sábado, 9 de maio de 2020

Quintal do Céu, Início




Ela foi chegando como quem chega sabendo o que quer. E foi dizendo dizeres que se atropelavam de tanta alegria. Eu desconfio da alegria. Sou precavido. No silêncio do mundo, me aquietei para contemplar aqueles olhos pidonchos. 

E lá vem a descrição de algum paraíso da natureza. De onde o sol se comove com os que se  abraçam e fica até quando o dia avisa que tem que partir. Falamos das águas e de banhos. Do ir e vir, e dos sons, de pássaros que rasgam os céus explicando para onde se deve olhar. E disse dos amigos que já emaranhavam desejos com planejamentos.
Parei. Pensei. E disse nada.

Eu quero. E não sou dos que espanam a esperança. Vou adiante. 
No mais, conto histórias e brinco com ela de enfeitar o mundo de bondades. E fomos aprendendo a não exigir mais. E a sorrir com nossas pequenas incursões. Os passeios são no parque, na praça, na casa de nossos vizinhos, na quermesse. 
Nós cultivamos os mais lindos sentimentos, que vivem onde estamos. Não precisamos de paraíso e temos o sol  também, mesmo que parta. E também água, e também pássaros que voam e nos fazem olhar para o alto. 

Vou escolher o jeito de dizer. Vou olhar para dentro dela e buscar aceitação. Ficaremos por aqui, no quintal das nossas precariedades, com um pomar cheio de presenças. Há muitos que resolvem as ausências com presentes. Prefiro estar perto. Sempre. Contando quanto falta para o plantio florescer. Arrancando as pragas que aparecem e celebrando a estação das chuvas. E rindo das histórias engraçadas das gentes que moram por aqui. Nós dois gostamos de observar. É um jeito amoroso de saber que cada um tem o seu espaço de presença no mundo. 

No dia em que eu me for, histórias de mãos juntas não faltarão.

As lembranças moram nos sentimentos, não nas coisas. Encoste a sua cabeça no meu ombro, vou te contar uma história..

Nenhum comentário:

Postar um comentário