quinta-feira, 8 de abril de 2021

Mas não é mesmo!!

 



E foi preciso uma eleição e uma pandemia para que eu percebesse que a própria religião, obviamente, não tem culpa do reacionarismo de boa parte dos seus adeptos, bem como da falta de discernimento político, da pouca afeição por leituras profanas (qualquer leitura não religiosa) - deixando a inteligência acorrentar-se tão somente à literatura dogmáticas e às edições do Jornal Nacional -, do apego exacerbado aos preconceitos da  classe social que alicerça o Brasil:  a classe média, que é "uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante", como já disse Marilene Chauí.

Uma parte assustadoramente considerável dos religiosos votou no verme fascista e, continuam a apoiá-lo. Foi preciso uma eleição e uma pandemia pra descobrir que uma parcela considerável de religiosos adoram fazer caridade, mas detestam justiça social. Foi preciso uma eleição e uma pandemia pra descobrir que relugiosos adoram montar cestas básica pra pobres, mas odeiam o bolsa-família. Além disso, não a oferta em silêncio, junto com um sorriso. É preciso fazê-los escutar toda sorte de preleção, com a desculpa infeliz de que Jesus também pregou antes de ofertar o pão e o peixe multiplicados. Quem tem fome, não quer escutar nada, não. Só quer ir pra casa com a cesta básica pra preparar o almoço da família, sentindo-se o menos humilhado possível, levando pra casa a cesta e o sorriso. Mais nada. A cesta básica dispensa, entre os seus itens, o tempero do proselitismo.

Acolhimento? 

Quantos pobres há nos templos frequentando, estudando,  e trabalhando? 

Não precisa responder, não. Foi uma pergunta retórica.

 Acolhimento mesmo, o pobre encontra, quase sempre, dentro das religiões salvacionistas ligadas ao protestantismo verdadeiramente cristão, lá ele se sente igual, lá ele tem uma função de peso para o grupo. Lá ele se sente importante, endomingado na sua melhor roupinha, recepcionando os que adentram ao templo, ou auxiliando na organização dos cultos.

Acolhimento mesmo, o pobre encontra, quase sempre, dentro da fé umbandista. Lá ele não é apenas um assistido, lá ele se vê nos seus pares; lá ele desempenha também uma função importante qualquer  para todo o grupo; lá lhe ofertam um atabaque -  Não é à toa que um padre meu amigo, disse ter visto mais amor nas centros do que nos templos -, lá ele é preto velho, lá ele é Pai Joaquim, ou outro preto velho qualquer,  tendo por trás e a seu serviço toda uma falange  de espíritos. Espíritos não têm religião. Vão para onde clamam o amor  e a dor.

Foi preciso uma eleição e uma pandemia pra que eu descobrisse o que talvez, sempre soubesse,  mas não  quisesse enxergar.

Católico,  jamais deixarei de ser, porque esta fé, contenta a minha inteligência, ainda que parca e claudicante. Só não sei ainda se quero voltar a  conviver com alguns Católicos debaixo  do mesmo teto religioso. Creio que o confinamento tem me trazido mais paz, do que trará uma possível convivência futura, em que em cada troca de olhar, uma voz interior, vinda lá das profundezas de minha alma, sussurrará baixinho de mim para mim:

"Eu sei em quem você votou na eleição passada."

"Foi seu voto que levou dor e luto a milhares de brasileiros."

"Foi seu voto que trouxe de volta a fome pro meu país".

Entre "a mansidão das pombas e a prudência das serpentes",  no momento atual, estou preferindo a prudência das serpentes, pedindo a Deus que a mansidão volte, um dia, ao meu coração lamentavelmente triste, "triste de não ter mais jeito", por essa tão triste constatação.

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