segunda-feira, 26 de outubro de 2020

PRA PROVAR QUE AINDA SOU TUA.

 


Olhou nos meus olhos, e o seu olhar era de adeus. Mais uma vez ele me deixa sem chão.

Mais uma vez enfrento a frase que, não poucas vezes, registrei: "Você desmoralizou".

"Você" sou eu. Um capacho das emoções precárias, uma rastejadora de afetos, um imploradora de atenções.

Quando termina e, nunca, sou eu quem termina, visto a roupa de valente e comunico aos que me conhecem que o fim é, enfim, definitivo. E, então, o bloqueio de mim. E respiro os alívios.

E, então, começo a buscar justificativas, que ouso chamar de racionais, para tentar novamente. Não com essa rapidez. Faço a auto promessa de que seremos apenas amigos e que é injustificável, depois de ditos de amor, ficarmos distantes. Desenvolvo teses internas de que há vários tipos de amor. E, então, me ponho a insistir com quem já deu avisos de que prefere não estar.

Ele se veste de soberba e diz 'não'. Eu prossigo em minha insana subserviência. Aceito qualquer exigência, imploro o perdão por uma falta que inventei, choro sem cerimônias. E, então, cacos de vida vão aborrecendo o chão de onde deveria brotar futuros. Há vida sem ele. Já expliquei a mim mesma, e já não compreendi. Uso silêncios quando estamos juntos. E, quando nos separamos, falo aos outros o que não falo a mim mesma.

Nas fases da valentia, logo após alguma separação, dele digo sem pestanejar. O quanto não me completa, o quanto é arrogante, o quanto é insensível. Falo de suas variações de humor, falo de seu pouco apreço ao amor. E concordam comigo os que me ouvem. Imploro, então, que me apresentem alguém. Tudo, menos a cama vazia. Tudo, menos o voltar para casa e encontrar o som de mim mesma.

Sei, por estudos, que sou caminhante errática em matéria de amor. Leio nos livros e nas conversas, quando estou atenta, que o que faço comigo é um desperdiçar de emoções maduras. Já disse a mim mesma que só quero quem não me quer. Que não valorizo, por alguma razão que desconheço, quem se faz a mim conhecer.

Rezo por uma história que suavize os meus dias. Talvez me falte ouvidos para ouvir o que peço nas rezas. Não sei. Só sei que ele está de volta. E, então, eu digo para mim mesma que a vida é curta. E que as variações de temperamento dão a temperatura correta de uma relação. Se não, seria o tédio. É o que eu digo para desdizer o que disse antes.

O que seríamos sem as contradições?

Ele está lindo, como lindo sempre esteve dentro de mim. Diz que aceita. Faz suas exigências. Eu aceito. Entro na solidão da casa em que agora ele está e sinto falta de mim mesma. O que posso fazer se não consigo?

Talvez o tempo, amigo displicente - pelo menos é o que penso, se não, teria ele cicatrizado as feridas que tanto me ferem -, um dia resolva vir em meu auxílio. E aí nos auxiliaremos juntos e respiraremos uma manhã sem medo, uma manhã vazia de machucaduras, uma manhã primaveril.

Enquanto isso não chega, compreenda e entenda, por favor, os meus invernos.

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