sexta-feira, 7 de julho de 2023

AMIGOS

 



Naquela mesa, nos encontrávamos há muitos anos, nos reuníamos para celebrar as conquistas, a formatura dos filhos, os casamentos, chorar as tristezas dos amores não correspondidos, as perdas das pessoas queridas, as rasteiras e as trairagens sofridas pela vida.   

Preguinho, Abutre, Yaá, Esquisito, Sem Futuro, Carcamano, Alemão e Camarada. nós éramos da mesma geração (nascidos na década de 60). Únicos casados: Preguinho e Carcamano. Mas ali era o território livre da parceria dos homens. Conheciam-se por terem se criado no bairro, e alguns estudaram juntos. Pelo olhar, sabiam um do outro e se o momento era bom ou mau — uma ligação mais forte até que a de muitas famílias, que muitas vezes não tem nem trocam afetos. 

Nós trocávamos afetos como se irmãos fossemos, tinhamos prazer real em dividir ideias, dialogar, pensar juntos a vida, o mundo, a política, apesar de termos posições diferentes, o que todos naturalmente respeitavam. Preguinho, ao ver a imagem de Vini Jr. exibida na TV do bar, traz pra a mesa o tema do racismo — o jogador vem sendo vítima na Espanha. E Preguinho fala do assunto por ser negro, por ter sofrido preconceito racista em sua jornada, mesmo tendo instrução superior.

Todos se agitam por causa do episódio em que, num jogo, metade do estádio xingou o jogador brasileiro de macaco, e Xeréu, o dono do bar, com os oclinhos na ponta do nariz, permanece ligado na conversa, ficando claro pelas falas que era como se a dor de Preguinho fosse a dor de todos. Geralmente era assim: se um assunto era considerado importante, passava a ser assim para todos. Xeréu adquiriu o título de agregado pela qualidade dos pastéis de queijo que preparava, pelo bolinho de bacalhau, pelo churrasquinho, pela cerveja sempre gelada e pelo acolhimento,  como se fossem de sua família. Era um legítimo amigo, e o bar extensão de nossas casas,, onde vivíamos as emoções do futebol, da sinuca...

Xexéu lembra que, por falar em discriminação, a Câmara dos Deputados aprovou um Projeto de Lei para proteger os coitadinhos dos parlamentares, vítimas de preconceito, especialmente quando pedissem financiamentos aos bancos.

Carcamano: “Para já, aí é sacanagem, aí eles estão querendo legislar em causa própria”. Xeréu, advogado, explica que a pena é maior até que aquela para atos de preconceito por idade ou contra pessoas com deficiência. Preguinho completa: será que, por coerência, desistirão daquela proposta de anistiar os partidos, que aumenta o preconceito contra negros e mulheres? Erguemos os copos, e brindamos contra a nova versão da Lei da Mordaça. Um por todos, todos por um!

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