domingo, 17 de novembro de 2019

QUE NÃO SE TENHA PRESSA, MAS NÃO SE PERCA TEMPO



 

Faz quase nada que aprendi o significado desta palavra. Aprendi de ouvir. Tenho esta compreensão da vida: ouvir! Ouço o que me dizem, sem a pressa dos que muito sabem. Ou pensam que sabem. Ou, apressados que são, sequer pensam.
Eu ouço porque ouvir é amar. É se esvaziar de argumentos e aguardar os ditos de alguém até o fim. É amaciar o dia com a voz que precisa dizer. A voz que se enfeita com as palavras. Palavras que são retalhos de poder. Que ora embelezam, ora afugentam o dia. Dias fugidios são os que nos retiram de nós mesmos.
Acordei antes do dia. Só os olhos continuavam fechados. O resto se abria com palavras que iam se derramando sem economias. E que significavam coisas que ficaram por fazer.  Os dias passados continuam morando no dia em que estamos vivendo. E podem nos incomodar. Foi, então, que me lembrei do que ouvi de meu pai. “A literatura é a história dos sentimentos. Das expressões de amor e dor, dos encontros encomendados ou não, das palavras que ficaram guardadas em uma estante de receios e que não foram ditas. Dos desertos que têm sua finalidade. Mesmo que seja para valorizarmos a água que não é miragem e que mata nossa  sede”. Com sede, resolvi me levantar. Tomei alguma água. E me lembrei que ele me disse que “Recordar é voltar a passar pelo coração”, foi mais ou menos isso o que ele disse. "Re" vem de memória, e "cor" vem de coração. 
Dizia ele que os romanos achavam que a memória morava no coração e não no cérebro. Não sei onde mora a memória. Sei que, em algumas noites, ela rouba me descanso. E não me faz bem. 
Resolvi experimentar. Comecei, então, a recordar. E assim fui fazendo as pazes com os ontens. Sem muito esforço, me encontrei sorrindo. Notícias belas estavam em mim. Escondidas, talvez, em meio a tantos outros anúncios. Fui procurando. Meus filhos brincando de crescer, como hoje brinca meu neto. Um dia de sol em uma praia qualquer. Um pedido inesperado. Um luar. Lembrei de minha mãe e de seus textos de sabedoria, principalmente um que me marcou muito "O perfume sáo as asas da flor, assim como a poesia é o perfume do pensamento".  Tento com sucesso espantar o indesejável com momentos lindos que ainda vivem em mim. E, assim, me deito. E volto ao sono. E sonho um sonho bom. Chegam eles, filhos nora e neto cheios de amanhãs. Um meio sonado, outros mais falante. Até a chuva que anunciava que ficaria se foi, me recordando que sempre, escondido ou não, há sol.
E me desperto melhor .






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