domingo, 7 de junho de 2020

É INVERNO EM NOSSOS CORAÇÕES



O racismo é praga que não morre. É isso o que sinto nesse frio.
Há um indecoroso mundo dos que se vestem de uma pureza imunda e que se julgam superiores.
Não falo de ontem. Dos tempos de escravidão. Das lutas por direitos. Falo de hoje. O menino tinha 14 anos, quando teve seu futuro roubado por tiros de insanidade. O homem teve a respiração roubada por um joelho assassino comandado por um cérebro sem cérebro. Não poucas vezes, eles são parados para verificações. 
Quando um negro venceu as eleições, sorri o sorriso do verão. 
Os tempos de hoje são perigosos. Há líderes que pegam em armas para mostrar virilidade. Toscos irresponsáveis. As maiores armas que dignificam os humanos são a razão e o coração. Os dois não pensam, nem sentem, parecem não entender de humanidade.
Quem antes escondia o preconceito por vergonha de que outros soubessem, mas hoje, se acham no direito de revelar sua face sem face. Quem destampou essas loucuras? Fingem bondade. Uma distante bondade. Precisam deles, dos outros, mas os olham verticalmente. As escolas tem trabalhado temas que ajudam a compreender a convivência. Tem estudado pessoas e momentos que apresentaram a primavera aos viventes. Desabrocharam para o belo com Rosa Parks, Martin Luther King, Mandela, e tantos outros que permaneceram eretos. 
Eu tenho medo, sim. Gosto dos dias de outono em que o sol espanta algum frio. Gosto de sair  para passeios simples. Gosto de acompanhar o crescer do meu neto e de sonhar com futuros de paz. Todos temos o direito de viver em paz? Mundo perdido em que muitos gritam gritos surdos e muitos deitam em silêncio com medo ou com preguiça de agir. Não se trata deles. Quando vi a cena do homem negro pedindo ar, tive dor em cada pedaço de mim. Outros olham e nem prestam atenção. Um lampejo de esperança me aqueceu quando a filha de uma amiga, da mesma idade do meu filho, se mostrou indignada. Sofreu, também. "Covardia! Como pode um homem fazer isso com o outro? Ele não tem sentimentos?". Como agem os omissos? Não é com eles? Respondi: Sempre é com eles. Não há vários mundos. Há um só. 
Faz frio. Gostaria de viver uma outra estação. De dormir dentro de um abraço, e acordar com o barulho dos animais que brincam de cantar e de voar a liberdade, de meus cachorros soltos, livres. De tomar banho na mesma cachoeira que banha outras pessoas diferentes de mim. A água na nascente é pura. Como a liberdade sensata, que temos no "Quintal do Céu". Ser livre do ódio dos que estão nos governando.
Não é a cor, são os sentimentos que fazem a diferença entre nós e eles.

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