sexta-feira, 20 de novembro de 2020

NEGRO

 



Eu sou negro

E, desde sempre, trabalhador. 

Já fui escravo, explorado,  açoitado,

Jogado dos navios ao mar pra morrer sem compaixão.

Passei fome, senti frio,

Dormi ao relento amarrado a um tronco,

O corpo sangrando do castigo das chicotadas.

Engoli meu choro muitas vezes,

Apanhei por nada 

Na escuridão. 

Passei algum tempo em uma espécie de solitária,

Tentei me matar na solidão. 

Não tive respeito nem dignidade,

Implorei pela vida,

Sem muita ilusão. 

Humilhado em todos os sentidos,

Fui tratado como um bicho raivoso,

Com correntes nos pés e pescoço, e cordas nas mãos. 

Eu sou negro,

E fui por muito tempo analfabeto, 

Perdi a conta das noites em que dormi no chão. 

Sem permissão de descanso ao terrível cansaço,

Suava e sofria as dores do horror. 

Pensava em fugir,

Mas não sabia pra onde.

Rezava e pedia para o meu Deus me levar.

Um dia, veio a liberdade. 

E livre nas ruas, não conseguia trabalho com remuneração justa.

Abandonado à própria sorte, buscava um abrigo em algum lugar. 

Maltratado no centro da cidade, o morro - a periferia - foi onde consegui me assentar.

Não há segurança para o negro, nem ontem nem hoje, mas um dia haverá. 

Não há relevância para as questões do negro,

Não há igualdade, mas um dia haverá. 

Sou humano negro na pele e na história,

Sou negro na luta pra esse dia chegar.

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