quinta-feira, 29 de abril de 2021

Sempre tive muita dificuldade de conviver com pessoas ridículas. Em regra, o ridículo não consegue se imaginar como tal e causa enorme constrangimento a todos. 

Existem pessoas que não conseguem aguentar a convivência com os ignorantes; outras com a burrice e  a prepotência. Para mim, ser ridículo é ser um pouco da fusão de todas essas “qualidades”.

Imagine que, no atual momento, o mundo inteiro está discutindo a melhor maneira de enfrentar a crise sanitária. Em todo o mundo, há uma corrente de solidariedade  com os infectados. Uma força que da quase totalidade das pessoas para o implemento das vacinas, pela queda do número de infectados, de manter um pensamento contra a dor, contra a solidão, contra o desespero da doença.

Consigo entender a emoção de quem conseguiu se vacinar. Principalmente num país onde o presidente da República optou por não comprar a vacina e investir na morte, por desprezar a Ciência.

Pensamentos contraditórios ficam cada vez mais evidenciados: temos os que lutam pela vida, respeitam as normas de prevenção  e os negacionistas, que pregam a morte, ao sadismo. Contra os fascistas, que desconhecem a empatia e a solidariedade, vou (vamos?) aos poucos me posicionando e cortando as relações, mostrando meu desprezo. A postura de enfrentamento das atitudes canalhas faz de mim (nós?) pessoas com maior comprometimento à dor, seja nossa ou do próximo.

Surge aquele que não tem noção do ridículo, o luxo é conseguir ser imunizado, pois o descaso criminoso do presidente da República faz com que faltem vacina, oxigênio e insumos. Onde a política assassina optou, numa decisão medíocre e criminosa, por não permitir a compra dos imunizantes, pelo que se sabe até agora, por ordem do irresponsável que ocupa a cadeira de presidente, o governo deixou de comprar, várias vezes, lotes de milhões de doses que foram oferecidas pelas empresas.

O enredo, se levado a sério, terminará com a destituição e prisão dos responsáveis.

No meio de todo esse inferno, um general da ativa, ministro da Casa Civil, numa reunião do Conselho da Saúde Suplementar, sem saber que estava sendo gravado, confessa para diversas autoridades que tomou a vacina escondido do presidente da República.

É ridículo! É triste! É a cara desse governo. Um general com medo de um capitão se escondendo de um gesto que deveria servir como exemplo. Não é o ridículo que me (nos?) deprime, é o simbolismo desse gesto. Um governo de pessoas que não se dão ao respeito. De adultos que precisam se esconder como crianças. Que deveriam dar o exemplo, talvez um dos poucos gestos dignos desse governo que cultua a morte: o ato de vacinar. Ao invés de exaltarem a imunização, que significa vida, têm que se esconder, envergonhados, pois senão contrariam o chefe.

Um gesto que representa a dimensão do fracasso humano do governo, do pântano moral no combate ao vírus. Representa a medida do comprometimento dos membros do alto escalão com uma política de combate à crise sanitária, do grau de preocupação  com os mais 400 mil mortos que não conseguiram ser vacinados. O exemplo de um governo que não se assume. Uma tristeza ver o compromisso dos responsáveis pelo enfrentamento da tragédia que se abate sobre nós.

Cada gesto covarde de não confrontar significa um apoio à política negacionista. Cada omissão, um número maior de vítimas. Vítimas da falta de solidariedade, de atitude, de gestos inequívocos. A falta de ar que tira a capacidade de resistir de quem não teve a oportunidade de vacinar e busca, desesperadamente, acesso aos hospitais, ao oxigênio é, também, fruto da falta de coragem e de vergonha de quem não tem, sequer, noção do ridículo.

Nesses tempos a poesia, nos da outra hipótese de sermos ridículos no poema: Todas as poesias de amor são ridículas. Não seriam poesias de amor se não fossem ridículas...

Mas, eu passei a acreditar que só as criaturas que nunca escreveram poesias de amor, é que são ridículas.

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