sábado, 5 de novembro de 2011

F I N A D O S

Finados é um dia complicado.Mesmo quando a gente não vai ao cemitério nem compra flores. É um dia de saudade. Saudade, claro, dos que já não vivem entre a gente.Mas sente, também, saudade dos vivos.Dos tempos e das emoções vividas. Das pessoas que foram decisivas na nossa infância ou adolescência e que, por um motivo qualquer, e que, muitas vezes a gente nem sabe direito, não convive hoje, no dia a dia. E estas pessoas não morreram, estão vivas. A gente pode ligar pra elas, procurar, retomar contato ou pelo menos tentar.Mas não tenta deixa pra amanhã, pra depois,pra uma hora melhor.
A gente tem, muitas vezes, saudade de coisas,de objetos, de descobertas,de sabores. E, quase sempre, esta saudade não tem solução nem quando a gente se vê, de novo, frente a frente com o objeto do desejo, da saudade. Porque o gosto não é mais o mesmo, o cheiro não é mais o mesmo e, às vezes, até mesmo a pessoa, objeto e
Sujeito da saudade,não é mais a mesma.Tampouco sou saudosista,do tipo “os velhos tempos é que eram bons”. Cada coisa boa é boa no seu tempo .Até porque agente não era,ontem,a pessoa que é hoje.Não sentia do mesmo jeito, não sabia avaliar como avalia hoje. Não falaria as mesmas palavras,não faria as mesmas perguntas, não riria das mesmas histórias,não sentiria saudades das mesmas coisas.Reli, esta
semana, Carlos Drummond de Andrade. Não nego que senti saudade da minha juventude,da minha aparência. Senti saudade do nosso poeta maior. A partir deste dia 31 de outubro de 2011, todo dia 31 de outubro(aniversário do poeta, ano que vem serão 110 anos) será o dia D.Odia dele, de Drummond.
O que Drummond diria, hoje não sei. Mas relemdo o que ele disse,em 1940, no livro ‘Sentimento do Mundo’, num poema chamado‘Mãos Dadas’.

“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito,vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher,de uma história,não direi os suspiros ao anoitecer,a paisagem vista da janela,não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria,do tempo presente,os homens presentes, a vida presente.“



Eu preparo uma canção em que minha mãe se reconheça, todas as mães se reconheçam, e se olhem com dois olhos.
Caminho por uma rua que passa em muitos Paises se não me vêem, eu vejo, e saúdo velhos amigos.
Minha vida, nossas vidas formam um so Diamante. Aprendi novas Palavras, e tornei outras mais Belas!


Drummond merece todas as homenagens mas a escolha não foi das mais felizes. Dia D, pelo menos para mim, lembra a maior carnificina da história, quando, em 1940, os aliados desembarcaram na Normandia,o fim da segunda guerra mundial (se houver a terceira não restará ninguém para contar).Milhares de soldados foram mortos ao desembarcar na França debaixo do fogo de artilharia nazista.
Minha sugestão:em vez de Dia D por que não Dia da Pedra?
Foi o poema que mudou a poesia brasileira (“Tinha uma pedra no meio do caminho”).

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