quarta-feira, 6 de maio de 2020

Dia das mães em 2020



Chegava em casa, minha mãe me esperava, um fogaréu de gentilezas para me aquecer e iluminar.  Quanta saudade eu sinto de minha mãe! E as surpresas. E os dias com sabor de comida de mãe. A conversa longa. Os beijos e abraços sem pressa. Hoje, tudo é apressado. Ou melhor, era, antes da pausa.

Na infância, eu, eufórico, acordava antes do sol para esperar as festas. Esta semana, acordei antes também, mas de tristeza. A tristeza sempre foi minha companheira, mesmo em dias felizes. Sempre tive conversas comigo sobre as dores da humanidade e as minhas próprias, sobre a finitude e as bestialidades que corroem as pessoas.

Sou dos que se emocionam, dos que choram sem outras preocupações a não ser a da sinceridade. Sou dos que reconhecem as cicatrizes tantas que as feridas foram deixando de herança. Na minha alma, elas convivem, e convivem com o perfume dos amigos que fui conquistando. No ano passado, eles estavam comigo. Cantavam comigo canções de gratidão e de esperança. Sempre gostei dessas palavras que me remetem ao passado e ao futuro. Mas tenho receio, também. De viver olhando para trás ou esperando demais o que de mim não depende. Sei que é o presente que me deve atenção. E no presente  quero eternizar o que é efêmero.

Sempre imaginei que o meu aniversário também seria o dia das mães., e me imaginei indo ficar com minha mãe, que há muitos dias se recuperava em um hospital, como as mães de muitos. Nos olhamos como sempre. Brinquei com ela dizendo que as dores do parto já deviam estar incomodando; no dia seguinte, eu iria nascer. Ela sorriu, disfarçando a sua dor. Ela pediu que eu deitasse com ela. Eu sorri. Disse que não era possível. Ela explicou que, se eu estava dentro dela, poderia deitar. Tempos estranhos estes em que nem beijos singelos podemos dar. Brinquei com os seus cabelos, e esperei que ela adormecesse para partir. O Rudah, seu bisneto, que as vezes ela chama de Curumin, ficou com ela.

Na madrugada, eu estava com insônia. Não sou o único a sofrer nessa pausa. As cidades e suas ruas sem ninguém. As escolas, onde os futuros se abrem, sem ninguém. Mas ali estava eu, recebendo o meu aniversário em silêncio. O dia seria como todo dia. Gosto do dia com sabor de todo dia. Mas quando os que amamos podemos abraçar.

Nada de abraços. Nada de encontros desinteressados. A boniteza da amizade está na ausência de interesses. Nada de conversar com proximidade. As máquinas, que a humanidade inventou, estão sendo úteis.  Nos vemos ao longe. Enquanto minha mãe está no hospital, sendo cuidada por outras mães, desvalorizadas, agredidas, vilipendiadas pelos os desprovidos de empatia, passa o telefone pra ela. Então, na chamada, aparece o nome da minha mãe. Choro e rio.  E o dia melhora. Os vazios persistem e o dia piora. As lembranças ocupam bom espaço e  no ano que vem, minha mãe estará comigo em casa, e as mães que cuidam de outras mães, sendo respeitadas, estejam juntas aos seus filhos.

Uma das mães que que  cuidam de outras mães, me pergunta, o que estou pensando? Digo a ela: As mães quando os filhos ou netos estão internados, gostariam de os recolher para dentro do ventre e não os deixarem sair.  
Nos olhamos cúmplíces e em nossas faces, os olhos eram rios.  
FELIZ DIA DAS MÃES !

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