quinta-feira, 10 de outubro de 2013

RECICLANDO

A caixa de lembranças ficou pequena para todas elas e transbordou. Arremessou a tampa para o lado oposto do quarto. Fez pessoas ressuscitarem do passado, e agora, elas querem ficar. Não podem. Não devem. Priscila  não as quer mais. Estão fora do tempo, ultrapassadas e mofadas. Mofo não lhe faz bem, ela é alérgica.
Travou uma batalha contra as próprias lembranças até que todas estivessem devidamente rasgadas – o som de lembranças rasgando lhe soa ainda pior que o de dedos estalando – e separadas na lata de lixo reciclável. Assim, existe o risco de retornarem – de novo – ela gosta de arriscar.
Batalha vencida, hora de recomeçar. Repetição é praxe em sua vida desde a infância – nunca trocava as figurinhas repetidas. – Ao acordar, o pé direito toca o chão primeiro. É assim desde seus cinco anos de idade. Será assim para sempre. Sempre é muito tempo.

Ela resolve guardar um retrato, que desbotado pelo tempo, não lhe permite reconhecer o rosto, mas fica feliz com o que esta escrito no verso...

''Me traz o seu sossego,

atrasa o meu relogio,

me da sua palavra.

Sussura em meu ouvido

so o que me interessa.''



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