A caixa de lembranças ficou pequena para todas elas e transbordou. Arremessou a
tampa para o lado oposto do quarto. Fez pessoas ressuscitarem do passado, e
agora, elas querem ficar. Não podem. Não devem. Priscila não as quer mais. Estão
fora do tempo, ultrapassadas e mofadas. Mofo não lhe faz bem, ela é
alérgica.
Travou uma batalha contra as próprias lembranças até que todas
estivessem devidamente rasgadas – o som de lembranças rasgando lhe soa ainda
pior que o de dedos estalando – e separadas na lata de lixo reciclável. Assim,
existe o risco de retornarem – de novo – ela gosta de arriscar.
Batalha vencida,
hora de recomeçar. Repetição é praxe em sua vida desde a infância – nunca
trocava as figurinhas repetidas. – Ao acordar, o pé direito toca o chão
primeiro. É assim desde seus cinco anos de idade. Será assim para sempre. Sempre
é muito tempo.
Ela resolve guardar um retrato, que desbotado pelo tempo, não lhe permite reconhecer o rosto, mas fica feliz com o que esta escrito no verso...
''Me traz o seu sossego,
atrasa o meu relogio,
me da sua palavra.
Sussura em meu ouvido
so o que me interessa.''
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