domingo, 29 de setembro de 2019

`Lícia, você continua linda!




Hoje, é aniversário de um dia de dor. Quisera eu ter o dom do esquecimento. Ele partiu hoje, faz muitos anos. Deixou uma explicação simplória, desenhou culpas e mais culpas em mim e se foi.
Nós nos vimos poucas vezes. Sem nenhum aceno. Quisera não ter acreditado em amor único. Quisera ter me feito nova para uma nova história. Fiquei, entretanto, aguardando a primavera, aguardando um milagre que fizesse renascer um amor tão lindo.
Ele nunca mais voltou. Tive que me virar sozinha com o frio. De tristeza, fiquei rica. Quando alguém trazia alguma notícia, conversava com as lágrimas para que não viessem enfeitar os meus sentimentos. Tenho vergonha. Soube ele me convencer de que o erro foi meu. Hoje, nem sei.
Gosto da janela da minha sala, porque nela tenho o mundo. O bairro foi crescendo e já não sei de todas as vidas. As que conheço, contemplo. As outras, imagino. Não, não tenho vocação para mexericar. Falo pouco dos outros, mas gosto de ver. E, quando vejo, percebo um mundo que é maior do que a minha dor.
Cultivei a beleza durante muitos anos e, ainda hoje, me ajeito como posso. Gosto de estar bonita como uma prova de gratidão ao universo. Sem excessos. Antônio era mais novo do que eu. E a mulher que me sucedeu mais jovem do que nós dois. Disse ele que não foi a idade, mas minha distância. Falou sobre histórias que ele mesmo criou. Pessoas criam histórias e nelas vivem. E nelas se emaranham e chega um dia que é difícil saber o que é real e o que é desejo.

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