domingo, 30 de abril de 2023

Sinto Muito!

 



O senador da República pelo Partido Novo-CE, em plena sessão na Casa erguida para abrigar debates políticos de alto nível, ofereceu ao jurista e professor um objeto em forma de feto, num ativismo caricato e deplorável contra o aborto. Agiu sem respeito, sem razão, sem decoro. Desonrou o Senado, ofendeu o ministro e sua esposa, vilanizou brasileiras que têm, por lei, o direito de interromper a gestação e aquelas que militam pela descriminalização plena. Desde 1940, é permitido o aborto em caso de risco de vida à gestante ou estupro; desde 2012, por decisão do STF, de fetos anencéfalos.


Nunca foi fácil ser mulher no Brasil. Anda insuportável. Quando há percepção de avanço, a violência explode ferindo corpos e almas. A cidade, a política, as empresas são ambientes hostis. Há agressões objetivas materializadas em crimes e na desigualdade histórica, que dificulta o acesso ou invisibiliza as que chegam aos espaços de poder, em particular, se negras e indígenas e lésbicas e trans. Há a brutalidade de atos como os protagonizados pelos jogadores do Corinthians e pelo senador.


E há a violência nem sequer mencionada, porque o Brasil interdita o debate sob dimensões de gênero e raça. Quem acompanha não imagina que diz respeito, sobretudo, às mulheres o enfrentamento aos ataques e ameaças às escolas. São elas as mães responsáveis pedagógicas por suas crianças; são elas a maioria das professoras da educação básica. É sobre mulheres a política de segurança pública. São vítimas predominantes dos crimes sexuais, mas também são mães e mulheres dos jovens negros assassinados aos milhares em favelas e periferias Brasil afora. São delas as meninas e os meninos que perdem aula e consultas médicas em decorrência das operações policiais banalizadas no Estado do Rio. São elas que formam a massa mais numerosa de trabalhadores desempregados, informalizados, mal remunerados, endividados, responsáveis por famílias em situação de fome. Situações que precisam mudar.

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