terça-feira, 28 de maio de 2019

LEMBRANÇAS



Faz tempo que aconteceu. Mas até mesmo o tempo fica, quando o que fica nos faz bem.
Faz bem lembrar, revisitar o que fiz de bem. E o que ficou por fazer. Longe de mim a miragem da perfeição. O barro de que sou feito tem saliências, tem quebraduras, tem remendos. Mas está em pé, como deve ser. E caminha. Sempre caminhou.
Os nomes e apelidos estavam em nós. E os cumprimentos. E os encontros. Um bar ali onde exercitávamos a habilidade com as palavras e com o violão, uma feira com o vendedor de pastel, uma partida de futebol.
Havia um beco que guardava mistérios. Não sei por que me lembrei disso agora. Diziam que os mortos se encontravam ali. Eu, que nunca gostei de cemitério, evitava o beco.
Outras cidades e histórias surgiram na minha vida, naturalmente.
Sou respeitador do tempo e amigo das calmarias. Elas chegam, é só ter paciência.
Mudei-me para várias  cidades e voltei.  Em mim, permanecem várias histórias, que ainda me comovem. Lembro-me dos erros, certamente. E tento aprender. Mas o que emociona são histórias que a minha história ajudou a fazer.
Os segredos são importantes. Há muita pressa em revelações. Nunca disse segredos de outros a ninguém. Guardo o ensinamento. Aumentar a dor não é meu ofício. Nunca.
Nasci para os alívios, por isso gosto de envelhecer.
O passado não me atormenta e o futuro ainda existe.

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