quinta-feira, 3 de junho de 2021

E VAMOS A LUTA !

 

Viramos um país cansativo. Parece que o único assunto é a necessidade de resistir ao governo que cultua a morte e despreza qualquer racionalidade.

Perdemos a capacidade lúdica, a capacidade de sermos felizes, sem culpa. É como estivéssemos num navio à deriva em um mar revolto. 

A maioria das pessoas que vai prestar depoimento na CPI não tem compromisso algum com a verdade. A mentira um ato gesto de identidade nacional dos fascistas, ou dos seguidores dos Bolsonaris-tas. Os que não são fascistas, fazem parte da ala dos passistas, dos apoiadores, dos que puxam a corda para manter a realidade distante. Como se existisse um mundo paralelo, imaginário, habitado por esses seres estranhos. Mesmo o assunto sendo a vida humana, o que somos obrigados a ouvir é muito constrangedor.

Como dialogar com alguém que acredita que a terra é plana, que tomar vacina é coisa de comunista e que a Ciência não deve ser levada em consideração? Não estamos enfrentando uma visão diferente sobre o papel do Estado. A discussão não é sobre direita, centro ou esquerda. Esses bárbaros fazem uma política mesquinha, e ainda têm apoio popular.

No dia 29 de maio, embora assumindo uma contradição em termos, um enorme número de brasileiros, inclusive eu, foi às ruas para marcar uma posição a favor da vida. Nós, que insistimos, como um mantra, na necessidade de usar máscara, de manter o isolamento, de não aglomerar, de lutar pela vacina, tivemos que soltar um grito para que fôssemos ouvidos. Uma voz que estava travada, engasgada e adormecida. 

Entendo os que optaram por não sair. A coerência deles só faz aumentar o meu respeito. 

Mesmo já tendo sido vacinado, eu me identifico com os que protestaram em um silêncio de recolhimento. 

Na próxima, eu e os meus familiares, iremos de verde e amarelo como um sinal de que esses imbecis não podem usurpar nossas cores, como já fizeram com nossa alegria e com nossos sonhos. É preciso estarmos nas ruas e nos espaços públicos, para que, de certa forma, possamos materializar nossa esperança de ter o país de volta. É como se, num passe de mágica, nós ultrapassássemos, com segurança, o círculo de giz imaginário que nos aprisiona. Um resgate do menino, do poeta que existem em cada um de nós.

Não tenho dúvida de que só saímos às ruas pela consciência plena de que o governo deste verme mata mais do que o vírus. Estamos no meio da tempestade perfeita, sendo tragados por ela. O que mata é a negação, é o desprezo pela ciência, é a politização da pandemia. Teríamos milhares de óbitos, como ocorreu no mundo todo, mas é necessário demonstrar e apontar que, segundo os especialistas, pelo menos um terço dos que faleceram aqui pode e ser computado na responsabilidade deste governo. 

Quando o presidente, em uma demonstrações falta de empatia, de ignorância, disse, ao falar sobre o número de mortos, que não era coveiro. Infelizmente, a história está comprovando que ele é sim o coveiro. Não só o responsável pelo desmonte do país em todas as áreas, principalmente na Cultura, na Educação, na Saúde e na Economia, como também pelo número excessivo de mortes em razão do desastrado enfrentamento da crise sanitária. 

Por isso, estamos todos nas ruas, ainda que muitos só simbolica- mente. É como se estivéssemos resgatando de volta um país que foi saqueado, que se esfacelou. Ao cantar nossos hinos, ao vestir nossas cores, pode parecer piegas, estamos ocupando um país que é nosso e devolvendo a nós mesmos a capacidade de nos indignar. Essa é uma luta que ninguém pode fazer por nós. E que só depende de nós. Sem medo de sermos felizes.

Como disse Clarice Lispector:

“Embora às vezes grite: não quero mais ser eu! Mas eu me grudo a mim e, inextricavelmente, forma-se uma tessitura de vida.”

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