sábado, 7 de maio de 2022

Assim é que se faz final feliz.

 

Julieta queria nada. Queria apenas ser a única coisa palpitante naquele coração. Tentava gritar que coração não serve de nada. Mas mesmo calejada e cansada de tanta paixão, mantinha a maldita bola na garganta. E eu insistia. Talvez achasse que um amor qualquer dissolvesse tudo. Mesmo que em sigilo.

Então mantivemos sigilosos e sem qualquer toque. Conversavamos apenas. Ouviamos estrelas e não dormiamos. Se auto-enganavamos de que aquela coisa toda crescente ia dar certo.

E a bola na garganta só crescia.

Eu Romeu tentei escrever poemas.

Ela Julieta riu-se inteira. Nem era possível conseguir qualquer rima boa.


Jamais nos tocávamos e evitávamos nos cruzar na rua. Ela Julieta dizia a eu Romeu que não poderia aguentar qualquer troca de olhar. A verdade era que não aguentariamos olhar sem toque. Mas eu Romeu insistia.

Então nos olhamos próximos e penetrantes. Um mundo inteiro cabendo naquele espaço sem beijo que se mantinha.

Eu Romeu dizia que ela Julieta era toda linda. Eu gostava de cada sorriso e ia me metendo na situação sem volta. Ela então avisava que envolvimento era coisa perigosa e acendia um alerta. Soava todos os alarmes. Gritava comigo.

Depois agradecia por tudo se manter em olhares e horários certos. Sabia que não poderia se conter se houvesse qualquer coisa de cheiro.

Romeu e Julieta então se viam volta e meia - por vontade própria. E mesmo sabendo da condição de não envolvimento, continuávamos nos vendo e inclusive nos tocando. Nos tocavamos com a boca mesmo. Com os dedos. Mordiamos pontas de orelhas. Nos machucavamos forte, mas nos mantivemos sólidos.

Ela mesmo não ia cair nem nada. Avisou que já tinha se metido em outras situações e a cada toque meu ia ficando com vontade de proximidade máxima. Queria até que eu a ninasse vez ou outra.

Então houve beijo.

Ela então precisava mais e mais de contato. Precisava muito de língua. Cada dia que passava, ela queria carne. E a bola de fogo continuava crescendo.

Estabelecemos um trato dos dias em que não poderiámos nos ligar.

Ela ficou se danando, queimando a pele, sentindo falta. Foi ficando inteira buraco e fogo.

Mas eu continuava insistindo e continuava encantado.

E ela disse não.

A falta mesmo, ela Julieta não queria. Nem três horas ela pode se aguentar sem eu Romeu. Ligou e disse que queria tudo. E eu mesmo nunca disse não.

Eu acreditava e ainda acredito ser imoral dizer não a ela. Então acumulávamos, munidos só de paixão.

Tentamos laços de amizade, inclusive. Mas a pele não deixava.

Então olhamos estrelas por mais alguns dias. Nos mantivemos juntos e conversamos sobre o mundo todo.

Fomos ficando encantados. Encantados com tudo. Eu dizia que não adiantava nada ela me abandonar, por que mistério sempre há de pintar por aí.

Até que nem tanto esotérico assim.

Romeu não largou nada.

Julieta pisou no orgulho.

Assim é que se faz final feliz.


Tudo dando certo no final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário