. O resto o Trump comprou.


- Não tomo. Seguirei sem vacina. Na verdade, eu acho que essa conversa de vacina é para nos dominar. Li no zap!


- E como você fará para se proteger? Usar máscara? A propósito, onde está a sua máscara?


- Quem disse que máscara serve para prevenir o coronavírus?


- A OMS.


- CO-MU-NIS-TA!!!

domingo, 16 de agosto de 2020

I R O N I A

 


Os olhos não enxergar
A beleza 
Procurar um amigo
Sem olhar para o lado
A verdade amarga, quente
Não comove diante
A doce e fria ironia
De dizer: te amo
Como quem reclama
O sonho que não vive
E a vida se inflama
Até que explode
Juntando os pedaços

Não é fácil
Todos procuram
A doçura do amor
Na ironia do mundo

Lugares para se chegar
Buscar o melhor
Deixar o antigo
Lembrar aprendizado
Na boca que se sente
Provar num instante
A vontade é ainda
Esquecer os enganos
Já que a gente canta
Vida que acreditamos
E a ironia é tanta
Que a até confundimos
Os nós com os laços!


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

NÃO PERCAM !

 




Todo bolsominion merece ir pro paraíso.

Cruzeiro marítimo com passagem grátis pra todos eles conhecerem a borda do planeta. A precipitação com aquela sensação de vazio que alimenta os pensamentos ruins será inesquecível. 

Vagas inesgotáveis em camarotes com aquecimento a gás sarin.  Noites de ema com farta distribuição de mamadeiras de piroca e tira gosto de cloroquina.

Fantástico Carnaval fora de época animado por cantores sertanejos.

A vida começa depois do fim do mundo e eles merecem ir pra lá!

terça-feira, 11 de agosto de 2020

O L H O S N O S O L H O S

 


Me passeie que eu gosto                  

de me arrepiar sob suas digitais.


É impossível calar.

Feito sorte, me abraçe forte.


E marque seu corpo no meu.


Me prova, 

                 me enxerga, 

                 me sinta, 

                 me cheire.


E me marque em ti.


Quando nossa voz não sair abafada pela máscara, olhos nos olhos ouvir-los dizerem: 


Tô com saudades!

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Seu país voltou!.

 


"Em 2001, a TV Globo,  numa reportagens, acho que foi "GloboReporter" que depois premiada, não lembro os autores, apresentavam a “Fome no Brasil”. 

Revelavam que uma criança morria de fome no Brasil a cada cinco minutos. Em pleno “milagre neoliberal”, como gostam de citar alguns intelectuais e políticos de direita no Brasil, uma criança morria a cada cinco minutos no Brasil. Vou repetir, porque penso que o número deveria ser usado em qualquer discussão sobre política e economia de agora em diante. 

Ao começar a ouvir qualquer argumento dos defensores desta hipocrisia de direita, pare e escreva “em 2001, aos sete anos do governo FHC, uma criança morria de fome a cada cinco minutos no Brasil”. 

Repita ou escreva, não importa, mas sempre comece por esta informação. Em seguida, olhe a ginástica retórica que o interlocutor fará e avalie se ela se encontra no campo da ignorância ou da mancha  moral insanável. Qualquer das duas opções, é uma conversa que não vale à pena.

Não sei se já mencionei, mas em 2001, uma criança morria de fome a cada cinco minutos no Brasil. 

Chocante, inaceitável, inumano, é irrisório perto da pergunta de um pai, quando confrontado pelo jornalista se não havia como o seu filho “ganhar um pouco mais de peso”.  Os pai, com a sabedoria de quem luta para sobreviver, respondem ao repórter “o que você acha que eu devia fazer?”

 Este diálogo reflete o Brasil do neoliberalismo. O repórter, obviamente não sabia sobre o que perguntava e não conseguia compreender o que via e ouvia. Provavelmente foi dilacerado a cada entrevista, eis que é  humano. 

O pai entrevistado, sequer com tempo de tirar a enxada das costas para falar, faz a pergunta fatídica que separava os brasis de forma tão evidente. “O que você acha que eu deveria fazer?” para salvar a vida da minha filha que não tem o que comer ...

Eu me recordo de assistir esta reportagem e chorar, copiosamente. Eu não choro com hino, bandeira ou camiseta verde amarela. Não choro por cântico religioso fervoroso. Não choro por ver alguém “atingir a meta” de malhar todo dia e perder peso. 

