terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

CARNAVALISAR!

 


Primeiro apareceu um prefeito que não gostava de carnaval. No Rio? Como pode? Pois é, aconteceu. Nem na Avenida ele foi, fugiu da folia como o diabo da cruz, confundindo a fé de todos. Foi um aviso, mas, distraídos, não prestamos atenção. Depois o presidente que não gostava da vida, da gente, que virava a cara para a alegria. Um presidente que vivia pelo ódio e pelo confronto. As pessoas esqueceram a alegria, sobraram apenas raiva e ressentimento. Foram carnavais bem estranhos, com nuvens cinzas na política e na alma. Veio a pandemia: depois da queda, o coice. Não houve carnaval algum. Nada. O maior perigo era chegar perto do outro. O esperado, o considerado certo e decretado no calendário não veio. Só houve silêncio nas ruas, e o bloco do eu sozinho saiu triste em casa.


No ano passado o carnaval retornou, mas ainda culpado e hesitante. Não mais: com o alívio da democracia que sobreviveu, com a esperança de um país melhor, com o fim da pandemia, a alegria retorna às ruas. Por quatro dias, talvez uma semana, com sorte mais. Para as pessoas que esperaram anos pela chance de um descanso da alma, a redenção. Para quem aguentou sem folga o sapato, o chefe e os boletos, as merecidas férias de si mesmo. Volta a liberdade para o espírito.


A ausência nos mostrou que nada é garantido, só o presente é certo. O futuro, por sorte ou azar, não nos pertence. Aprendemos uma lição: o bloco que passa e vai embora, aquele que transborda prazer na existência, pode não retornar no ano seguinte. Não se pode deixar escapar. Descobrimos todos a urgência de aproveitar o aqui, o agora, e o já.


O carnaval chegou, está aí para levar embora a preocupação, o estresse e o baixo-astral. 

É hora de reabrir as janelas da vida.

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