quinta-feira, 17 de março de 2022

Morrer não é nada; não viver é que é horrível!

 



Há vários motivos para ficar angustiado ultimamente: o rescaldo da pandemia, o medo da doença, a morte levando tantos(próximos e não próximos), o pavor da guerra, um governo que deixa o Brasil à deriva e destrói, todas as conquistas humanistas das últimas décadas. As mortes, a que mais me choca é a falta de rumo e de expectativa do refugiado durante guerra. Equiparável à fome, que hoje atinge 20 milhões de brasileiros.

Não consigo entender como uma família pode estar, numa noite, sentada à mesa em um jantar  fazendo planos sobre as banalidades rotineiras e, no outro dia, pela manhã, sob o impacto de bombas, todos têm que deixar o lar, em fuga, para tentar a sorte numa luta pela sobrevivência. É cruel e desumano. Esse interromper da vida é um enredo muito brutal. É muito mais duro do que o próprio fim da vida, pois é o fim de qualquer sonho.

Expectativa é de que a guerra levará à miséria algo em torno de 90% dos ucranianos. É impossível não ficar espantado nessa batalha televisionada ao vivo, é a ficção dos games de violência sendo superada pela realidade. O pavor passou a ser o nosso companheiro diário. Parte da mídia começa a mostrar o abismo humanitário no qual o mundo foi jogado.

O rapto de crianças para serem vendidas como escravos sexuais e os estupros que ocorrem representam um terror dentro do terror. Uma guerra à parte! A dissolução qualquer resquício de compaixão que ainda poderia existir. A expressão da falência do ser "humano" pode ser resumida na frase do deputado “bolsomarentista” referindo-se às ucranianas nas filas para fugir da guerra: “São fáceis porque são pobres”.  Dói. Assusta. Enoja e causa repugnância.

Um outro lado do impacto desse conflito sobre as pessoas. Uma matéria em Jornal que não me lembro qual, faz um relato sobre como o mundo reage à guerra midiática que mata “europeus louros e de olhos azuis”.

Ela informa que, em 20 dias da invasão à Ucrânia, a ONU já arrecadou mais doações do que todo o ano de 2021 para crises na África, na América Latina e na Ásia. Ela demonstra que, embora evidentemente os três milhões de refugiados ucranianos agradeçam a solidariedade! A mim, a seletividade  causa desconforto e incredulidade. 

Oss números: enquanto as doações para os refugiados da Ucrânia, em 15 dias, já se aproximam de 50% de tudo que a ONU solicitou como assistência emergencial, no mesmo período, a entidade recebeu apenas 3,5% do total de US$ 41 bilhões que serão necessários para socorrer 183 milhões de pessoas, em 63 países, que são vítimas de guerras, pobreza e desastres ambientais.

Tudo isso diz sobre o mundo em que vivemos. Sobre quem somos. Quando a ajuda é mensurada pela cor da pele e por questões geográficas e políticas, Isso me causa raiva, não os números; é sinal de que a humanidade perdeu todos os parâmetros. 

É a outra face da guerra: a que nos desnuda e que nos faz notar que uma venda caiu sobre os olhos das pessoas causando uma cegueira coletiva. Como uma máscara que não nos deixa respirar, perdemos a capacidade de reagir e de se indignar.

E a imagem dos refugiados andando sem rumo no frio, com sede e fome, talvez me choque tanto por saber que somos todos, de certa forma, refugiados em busca de um mundo no qual a solidariedade e a igualdade sejam a regra e, por isso mesmo, nem chamem atenção e nem virem notícia. Pobre de nós.

A melhor maneira de realizar sonhos é acordar. 

Vamos acordar para que nossos sonhos se realizem em Outubro 2022


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