Não sou de reconhecer heróis em ações ordinárias e totalmente comuns. Eu chorei como criança vendo aquela série. O olhar dos pais para o repórter era a demonstração de que nada, absolutamente nada naquele país, poderia estar dando certo.

O que não consigo entender é como os pais, se tornaram “vagabundos que se aproveitam do Estado para não trabalhar”. 

Ou ainda como a fome de sua filha poderia ser um reflexo “da meritocracia” que levaria – em um livre mercado – a sociedade brasileira a ser produtiva e rica. Não entendo como eles se tornaram o “problema das contas públicas do Brasil”, tendo contra si os dedos da classe média (saciada) e da maioria dos que apertam botões no parlamento, e que hoje defendem o fim dos programas sociais, dos direitos do trabalho e a redução de vencimentos para os mais pobres.

Apenas uma sociedade doente, ignorante e hipócrita pode acreditar que eles estão sofrendo assim por que não se esforçaram o suficiente. 

Apenas uma sociedade lunática, terraplanistas, cínica e monstruosa pode se convencer de que eles sofrem desta forma por não terem fé suficiente ou por não terem depositado algum valor numa conta em nome de algum deus.

E eu não falei ainda da sua bebê, que padece da fome.

Certamente quando ela crescer, depois de ter lutado para sobreviver, vai saber evitar as mazelas da sociedade. Vai se esforçar numa escola pública de algum sertão poeirento e seco e vai concorrer “de igual para igual” com alguém que comeu na infância toda e que “não aceita privilégio” de quem quer que seja.

Também não falei de você, que se “revoltou” com o conto das “pedaladas” e saiu  batendo panelas vazias, fazendo dancinha – de barriga cheia – querendo o “seu país de volta”. Pois a ONU informa que a fome voltou ao Brasil. O seu país, finalmente, voltou.

 E se você a ele reivindicar as cores verde e amarela, fique com elas. Não me farão falta as cores de um país em que uma criança morria a cada cinco minutos de fome. 

Um país hipócrita que não aceita vidraça quebrada, mas nunca se importou com os muitos pais que enterram seus filhos em caixas de sapato, como “querubins sem pecado”, no único consolo possível.

Que bom que as cores nos diferem. Você fica com a hipocrisia em verde amarelo e eu procuro qualquer outra que dê guarida a um país sem fome. 

Quem nos olhar saberá de pronto que não me misturo com quem prefere o cassetete à cabeça do estudante, quem prefere o privilégio da gravata à comida da criança, quem tem força física para bater em panela, mas tem de inanição moral.

Não sei se já falei, mas em 2001, aos sete anos do governo de FHC, uma criança morria a cada cinco minutos de fome, no Brasil.


Este país voltou ...

De fome ...

Encontro desmarcado com a burrice

 




Acordei no meio da noite pensando no poder da burrice. Fico achando que existe um encantamento na burrice que a qualifica como parte do método para arruinar vidas. Já ouvi falar na burrice como doença e considerei razoável essa percepção.  Também me disseram que a burrice tem a magia de unir as pessoas por baixo. União pela preguiça de elaborar pensamentos e dar chance a cognição. Outro dia me disseram que encontraram a burrice em pessoas com diploma de nivel"superior" e que portanto nem todo conhecimento seria capaz de prevenir tal poder. Também fui alertado pelo perigo real de pela burrice, o que me deixou fora de órbita, pensando em me isolar  enquanto a onda passava. Bastou uns dias, para entender que eu já havia me imunizado quando criança, ao lutar por minha identidade, e foi o bastante pra intuir que a burrice tanto pode vir de berço, como ser absorvida dos exemplos de meus ídolos. Deduzi que a burrice estáva por todos os lados. 

