domingo, 25 de julho de 2021

REPERTÓRIO SENTIMENTAL

 


Eu sempre fui do tipo que atenta às pequenas coisas. Reparo no cheiro da roupa, em como os cachos do cabelo se emaranham uns nos outros no topo da cabeça, como a pele se comporta enquanto a toco, como os olhos se abrem ao cruzarem os meus, a respiração norma e lenta que precede o bom dia, a preguiça de levantar da cama quando o despertador toca, como é o primeiro sorriso da manhã. Acontece antes ou depois do café?

Alguns amores começam apressados, outros são calmaria, outros abrem a porta enquanto calçam o tênis, outros começam as manhãs com com frutas, torradas, tapiocas, café, e suco de laranja, outros não sentem fome, saciados pela própria existência.

O primeiro abraço é o prenúncio do que será levado pra junto do outro coração, muito ou pouco, intenso ou suave. Abraço casa ou abraço de tirar ar, abraço que acolhe ou abraço que recolhe?

Alguns pés caminham descalços e participam de alongamento, Yoga, acupuntura e meditação. Outros  se escondem em sapatos fechados e repetem o mesmo  percurso trabalho-casa tudo quanto é dia , os demais indicam caminhos que ainda não são conhecidos, na tentativa de ser chão.

Muitos amores moram na pele, maior órgão do corpo humano e baú de todo registro, desde a vida uterina até o desbotar do fôlego ao envelhecer. A pele é receptora das emoções, tradutora de desejos, território com seu próprio mapa.

Alguns se alimentam da imaginação. O amor sonhado que nunca chega e parece a névoa que evapora do filtro do café, e perfuma toda a casa, vapor que alimenta.

Muitos amores de passagem. Amores líquidos, tão frágeis quanto laços que enfeitamos presentes de Natal.  Mas, entre tantos formatos e tipos de amor, existe no repertório sentimental a capacidade de amar, que independe das definições ou convenções sociais. 

Amar é encontrar significado e transcender!

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