quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

SILÊNCIO A DOIS

 



Eu não preciso do tempo, porque sou eterno. Necessito, apenas, os mínimos espaços que há entre mim e seus braços.

A banalização das emoções e dos sentimentos são o que de pior poderia restar desta divisão que nos domina. A hipótese de separar pessoas tão próximas, como sendo a opção real ou imaginária durante a convivência diária quase forçada durante o confinamento.

A crise sanitária e o isolamento, quase um enclausuramento, estão cobrando agora uma outra conta: a relação entre as pessoas. A insustentável dureza de ser. Acompanho, com carinho relacionamentos em franco desmoronamento e muitas tristezas. Conexões antigas que deveriam mesmo ser resetadas. A coragem que brotou da mesmice diária e, de certa forma, foi libertária. Já era hora, quase tarde.

Mas o que a crise não diz — já que eu prefiro ressaltar a dor, que vira poesia — são os amores que se superam. Que se descobrem e se fortalecem. Os detalhes que foram preservados, os mimos acalentados e os desejos reciclados. Um certo companheirismo descoberto para o enfrentamento da barbárie juntos.

E o silêncio. A cumplicidade no silêncio a dois. A solidão dividida com calma e um envolvente amor. A descoberta da hora do toque e do respeito à distância, ainda que só imaginada. O nada se materializando. A desnecessidade de explicar. A cumplicidade na presença e na ausência.

A vida, minha vida, ouça o que é que fiz, (peço licença poética a Chico Buarque) enfim. Quando quiseram nos vencer pelo cansaço, isso de alguma maneira nos uniu. E o desejo ocupando o seu espaço com a volúpia natural, ora avassaladora, ora leve e profunda. Já era hora de deixar o amor fluir. Novamente, pedindo licença a Chico Buarque " No silêncio mentiroso, zeloso dos enganos" que não tivemos!

A resistência ao fascismo, de certa maneira, nos embruteceu. E, se nós cedermos a isso, teremos perdido. A única forma de vencermos a barbárie é assumindo o amor, revelando o respeito e nos deixando todos sermos bobos e leves. Quem no meio do caos se permitiu ser feliz está apto a salvar o mundo. Resta seguir tentando.

Como disse Fernando Pessoa:

"O amor, quando se revela, não se sabe revelar.

Sabe bem olhar pra ela, mas não lhe sabe falar."


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