quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Aquela música dos Tribalistas



Éramos jovens demais para compreender o que deveríamos ter compreendido. Abandonar as roupas que ontem nos enfeitaram para viver a responsabilidade de dividir. E foi assim que ela se foi, em um vento de medo que a levou. Promessas delicadas, entre beijos, foram esquecidas. Noites de amor permaneciam em mim, na memória que vivi ou que construí. Fantasias adolescentes que demoram a se desmanchar. Faz tanto tempo e eu ainda me lembro.
Fui atrás. Nos abraçamos e choramos juntos. Brinquei nos seus cabelos. Disse elogios. Falei dos encontros necessários. Dos sofrimentos que nós vivemos. Nos lembramos das falas da infância. Aquela música dos Tribalistas, 🎼"eu gosto de você,  e quero ficar com você, ...seu riso tão feliz contigo...🎼"Ela queria aliviar-me as dores. E, hoje, sou eu tentando abrir a porta. E ela me ouviu. Balançando negativamente a cabeça. E eu insisti que ela falasse. O que quisesse. A dor compartilhada tem mais chance de ir embora. Mas ela prosseguia falando para dentro, espantar o medo do amar? É preciso amar, "Qualquer forma de amor vale a pena", cantarolei.
Ela se aproxima do quarto e apenas olha, perguntando, sem dizer, se preciso de ajuda. Dizendo, agradeço. Ela se vai e fico. E vou calando palavras  para que ela compreenda que há vida fora das prisões que criamos. E que a chave não depende nem do corpo nem dos outros. Basta uma atitude, pelo menos para os inícios. Eu sei que vamos conseguir, foi o que eu disse. Eu sei que ainda haveremos de rir muito, juntos. Eu não sei como, eu não sei quando, mas eu sei que não vamos desistir. E, então, ela me abraçou por conta própria. E, depois, acariciou o meu rosto. E, depois, me avisou que iria tomar banho. E se levantou, cantarolando a música que lembrei. Não quero ser precipitado, mas alguma coisa acendeu em mim a esperança de que os dias que virão, depois de hoje, serão melhores.

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