A cada nova hipótese, eu via o tamanho da coisa ruim. Claro que isso me fazia buscar respostas, pois a dúvida é semente da investigacão. Perguntas foram então formuladas, mas nenhum otimismo percorria meu cérebro. Se a burrice está no DNA da gente, podemos correr em busca de uma mutação, mas se está em nossos ídolos o que fazer? Afinal, com tantos ídolos burros, a burrice tem terreno fértil pra prosperar. Fiquei imaginando a burrice se espalhando pelo país, à partir da gente mesmo que aplaude e dá ibope aos ídolos energúmenos.   Uma burrice potente, capaz de combater qualquer forma de lógica e conhecimento. Uma burrice metodologicamente correta. Uma burrice que parte da simplicidade, onde pouco importa o desconhecido, se a gente pode varrer para debaixo do tapete as dúvidas. Uma burrice que dá risadas dentro da gente, e faz a gente bater recorde na produção de endorfina é capaz de criar e recriar ídolos para cada uma de nossas pretensões burrologicas. Com essas visões, me aproximei do precipício disposto a encerrar minha busca pelas causas da burrice através dos tempos recentes. No último instante, abri meus olhos e vi que a burrice estava por trás dessa minha atormentada decisão. Confirmei que a burrice é realmente muito poderosa mas ao mesmo tempo fraca. Eu tinha poder e iria vence-la. Eu descobri que o conhecimento pode salvar vidas e unir pessoas de bom coração. Não havia destino e muito menos um Deus a me guiar. Quase que a burrice  conquistou minha caixinha de pensamentos. 


Eu vi a morte e ela se chamava burrice.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

NA PRÓXIMA PRIMAVERA



Ontem, fez dois anos dele sem ela. E ela faz, ainda, aniversário nele. Não tiveram o poder da decisão, não limparam os ditos incorretos,não rasuraram explicações.

Tinham o bom e o ruim do silêncio. Ficaram quieto tempo demais. E tudo o que é demais perturba. Por que não ficaram, então, quieto naquele dia? Perguntei

Ele falou primeiro. Contou o que não era necessário ser contado. Culpou o desejo que é mais forte do que ele. Quis estabelecer a sinceridade.

Estavam juntos, há algum tempo. .

Ela falou nada. Olhou para dentro, querendo entender. Tantos anos juntos.

E foi assim o entardecer de um inverno há dois anos.
Dormiram sem abraço. E se levantaram sem calor. Ela se lavou de tudo o que achou necessário. 

Foi quando chorou o fim. Ou não. Ficou imóvel. Enquanto dizia que nunca mais o enxergaria como antes, fez silêncio. Deitou-se na cama, em que tantas vezes se amaram, e se fez perguntas querendo saber por que ele não a abraçava eternamente, por que ele não espantava, junto com ela, o frio daquele dia e de todos os outros.

Como ele queria ter dado aquele abraço! Mas não deu. Como ele queria ter dito que era ela a mulher da sua vida! Mas não disse. Ficou no silêncio perturbador, zeloso dos enganos. E, então, ela  abraçou a si mesma e foi se levantando. 

Quanto aos desejos que teve, se abrandaram. E foram apenas desejos de um homem inseguro diante do despedir da juventude. Nada aconteceu.

Desarrumada, arrumou as suas coisas. Disse que o resto alguém organizaria. Ele disse nada. Ficou olhando e chorando por dentro. Imaginava que ela iria mudar de ideia. 

Na primeira noite sem ela, algum alívio. Nos últimos tempos, havia muita posse, muito ciúme, muita invasão.

A liberdade de alguns dias foi se transformando em cansaços. Ele tinha a certeza de que ela voltaria com a alegria de sempre, com as festas por bobagens, com as quebras do seu silêncio. Era ela a barulhenta da casa. Seu jeito de menina bagunçava de um jeito bom os seus dias. No jardim que plantaram um no outro, havia os dias festivos, de viagens, de noites de luares. Havia as imagens, um à espera do outro. Da janela de onde se via tanta gente, ele a olhava atravessando a rua e voltando. E ríam à distância. E, então, ela entrava e se amavam como nos inícios.

Soube dela por outros. Que está bem. Que ri das coisas simples e que pouco fala dele. Chegou a encomendar flores e ensaiar uma surpresa. Desistiu. Talvez prefira a lembrança do que viveu e do que imaginou.

A distância apaga as feituras e confunde os fatos. Soube por outros de segredos que ela escondeu. De fazeres errados. De alguma hipocrisia, quando chorou fidelidade. Mas não é nisso que ele pensa, agora. Pensa no seu cheiro e em alguma esquina em que, quem sabe um dia, se encontrarão novamente.

Espero que o reencontro deles seja na próxima primavera...