sábado, 21 de novembro de 2020

VIDAS NEGRAS IMPORTAM

 




Sim! Você foi brutalmente assassinado, em frente às câmaras, e diante de dezenas de pessoas que nada fizeram para evitar que isso acontecesse.

Sim! Elas ficaram ali assistindo tudo, omissas diante de tamanha covardia, filmando com seus celulares a injusta agressão. 

São todos igualmente culpados. 

A raiva com que aqueles dois seguranças expressaram ao te espancar até a morte revela um ódio que a história já nos fez conhecer: não é só racismo; é também nazismo, fascismo, bolsonarismo. É o produto da construção de uma educação para matar. 

É uma cena dura e doída de se ver. Uma cena que envergonha muitos de nós. Uma cena que causa, em muitos de nós,  Indignação e revolta. 

Morto na frente de sua esposa, pedindo socorro à ela, que foi impedida de ajudar, a cena é absurdamente cruel.

O retrato nu e frio da barbárie. A imagem de uma sociedade moralmente doente em que estamos nos transformando. 

Uma sociedade afastada das virtudes humanas e mergulhada em um mundo negacionista dos fatos como eles realmente são. 

Um país governado por dois indivíduos que ignoram o racismo estrutural e que criam outras teorias conspiratórias de que existem pessoas aqui - provavelmente, comunistas -  querendo importar culturas racistas de outras nações para cá, com fins de tomar o poder. Quanto delírio!

O que dizer de de tão patética declaração?

Quanta boçalidade manifesta para o mundo todo nos ridicularizar ainda mais! 

A sua morte dói bastante no peito daqueles que têm empatia, mas passa anestesiada no peito daqueles que são feitos de indiferença e desamor.

Você morreu sob tortura; sob uma tortura praticada por dois torturadores - esse tipo de gente homenageada por aquele que nega as evidências do racismo, e que se mantém protegido pelas instituições democráticas, que, para o mal do Brasil, não o põe pra correr da cadeira em que está sentado.

As imagens da violência praticada covardemente contra você até a sua morte jamais sairão das mentes daqueles que têm bons sentimentos e que defendem os direitos humanos e a justiça social.

A sua morte é mais um triste capítulo da nossa história. 

Imagino o sofrimento da sua família. E rezo pra que, de algum modo, a espiritualidade possa confortá-los e dar-lhes força para continuar a jornada, agora muito mais difícil. 

O seu nome não será esquecido: João Alberto Silveira Freitas. 

E a sua morte há de não ter sido em vão. 

Havemos de criar uma consciência coletiva pela paz e por um comportamento antirracista. 

Às vezes, a dor faz nascer a esperança.

E, às vezes, a esperança é o que nos faz renascer...


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