sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

MITOMANÍACO




A mitologia, segundo o dicionário Michaelis, é uma "interpretação ingênua e simplificada do mundo e de sua origem". O mito, assim, é uma "pessoa ou um fato cuja existência, presente na imaginação das pessoas, não pode ser comprovada" ou mesmo uma "crença, geralmente desprovida de valor moral ou social, desenvolvida por membros de um grupo, que funciona como suporte para suas ideias ou posições".
É, por fim, "a representação de fatos ou de personagens distanciados dos originais pelo imaginário coletivo ou pela tradição que acabam por aumentá-los ou modificá-los".
Não à toa é chamado de mitomaníaco quem sofre com o hábito patológico de mentir.
Esse mito ganhou tração em um país que colocou a faixa presidencial em outro mito que, em sua fábula particular, prometia livrar o Brasil do comunismo, da corrupção, da má gestão, das ideologias e nos conduziria ao paraíso de águas límpidas e sem inundações onde seus eleitores viveriam harmoniosamente no estado de natureza (a que restou) defendendo a integridade de suas famílias fazendo arminha com a mão.
Esse mito, para ficar de pé, aparentemente não gosta de quem questiona medidas e desconstroem as interpretações ingênuas e simplificadas de mundo das versões oficiais.
Nessas versões de sonho e fantasia, nenhum aliado acusado de recolher salários de funcionários fantasmas precisa submergir enquanto espera uma pica do tamanho de um cometa explodir.
Nenhum miliciano que emprega a mãe e a mulher em gabinetes de aliados precisa morrer em troca de tiros com a polícia com medo de ser apagado como queima de arquivo.
Ninguém jamais vai contestar a competência dos membros da família para assumir cargos acima de sua capacidade diplomática e intelectual em embaixadas de prestígio.
Nem a capacidade técnica de ministros e aliados que só chegaram onde chegaram por puro alinhamento ideológico.
Ninguém precisaria mostrar quem, quando, onde e por que alguém promoveria a perversão em livros didáticos, escolas e programas de educação sexual.
O  olavobolsonarismo não gosta de ver sua mitologia contestada.
Não gosta porque em 400 dias como presidente seu mito maior deu 671 declarações falsas ou distorcidas, como mostra o trabalho jornalístico do coletivo Aos Fatos.
Não gosta porque sabe que o trabalho jornalístico bem feito e bem apurado é capaz de estourar os balões inflados que o fizeram chegar onde chegou.
Essa mitologia acaba de ganhar um novo "mito". E ele é tão real quanto uma nota de três.

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